segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SÉRIE: O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO - PARTE 2


Por D. M. Lloyd Jones

Este "espírito de escravidão" sempre vem acompanhado de um espírito de temor. "Deus não nos deu o espírito de escravidão", escreveu Paulo aos gálatas, mas aqui ele o expressa assim: "Não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor". Bem, em que sentido isso produz um espírito de temor? Em primeiro lugar, tende a produzir um temor errado de Deus. Há um temor de Deus que é certo, e se o negligenciamos ou ignoramos, é para nosso próprio risco; mas há também um temor de Deus que é errado, é um temor covarde, um temor que traz consigo tormento. Creio que as pessoas que estamos considerando tendem a desenvolver esse tipo errado de temor. Olham para Deus como se fosse um capataz, consideram-nO alguém que está constantemente vigiando o que fazem para descobrir falhas e erros nelas e puni-las de acordo. Outras pensam em Deus apenas como um severo e distante legislador.

Entretanto, não é somente um temor de Deus, é também um temor da grandeza da tarefa. Tendo esboçado a tarefa para si mesmas, agora começam a temê-la. Por essa razão pensam que só podem viver a vida cristã se se segregarem do mundo, e que ninguém pode estar envolvido numa carreira ou profissão, e ainda viver a vida cristã. Torna-se então um temor e terror; elas passam a ter medo da tarefa. Essa é sua atitude para com a vida cristã. Não têm alegria porque a natureza gigantesca da tarefa enche-as de um espírito de temor, e estão constantemente perturbadas consigo mesmas, perguntando-se se realmente podem viver essa vida como ela deve ser vivida. Então, uma outra forma em que este espírito de temor se manifesta, é que essas pessoas têm a tendência de temer o poder do diabo de uma forma incorreta. É preciso qualificar cada uma destas declarações. Existe um temor do diabo que é certo. Encontramos isto mencionado na Epístola de Judas, e também na Segunda Epístola de Pedro. Há pessoas volúveis, espiritualmente ignorantes, que fazem piadas sobre o diabo simplesmente porque são completamente ignorantes a respeito dele e do seu poder. Mas, por outro lado, não devemos nos sujeitar a um temor covarde do diabo. As pessoas que estamos considerando sentem esse temor porque estão conscientes do seu poder. São pessoas espirituais — esta é uma tentação peculiar a algumas das melhores pessoas — e vêem este assombroso poder, o poder do diabo contra elas, e sentem medo.

Ficam igualmente apavoradas com o pecado que está dentro delas. Estão o tempo todo acusando a si mesmas, e falando sobre o pecado e a perversão do seu próprio coração. Aqui, novamente, precisamos manter o equilíbrio. O cristão que não está consciente de sua própria pecaminosidade e da perversão do seu próprio coração não passa de uma criança na fé cristã; na verdade, se ele não tem qualquer consciência disso, eu questiono se realmente é um cristão. Claramente, de acordo com as Escrituras, pessoas que não têm consciência de sua pecaminosidade, ou são principiantes ou nunca foram regeneradas. Mas isso é diferente de se ter um espírito de temor, e viver nesta condição em que a vida não passa de um "desprezo aos prazeres, e viver dias laboriosos".

Essa é a mensagem, e de acordo com o apóstolo ela opera de duas formas. A primeira é que, ao confrontar esta imensa e gloriosa tarefa de negar-me a mim mesmo, tomar a cruz e seguir o Senhor Jesus Cristo, eu entendo que devo andar neste mundo como Ele andou. Ao compreender que nasci de novo e fui transformado por Deus segundo a imagem do Seu amado Filho, e ao começar a perguntar: "Quem sou eu para poder viver assim? Como posso ter esperança de alcançar isso?" — aqui está a resposta, a doutrina do Espírito Santo, a verdade que o Espírito Santo habita em nós. O que isso ensina? Antes de tudo, faz-me lembrar do poder do Espírito Santo que está em mim.

