quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A FÉ SEM EXPECTATIVA ESTÁ MORTA


Por A. W. Tozer


Expectativa e fé, embora semelhantes, não são a mesma coisa. Um cristão instruído não confundirá as duas.

A fé verdadeira jamais estará sozinha; ela sempre estará acompanhada pela expectativa. O homem que crê nas promessas de Deus espera vê-las cumpridas. Onde não existe expectativa, não existe fé.

Contudo, é bem possível existir a expectativa sem que exista a fé. A mente é perfeitamente capaz de confundir um forte desejo com a fé. Na verdade a fé, da forma em que é comumente entendida, não passa de um desejo combinado com um agradável otimismo. Alguns escritores conquistam bons lucros promovendo essa pretensa fé que se supõe criar um pensamento "positivo", em oposição à atitude mental negativa. Os seus ensinamentos são muito bem recebidos pelo coração daqueles afligidos por uma compulsão psicológica para crer, e que lidam com os fatos pelo simples expediente de não levá-los em conta.

A fé verdadeira não é formada do mesmo material de que são feitos os sonhos; antes ela é consistente, prática e totalmente realista. A fé vê o invisível, mas ela não vê aquilo que não existe. A fé ocupa-se com Deus, a grande Realidade, que deu e dá existência a todas as coisas. As promessas de Deus estão de acordo com a realidade, e qualquer que confia nelas entra num mundo real, e não fictício.

Na experiência normal, chegamos à verdade por meio da observação. Tudo o que se pode verificar por meio de experimentos é aceito como verdade. Os homens crêem nas informações dos seus sentidos. Se a ave caminha como um pato, parece um pato e emite sons como de um pato, então provavelmente é um pato. E se dos ovos que choca saem pequenos patos, praticamente se conclui o teste. A probabilidade dá lugar à certeza; essa ave é mesmo um pato. Essa é uma forma válida para lidar com nosso ambiente natural. Ninguém ousaria reclamar desse método, já que todos agem assim. É o jeito que lidamos com este mundo.

Mas a fé introduz um outro elemento em nossa vida, radicalmente diferente. "Pela fé entendemos" é a palavra que alça nosso conhecimento a um nível superior. A fé se ocupa com fatos que foram revelados do céu e que, por sua natureza, não reagem a testes científicos. O cristão conhece como verdade alguma coisa não porque a verificou por meio de alguma experiência, mas porque Deus a declarou. As suas expectativas nascem da sua confiança no caráter de Deus.

A expectativa sempre esteve presente na igreja nos tempos em que ela mais manifestou poder. Quando ela creu, ela esperou, e o seu Senhor jamais a desapontou. "Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lucas 1.45).

Todo grande mover de Deus na história, cada avanço incomum na igreja, cada reavivamento, foi precedido por um senso de forte antecipação. A expectativa sempre acompanhou as operações do Espírito. As Suas intervenções dificilmente surpreenderam o Seu povo, porque eles aguardavam com expectativa o Senhor ressurrecto e aguardavam confiantemente o cumprimento da Sua Palavra. As Suas bênçãos seguiam as suas expectativas.

Uma característica que é sintomática nas igrejas normais de hoje é a ausência de expectativa. Os cristãos, quando se reúnem, não esperam que aconteça nada fora do comum; em consequência, só acontece o costumeiro, e esse costumeiro é tão previsível como o pôr-do-sol. Uma mentalidade de não-expectativa impregna a reunião, uma quieta disposição de tédio que o ministro de várias formas tenta dissipar, meios esses que variam conforme o nível cultural da congregação e particularmente do próprio ministro.

Um recorre ao humor, outro apela para um assunto do momento que divide a opinião pública, como o uso de flúor na água, pena de morte ou a prática de esportes aos domingos. Outro, que talvez duvide de suas habilidades como humorista e que não esteja tão seguro quanto a que lado da controvérsia deve defender, tentará gerar expectativa no povo tratando de alguma programação futura: o churrasco dos homens, na próxima terça-feira; ou o piquenique e o jogo entre casados e solteiros, cujo resultado o alegre ministro modestamente se recusa a prever; ou o anúncio do lançamento de um novo filme religioso, cheio de sexo, violência e falsa filosofia, mas adoçado com insípida moralidade e frouxas sugestões de que a extasiada platéia precisaria nascer de novo.

Dessa forma, as atividades dos santos são estabelecidas por aqueles que se presume saberem melhor aquilo de que eles precisam. E esse procedimento, esse joguinho se torna aceitável até pelos mais piedosos, pela estratégia de adicionar no final algumas palavras de dedicação religiosa. Isso é chamado de "comunhão", embora se pareça pouquíssimo com as atividades dos cristãos de antigamente, a quem se aplicou primeiro a Palavra.

A expectativa do cristão, na igreja normal, segue o programa, não as promessas. As condições espirituais do momento, embora pobres, são aceitas como inevitáveis. O que vai acontecer é o que sempre aconteceu. Os cansados escravos da estúpida rotina julgam impossível esperar alguma coisa melhor.

Precisamos hoje de um novo espírito de antecipação que venha das promessas de Deus. Temos de declarar guerra à disposição de não-expectativa e temos de adotar uma fé infantil. Somente então poderemos outra vez experimentar a beleza e a maravilha da presença de Deus entre nós.

Extraído do livro “God Tells the Man Who Cares”, capítulo 32.

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