segunda-feira, 18 de julho de 2011

A FONTE DA LUZ


Por T. S. Watchman Nee
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De Onde Vem a Luz?

Em primeiro lugar, Cristo é nossa luz. "De novo lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário, terá a luz da vida" (João 8:12). O Senhor Jesus é a luz. À medida que nos aproximamos dele, vemos a luz. Quão freqüentemente imaginamos não haver nada errado, mas quando trazemos o fato ao Senhor e pedimos-lhe que nos revele a verdade, percebemos quão errado está. Dia após dia, ficamos a imaginar que está tudo bem, até que nos aproximamos do Senhor e descobrimos nossa falha. Pois a avaliação é nossa própria medida, enquanto a outra é a medida de Deus. Se o cristão não orar ardentemente,
pedindo ao Senhor que lhe revele sua verdadeira condição, é quase certo que nove vezes em dez ele vai fazer o que é errado. Quanto mais a pessoa se aproximar de Deus, mais receberá a luz divina.

Segundo, a Palavra de Deus é a luz. "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos... A revelação das tuas palavras esclarece" (Salmo 119:105, 130). Provavelmente conheçamos de sobra esses dois versículos; mesmo assim, se meditarmos neles diante de Deus, perceberemos quão profundos são. Quanto ao caminho que escolhemos, é o homem ou é Deus que diz que estamos bem? A obra da carne não pode se esconder da luz de Deus. Não o que as pessoas dizem, mas o que diz a Palavra de Deus. O certo e o errado não são determinados diariamente por nosso sentimento; antes, tem de ser decidido pela Palavra divina. A conclusão não deve ser nossa; pelo contrário, deixemos que a Palavra de Deus julgue a questão. Coloquemo-nos diante de sua Palavra e permitamos que ela julgue e revele. Portanto, estudemos com diligência a Bíblia, e deixemos que o Espírito Santo abra a sua Palavra para que conheçamos a nós mesmos.

Terceiro, os cristãos são nossa luz. "Vós sois a luz do mundo" (Mateus 5:14). Em geral, achamos que esta passagem se refere à conduta do crente. Na realidade, ela tem um significado mais profundo. O que se diz aqui é que o crente é luz. Ele consegue manifestar a imagem real de uma pessoa. Por viver na luz de Deus, ele é muito temido pelas outras pessoas, pois, ao vê-lo, elas se sentem condenadas. O cristão débil não se importa de encontrar outro igual a ele, mas quando se aproxima daquele que vive na luz de Deus, sente vergonha. A claridade expõe seu orgulho e desonestidade.

Irmãos, ninguém pode trabalhar para Deus sem ter a luz divina. Quem se aproximará mais de Deus se a "sua" luz não brilhar sobre ele? Se vivermos perto de Deus e se nossa vida for sempre governada pela luz divina, automaticamente manifestaremos a condição real de todos aqueles que se aproximarem de nós. Para fazer a vontade de Deus e cumprir a sua obra, precisamos ser luz. Quando nos aproximamos de alguém que vive perto de Deus, sentimos a presença dele. A pessoa não nos faz sentir que ela é mansa e humilde; ela nos faz sentir a Deus.

Quando comecei a servir ao Senhor, estava decidido a fazer a vontade dele. Naturalmente, sentia haver feito a sua vontade, mas toda vez que ia ver certa irmã para conversar e ler juntos alguns versículos da Bíblia, convencia-me de imediato da minha incapacidade. Toda vez que eu a via, sentia algo especial: Deus estava lá. Aproximando-me dela, sentia a Deus, pois ela tinha luz, e sua vida era governada pela luz de Deus. Ao aproximar-se alguém daquela irmã, a luz dela o condenava. Entretanto é preciso que nos lembremos de que a luz que recebemos é pela revelação
do Espírito Santo, sem levar em conta se essa revelação vem através da proximidade de Cristo, do estudo da Palavra ou da comunhão com outros crentes. É o Espírito Santo que manifesta a nós a luz irrepreensível na qual Deus habita — a saber, a glória, a santidade e a justiça de Deus. É o Espírito que nos leva a perceber o padrão absoluto de Deus mediante o qual conseguimos ver a nós mesmos, nossa condição real e nossas fraquezas.

O Poder Desta Luz

O poder desta luz é o de dar o auto-conhecimento às pessoas. Quando alguém entra nesta luz, é lhe revelada sua verdadeira condição. Muitos crentes são naturalmente presunçosos, satisfeitos consigo mesmos e farisaicos. Palavras humanas — exortação, avisos e repreensões —não conseguem ajudá-los a enxergar sua depravação. Só a luz de Deus, brilhando sobre eles, poderá
fazê-los perceber quão imperfeitos, corruptos e hipócritas são. Quando a luz de Deus chegar, tudo revelará suas verdadeiras cores. É verdade que ninguém pode ser salvo sem que sobre ele brilhe a luz de Deus. Nem tampouco pode alguém progredir espiritualmente ou trabalhar com eficiência sem esse brilho. Examinemos mais de perto estas duas questões.