O apóstolo já disse isso no versículo 13, onde ele trata da questão de como parar de viver na carne — "Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis". Aqui ele volta ao mesmo ensinamento: "Porque Deus não nos deu o espírito de temor". "Vocês precisam entender que não estão vivendo por suas próprias forças", ele diz a esses romanos. "Vocês estão pensando nesta tarefa como se tivessem que viver a vida cristã por si mesmos. Vocês sabem que foram perdoados, e podem dar graças a Deus que seus pecados foram apagados e lavados, mas parecem pensar que isso é tudo, e que foram deixados para viver a vida cristã por si mesmos. Se pensam assim", diz Paulo, "não é de espantar que estão vivendo sob um espírito de temor e escravidão, porque desse ponto de vista a coisa é totalmente sem esperança. Significa simplesmente que vocês têm uma nova lei, que é infinitamente mais difícil do que a velha lei. Mas esse não é o caso, porque o Espírito Santo habita em vocês". [...] A diferença essencial entre o homem natural e o cristão, é que o último tem o Espírito de Cristo habitado nele. Qualquer que seja a experiência que um homem teve, se ele não tem o Espírito de Cristo, ele não é um cristão: "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele".


Continua...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

SÉRIE: O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO - PARTE 1


Por D. M. Lloyd Jones


"Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados". Romanos 8:15-17

Palavras mais expressivas do que estas jamais foram escritas. Elas se sobressaem mesmo num grande capítulo como este, como uma expressão de verdade que é absolutamente única. É uma das declarações mais magníficas encontradas em todas as Escrituras, contudo não há nada mais importante sobre uma declaração como esta, do que compreender exatamente por que o apóstolo a fez. O perigo a respeito de certas frases impressionantes é que temos a tendência de nos contentar com as palavras, ou com uma impressão geral que elas exercem sobre nós; gostamos tanto delas que às vezes não compreendemos seu significado, e portanto não nos apropriamos verdadeiramente do ensino que elas visam nos transmitir.

Considerem esta grande afirmação. Por que Paulo a fez, qual era seu objetivo, qual foi sua razão para pronunciar estas palavras? A resposta nos é dada no versículo quinze: "Porque", diz o apóstolo, "não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor". Em outras palavras, a declaração está ligada a algo que foi dito antes, e o apóstolo tem um objetivo muito definido ao escrever estas palavras: ele está ansioso por livrar estes cristãos romanos de um espírito de desencorajamento — de um espírito de abatimento ou depressão. talvez eles estivessem realmente sofrendo disso no momento, mas mesmo que não estivessem, ele quer se certificar de que não venham a sofrer disso, e seu alvo é prover um antídoto contra a depressão, contra esse espírito de escravidão, esse espírito de derrota, esse espírito de desencorajamento que, como já vimos, está sempre nos ameaçando em nossa vida cristã.

O apóstolo não faz uma declaração tão magnífica sem um contexto, não é apenas uma verdade maravilhosa emitida subitamente. Ela aparece — como tais declarações quase invariavelmente surgem nos escritos do grande apóstolo — num momento em que ele está tratando de um problema bem prático. Estas epístolas que temos no Novo Testamento estão repletas de doutrina e teologia, e no entanto seria errado dizer que a coleção de epístolas do Novo Testamento é um compêndio de teologia. Não é. O fato estupendo é este, e é importante mantê-lo em mente, essas declarações e doutrinas sempre são apresentadas com algum objetivo prático em vista, e com o elemento pastoral sempre em proeminência. Estas epístolas são cartas pastorais escritas principalmente porque o apóstolo se preocupava em ajudar as pessoas a alcançar real alegria e vitória na fé cristã, a qual haviam aceito e crido.

Portanto, é imprescindível observar exatamente como ele veio a fazer esta declaração. Qual era a causa de desânimo nesta situação? Nada menos que o problema de viver a vida cristã, o problema, se preferir, de tratar com o pecado. Paulo começou a tratar desse problema no início do sexto capítulo desta grande epístola, e ainda está tratando dele aqui. As pessoas a quem ele está escrevendo tinham sido convertidas e creram no Senhor Jesus Cristo, mas agora estão enfrentando o problema de viver esta nova vida que receberam, num mundo que as antagoniza e que se opõe inteiramente a elas. Também têm de vivê-la em face de certas coisas que encontram em sua própria natureza. É uma luta, é uma batalha; há pecado do lado de fora, e há pecado por dentro, e aqui temos pessoas que querem seguir o Senhor Jesus Cristo e viver da forma como Ele viveu neste mundo. E muitas vezes é quando enfrentamos essa questão e esse problema que o desânimo e a depressão tendem a surgir. Já consideramos muitos exemplos dos vários meios que o diabo, em sua sutileza, usa para nos desencorajar. Este, novamente, é um meio muito comum, especialmente quando a pessoa é conscienciosa, e leva muito a sério a fé cristã, o tipo de pessoa que não diz: "Agora sou convertido, e tudo está bem", mas aquela que diz: 'Esta é uma vida extraordinária e gloriosa, e devo vivê-la". Estamos considerando aqui a tentação peculiar que assedia tais pessoas.

Qual é a essência deste problema? É que elas falham em compreender certas verdades em relação à vida cristã, falham em compreender o que é possível para nós, como cristãos. Em última análise, é uma falha em entender doutrina ou, se preferirem, é em última análise mais um fracasso no domínio da fé. Vimos uma série de coisas com respeito à : vimos, por exemplo, que ela deve ser ativa. Muitas pessoas se esquecem disso, e acabam tendo problemas, porque não compreendem que devem colocar sua fé em ação. Então vimos que outros têm problemas porque não percebem que devem continuar e persistir na aplicação da fé, que não basta começar bem, porém que precisamos prosseguir, e não podemos relaxar nem por um momento.

Mas aqui o problema parece ser um fracasso em compreender que a fé deve ser apropriada, que devemos tomar posse dela. Aqui está a verdade colocada diante de nós, mas se não tomarmos posse dela, ela não nos será útil. A falha em compreender isso é uma das coisas mais incríveis sobre o homem, como resultado do pecado. Todos já devemos ter percebido isso. Acaso já se acharam lendo uma passagem das Escrituras que haviam lido muitas vezes antes, e pensavam conhecer bem, e de repente ela se torna viva e fala com vocês de uma forma que nunca fez antes? Todos por certo tivemos esse tipo de experiência muitas vezes. Como é fácil ler as Escrituras e dar uma espécie de assentimento formal à verdade, sem nunca nos apropriarmos do que ela está dizendo!

Creio que essa é a essência deste problema específico que estamos considerando aqui, pois sempre tende a produzir o que o apóstolo chama de "espírito de escravidão" — "não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor". O que ele quer dizer com "espírito de escravidão"? Ele está falando do perigo de ter um "espírito de servo", um espírito e uma atitude de escravo. A atitude de escravo em geral surge de uma tendência de tornar a vida cristã, ou o viver a vida cristã, numa nova lei, numa lei mais alta, superior.

Estou pensando em pessoas que estão bem esclarecidas em seu relacionamento com a lei — os Dez Mandamentos, ou a lei moral — como um caminho de salvação. Viram claramente que Cristo as libertou disso, e que somente Ele poderia fazer isso; sabem que seus próprios esforços jamais as capacitaram a cumprir a lei. Entendem que Cristo nos libertou da maldição da lei; não têm qualquer dúvida quanto à sua justificação. Entretanto, agora começam a olhar positivamente para a vida cristã, e de uma forma muito sutil — sem ter qualquer consciência disso — tornam-na num novo tipo de lei, e como resultado caem num espírito de escravidão e de cativeiro.

Pensam na vida cristã como uma grande tarefa a que têm que se empenhar, e à qual devem se dedicar. Leram o Sermão do Monte e compreendem que é um retrato da vida cristã, a vida que desejam viver. Voltam-se para outros ensinamentos do Senhor registrados nos Evangelhos, e vêem a mesma coisa. Então examinam as Epístolas, e lêem aquelas instruções minuciosas dadas pelos apóstolos, e dizem: "Essa é a vida cristã". E tendo chegado a essa conclusão, consideram-na algo que deve ser assumido e colocado em prática em suas vidas diárias. Em outras palavras, santidade se torna uma pesada tarefa para elas, e começam a planejar e organizar suas vidas e a incluir certas disciplinas que as capacitem a prosseguir. Esta atitude pode ser vista, de forma clássica, na igreja católica romana e em seus ensinos, em toda a idéia do monasticismo, que é nada mais do que uma grande expressão disto que estamos considerando. Vemos ali homens e mulheres que, sendo confrontados pela verdade cristã, dizem: "Obviamente, a vida cristã é uma vida nobre e sublime, e se alguém vai vivê-la com sucesso, deve se dedicar integralmente a isso". Indo ainda mais longe, dizem: "Não se pode fazer isso, e ainda continuar exercendo uma profissão, ou mesmo continuar vivendo no mundo. É preciso segregar-se do mundo, abandoná-lo completamente". E fazem isso. Essa é a forma extrema dessa idéia de santidade, de que cultivar santidade e a vida espiritual é uma ocupação de tempo integral, e que é necessário devotar-se a ela exclusivamente, e ter regulamentos e outras coisas para ser capaz de vivê-la.


Continua...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

SÉRIE FOME POR DEUS - PARTE 3 - O JEJUM


Por Hernandes Dias Lopes

As escrituras enfatizam também o jejum como um importante exercício espiritual. Se desejarmos pregar com poder, o jejum não pode ser esquecido em nossa vida devocional. O jejum está presente tanto no Antigo como no Novo Testamento. Os profetas, os apóstolos, Jesus e muitos homens de Deus como Agostinho, Lutero, Calvino, John Knox, Wesley, Charles Finney, Moody e outros mais através da história, experimentaram bênçãos espirituais através do jejum. Erroll Hulse citando Martyn Lloyd Jones diz que “os santos de deus em todos os tempos e em todos os lugares não somente creram no jejum, mas também o praticaram”.

Há um apetite por Deus em nossas almas. Deus colocou a eternidade em nossos corações e somente Ele pode satisfazer essa nossa necessidade. Se você não sente fortes desejos pela manifestação da glória de Deus, não é porque você tem bebido profundamente dos mananciais da Deus e está satisfeito. Pelo contrário, é porque você tem buscado saciar a sua alma nos banquetes do mundo.

John Piper define jejum como fome de Deus. De acordo com Piper, o maior inimigo da fome de Deus não é o veneno mortífero, mas uma torta de maçã. O maior adversário do amor de Deus não são seus inimigos, mas seus dons. E os mais mortíferos apetites não são pelos venenos do mal, mas pelos simples prazeres da terra (Lc 8.14; Mc 4.19). “Os prazeres desta vida” e os “desejos por outras coisas” não são mal em si mesmos. Não são vícios. São dons de Deus. Mas todos eles podem tornar-se substitutos mortíferos do próprio deus em nossas vidas. O jejum revela o grau de domínio que o alimento tem sobre nós. O jejum cristão é um teste para conhecermos qual é o desejo que nos controla. Richard Foster afirma:

Mais do que qualquer outra disciplina, o jejum revela as coisas que nos controlam. O jejum é um maravilhoso benefício para o verdadeiro discípulo que deseja ser transformado na imagem de Jesus Cristo. Muitas vezes encobrimos o que está dentro de nós com comida e outras coisas.

Martyn Lloyd Jones, na mesma linha de pensamento, ensina que o jejum não pode ser entendido apenas como uma abstinência de alimento e bebida. Segundo ele, o jejum também deve incluir abstinência de qualquer coisa que é legítima em si mesma por amor de algum propósito espiritual.

O propósito de jejum NÃO é obter o favor de Deus ou mudar a sua vontade (Is 58.1-12). Também não é para impressionar os outros com uma espiritualidade farisaica (Mc 6.16-18). Nem é para proclamar a nossa própria espiritualidade diante dos homens. Jejum significa amor a Deus. Jejuar para ser admirado pelos homens é uma errada motivação para fazê-lo. Jejum é fome pelo próprio Deus e não fome por aplausos humanos (Lc 18.12). É para nos humilharmos diante da Deus (Dn 10.1-12), para suplicarmos a Sua ajuda (2 Cr 20.3; Es 4.16) e para retornarmo-nos para Deus com todo o nosso coração (Jl 2.12-12). É para reconhecermos a nossa total dependência da proteção divina (Es 8.21-23). O jejum é um instrumento para fortalecer-nos com poder divino, em face dos ataques do inferno (Mc 9.28-29).

Deus tem realizado grandes intervenções na história através da oração e do jejum de seu povo. Quando deu a lei para o seu povo, Moisés dedicou quarenta dias a oração e ao jejum no monte Sinai. Deus libertou Josafá das mãos dos seus inimigos quando ele e seu povo humilharam-se diante do Senhor em oração e jejum (2 Cr 20.3- 4, 14-15, 20-21). Deus libertou o seu povo da morte através da oração e jejum da rainha Ester e do povo judeu (Es 4.16). Deus usou Neemias para restaurar Jerusalém quando este orou e jejuou (Ne 1.4). Deus usou Paulo e Barnabé para plantar igrejas no Império Romano quando eles devotavam-se à oração e ao jejum (At 13.1-4).

John Piper comenta que a oração e jejum resultaram num movimento de missões que arrancou o cristianismo da obscuridade para ser a religião dominante do Império Romano em dois séculos e meio, e hoje calcula-se que temos cerca de um bilhão e trezentos milhões de seguidores da religião cristã, com cristãos testemunhando em todos os países do mundo. Infelizmente, o jejum é um grande tesouro espiritual negligenciado pelos cristãos contemporâneos.

Os homens têm amado os dons de Deus mais do que o próprio Deus. Eles tem mais fome dos dons de Deus do que de Deus. Jejum não é fome das bênçãos de Deus, mas é fome do próprio Deus. John Piper diz que o jejum cristão, nasce exatamente da saudade de Deus. Ele escreve:

“Nós glorificamos a Deus quando o preferimos acima dos seus dons... Nós nos enganamos ao dizermos que amamos a Deus, mas se somos testados revelamos o nosso amor apenas por palavras e não por sacrifício... Eu realmente tenho fome de Deus? Realmente tenho saudade de deus? Ou estou satisfeito apenas com os dons de Deus?”

Devemos comer e jejuar para glória de deus (I Co 10.31). Quando nós comemos, saboreamos o emblema do nosso alimento celestial, o Pão da Vida. E quando jejuamos, dizemos, “eu amo a realidade acima do emblema”. O alimento é bom, mas Deus é melhor. “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Jesus disse, “tenho algo para comer que vocês não conhecem” (Jo 4.32). Em Samaria, Jesus satisfez sua vida não com o pão da terra, mas com o pão do céu. Deus mesmo foi o seu alimento. Isto é jejum: intimidade com Deus. A comunhão com Deus deve ser a nossa mais urgente a apetitosa refeição.

John Piper sintetiza esta gloriosa realidade assim:

“Quanto mais profundamente você anda com Cristo, mais faminto você se torna dEle... mais saudade você tem do céu... mais deseja a plenitude de deus em sua vida... mais anseia pela vinda do noivo... mais aspira que a igreja seja reavivada e revestida com a beleza de Jesus. Mais você anseia por um profundo despertamento da realidade de Deus em nossas cidades... mais deseja ver a luz do evangelho da glória de cristo penetrar nas trevas dos povos ainda não alcançados... mais deseja ver as falsas filosofias do mundo sendo vencidas pela verdade... mais deseja ver a dor sendo vencida, as lágrimas enxugadas e a morte destruída... mais anseia ver as coisas erradas sendo feitas corretamente e a justiça e a graça de Deus enchendo a terra como as águas cobrem o mar”.

Nós vivemos em uma geração cujo deus é o estômago (Fl 3.19). Muitas pessoas deleitam-se apenas nas bênçãos de Deus e não no Deus das bênçãos. O homem tem se tornado o centro de todas as coisas. Todas as coisas são feitas e preparadas para o prazer do homem. Mas o homem não é o centro do universo, Deus é. Todas as coisas devem ser feitas para a glória de Deus. Deus deve ser a nossa maior satisfação. Quem jejua tem mais fome do pão do céu do que o pão da terra. Quem jejua tem mais saudade do Pai do que de suas bênçãos. Quem jejua confia mais no poder que vem do céu do que nos recursos da terra. Quem jejua confia mais nos recursos de deus do que na sabedoria humana. Verdadeiramente, se desejamos ver poder no púlpito, se desejamos ver pregações ungidas e cheias de vigor, se ansiamos ver o despertamento da igreja e o seu crescimento numérico, precisamos, então, de pregadores que sejam homens santos e piedosos, homens de oração e jejum.


Retirado do livro "Piedade e Paixão".

terça-feira, 4 de outubro de 2011

SÉRIE FOME POR DEUS - A ORAÇÃO - PARTE 2


Por Hernandes Dias Lopes

Todos os pregadores usados por Deus foram homens de oração: Moisés, Samuel, Elias, os apóstolos e, acima de tudo, Jesus, nosso supremo exemplo. O evangelista Lucas escreveu seu evangelho para os gentios mostrando Jesus como o homem perfeito. Lucas, mais que qualquer outro evangelista, registrou a intensa vida de oração de Jesus. No rio Jordão Jesus orou e o céu se abriu. O Pai confirmou o seu ministério e o Espírito Santo desceu sobre Ele (Lc 3.21-22). Cheio do Espírito Santo, Jesus retornou do Jordão e foi conduzido ao deserto, onde por quarenta dias jejuou e orou, triunfando sobre as tentações do diabo (Lc 4.1-13).

Para Jesus a oração era mais importante do que o sucesso no ministério. Quando a multidão veio ouvi-lo pregar, foi para um lugar tranqüilo e solitário para orar (Lc 5.15-17). “Diferentemente de alguns pregadores de hoje, Jesus maravilhosamente entendeu que a oração deveria ocupar um lugar prioritário em seu ministério e em sua agenda”. Jesus escolheu os seus discípulos depois de uma noite inteira de oração (Lc 6.12-16). Foi preparado para enfrentar a cruz através da oração (Lc 9.28-31). Jesus orou no jardim do Getsêmani, derramando seu próprio sangue para realizar a vontade de Deus (Lc 22.39-46). Orou também sobre a cruz, abrindo a porta do céu para o penitente e arrependido malfeitor crucificado ao seu lado direito (Lc 23.34-43). Jesus está orando em favor do seu povo junto ao trono de Deus e irá interceder por ele até a sua segunda vinda (Rm 8.34; Hb 7.25). A vida de Jesus é o supremo exemplo que temos sobre oração.

O mesmo Espírito de oração que estava sobre Jesus foi derramado sobre os discípulos na festa do Pentecoste. Então, eles passaram a orar continuamente. James Rosscup comenta:

“A oração foi um dos quatro princípios básicos dos cristãos (At 2.42)... Os crentes oraram de forma regular e sistemática (At 3.1; 10.9) bem como nos momentos de urgência. Pedro e João foram modelos de oração. Eles foram o canal que Deus usou para a cura do homem paralítico (At 3.7-10). Mais tarde, oraram com outros irmãos para que Deus lhes desse poder para testemunhar com ousadia (At 4.29-31); uma oração que Deus respondeu capacitando-os a enfrentar com galhardia seus inimigos. Eles foram revestidos de poder, tornaram-se profundamente unidos e se dispuseram a dar suas próprias vidas pelo evangelho. Mais tarde, os apóstolos revelaram a grande prioridade de suas vidas, quando decidiram: ‘quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra’”.

Os maiores e mais conhecidos pregadores da história foram homens de oração. João Crisóstomo, Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, João Knox, Richard baxter, Jonathan Edwards e muitos outros. Charles Simeon, uma reavivalista inglês, devotava quatro horas por dia a Deus em oração. John Wesley gastava duas horas por dia em oração. John Fletcher, um clérigo e escritor inglês, marcava as paredes do seu quarto com o hálito das suas orações. Algumas vezes, ele passava a noite toda em oração. Lutero dizia: “se eu fracassar em investir duas horas em oração cada manhã, o diabo terá vitória durante o dia”. David Brainerd dizia: “Eu amo estar só em minha cabana, onde posso gastar muito tempo em oração”.

John Wesley fala-nos em seu jornal sobre o poder da oração comentando sobre o dia solene de oração e jejum a que o rei da Inglaterra convocou a nação em razão da ameaça de invasão da França:

“O dia de jejum foi um dia glorioso, tal como Londres raramente tinha visto desde a restauração. Todas as igrejas da cidade estavam superlotadas. Havia um senso de profunda reverência em cada rosto. Certamente Deus ouviu as orações e deu-nos vitória e segurança contra os inimigos”.

Uma nota de rodapé foi acrescentada mais tarde, “o quebrantamento e humildade do povo diante de Deus tranformou-se em um regozijo nacional, visto que a ameaça da invasão pela França foi afastada”.

Charles Finney dedicou-se a vigílias especiais de oração e jejum. Pregando depois de muita oração, viu Deus trazendo grandes bênçãos para o seu ministério. Ele estava profundamente convencido sobre a importância da oração.

“Sem oração você será tão fraco quanto a própria fraqueza. Se perder o seu espírito de oração, você não poderá fazer nada ou quase nada, embora tenha o dom intelectual de um anjo”.

Charles Spurgeon diz que ninguém está mais preparado para pregar aos homens do que aqueles que lutam com Deus em favor dos homens. Se não prevalecermos com os homens em nome de Deus, devemos prevalecer com Deus em favor dos homens.

Spurgeon via as reuniões de oração das segundas-feiras no Tabernáculo Metropolitano de Londres como o termômetro da igreja. Por vários anos uma grande parte do principal auditório e primeira galeria estavam completamente cheios nas reuniões de oração. Na concepção de Spurgeon, a reunião de oração era “a mais importante reunião da semana”. Ele atribuiu o sinal da benção de Deus sobre o seu ministério em Londres á fidelidade do seu povo orando por ele.

Dwight L. Moody, fundador do Instituto Bíblico Moody, normalmente via Deus agindo com grande poder quando outras pessoas oravam pelas suas reuniões na América e além mar. A. R. Torrey pregou em muitos países e viu grandes manifestações do poder de Deus. Ele disse: “ore por grandes coisas, espere grandes coisas, trabalhe por grandes coisas, mas acima de tudo ore”. A oração é a chave que abre todos os tesouros da infinita graça e poder de Deus.

Robert Murray McCheyne, grande pregador escocês, exortava sempre o seu povo a voltar-se para a Bíblia e para a oração. Como resultado, mais de trinta reuniões de oração aconteciam semanalmente na igreja de Dundee, Escócia, cinco das quais eram reuniões de oração das crianças.

No ano de 1997, juntamente com oitenta pastores brasileiros, visitei a Coréia do Sul, para fazer uma pesquisa sobre o crescimento da igreja. Visitamos onze grandes igrejas em Seul – igrejas locais entre dez mil e setecentos mil membros. Em todas essas igrejas testificamos que a principal causa do crescimento foi a intensa vida de oração. Nenhuma igreja evangélica pode ser organizada lá sem que antes tenha uma reunião diária de oração de madrugada. O seminarista que faltar a duas reuniões de oração de madrugada durante o ano, não sendo por motivo justificado, não serve para ser pastor. Quando perguntei a um pastor presbiteriano por que eles oravam de madrugada, ele me respondeu que em todos os lugares do mundo as pessoas levantavam-se de madrugada para ganhar dinheiro e cuidar dos seus interesses. Eles levantam-se de madrugada para orar porque Deus é prioridade na vida deles. Visitamos a Igreja Presbiteriana Myong Song, a maior igreja presbiteriana de Seul com mais de cinqüenta e cinco mil membros. Aquela igreja tem quatro reuniões diárias de oração pela manhã. Em todas elas o templo fica repleto de pessoas sedentas de Deus. A sensação que tivemos numa dessas reuniões foi de que o céu havia descido à terra.

John Piper comenta sobre a igreja coreana:

“Nos últimos anos do século vinte, jejum e oração têm quase se tornado sinônimo das igrejas da Coréia do Sul. E há uma boa razão para isto. A primeira igreja protestante foi plantada na Coréia em 1884. Cem anos depois havia trinta mil igrejas na Coréia. Uma média de trezentas novas igrejas foram plantadas a cada ano nestes cem anos. No final do século vinte, os evangélicos já representam cerca de trinta por cento da população. Deus tem usado muitos meios para realizar essa grande obra. Entrementes, os meios mais usados por Deus têm sido a oração e o jejum”. Thom Rainer fez uma pesquisa entre quinhentas e setenta e seis igrejas batistas dos Estados Unidos e concluiu que a oração é apontada como o fator mais importante depois da pregação para o crescimento da igreja. “Próximo de setenta por cento das igrejas colocaram a oração como um dos principais fatores para o seu êxito evangelístico. Exceto as igrejas entre 700 e 999 membros, pelo menos sessenta por cento das igrejas de todos os tamanhos identificaram a oração como o principal fator de crescimento da igreja”.

Continua...