Como é que o pecador vem a saber que o Senhor Jesus é o Salvador? Sem dúvida alguma, não é através de argumento. Além disso, como é que ele chega a perceber que é pecador? Nenhuma quantidade de lógica, raciocínio ou advertência levará o pecador a enxergar seu pecado e ver o Senhor Jesus como seu Salvador. Não quero dizer que esses métodos sejam totalmente inúteis, pois têm o seu lugar. Mesmo assim, eles só podem efetuar aprovação mental mas não visão espiritual. Todo pecador é cego; tal cegueira o impede de perceber o verdadeiro esplendor do evangelho de Deus. O Espírito Santo, porém, abre-lhe os olhos para que ele veja a luz de Deus. Ver é uma bênção especial da Nova Aliança. A revelação que Deus faz de seu Filho em mim é uma experiência que todos os pecadores salvos têm em comum.

Quão fútil é pensar que podemos persuadir as pessoas a aceitarem o Cristianismo, a crerem no Senhor Jesus, e a se tornarem cristãs através de pensamentos, raciocínios, ambientes agradáveis, emoção, música, lágrimas e argumentos. O fator principal na conversão é a luz de Deus, uma luz derramada pelo Espírito Santo. A condição básica é que o pecador veja seu próprio estado bem como a glória do Senhor Jesus. Lágrimas, remorso, zelo e sentimento maravilhoso para nada servem; apenas ver no Espírito Santo pode levar a pessoa a realmente aceitar ao Senhor Jesus como Salvador. Ninguém consegue crer e aceitar o que não vê. Por ter visto intimamente, o pecador consegue crer. Essa fé é firme e suporta bem as provações. De maneira semelhante, o crescimento da vida do cristão não depende tanto de estímulo, exortação e ensino — como se isso pudesse aumentar seu zelo no cumprimento dos deveres de oração e leitura da Bíblia. Todos esses são agentes auxiliares, e não principais.

O fator principal é a visão do crente. Por esse motivo, a primeira coisa que Paulo fez ao escrever aos crentes de Éfeso foi orar por eles para que Deus lhes iluminasse os olhos do coração pelo Espírito Santo, embora soubesse que eram muito bons no Senhor e que não eram tão moralmente degradados como os crentes de Corinto. O progresso da vida cristã se realiza por termos a luz de Deus, por nossos olhos serem abertos para conhecermos as riquezas da glória de Deus e a incrível grandeza de seu poder que nos é dado através da ressurreição de Jesus Cristo. Como pode o crente progredir na vida se não vir a abundância da graça de Deus em Cristo Jesus?

É quando a luz divina chega que o crente começa a perceber quão santo é Deus e o crente quão impuro é. Ao ver a justiça de Deus, percebe a sua própria injustiça. Ao ver a glória de Deus, convence-se de sua absoluta depravação. Tendo obtido tal autoconhecimento, ele, como os verdadeiramente circuncisos, dependerá por completo do Espírito de Deus e não ousará depender de si mesmo de modo algum. Na realidade, não apenas desconfiará de si próprio as também se odiará profundamente. São esses os obreiros que estão nas mãos de Deus e são sados por ele. Têm discernimento espiritual do plano e propósito de Deus. Por não terem a luz de Deus, muitos se julgam superiores. Satanás geralmente os engana, levando-os a pensar que já alcançaram uma perfeição isenta de pecado. Pensam assim porque, não tendo a luz de Deus, ignoram a corrupção de sua carne. Bem, sou daqueles que crêem piamente que Cristo, sendo nossa vida, nos capacitará a vencer o pecado completamente.

Portanto, a meu ver, nenhum cristão pode se desculpar dizendo que é impossível para qualquer pessoa no mundo não pecar. A possibilidade de obtermos vitória sobre o pecado, porém, não sugere que nossa carne não mais é corrompida. Um erro comum é cair em exageros. Alguns afirmam que, por sermos tão corruptos, não podemos deixar de pecar, enquanto que outros sustentam que, tendo aceitado a Cristo como nossa vitória, nossa natureza pecaminosa foi aniquilada; portanto já não somos corruptos. A verdade é que somos vitoriosos em Cristo, mas em nós mesmos somos corruptos. O crente pode viver por Cristo diariamente e levar uma vida completamente vitoriosa sobre o pecado, mas ao mesmo tempo sentir dia a dia sua própria absoluta depravação. Sentir essa absoluta depravação não inibe sua vitória, porque é Cristo nele e não ele próprio que é vitorioso. Tampouco sua vitória completa tira dele a sensação de depravação total, pois a corrupção da carne não muda de natureza através da libertação de Cristo.


Retirado do livro "Conhecimento Espiritual".

terça-feira, 12 de julho de 2011

A REGENERAÇÃO OU NOVO NASCIMENTO


Por Arthur W. Pink

Duas coisas são absolutamente essenciais para a salvação: a libertação da culpa e da penalidade do pecado e a libertação do poder e da presença do pecado. A primeira é assegurada pela obra mediadora de Cristo, a outra é realizada pelas operações eficazes do Espírito Santo. A primeira é o bendito resultado do que o Senhor Jesus fez para o povo de Deus, a outra é a gloriosa conseqüência do que o Espírito Santo faz no povo de Deus. A primeira acontece quando, tendo sido trazido ao pó como um mendigo de mãos vazias, a fé é capacitada a se apegar a Cristo; Deus então o justifica de todas as coisas e o pecador tremendo, penitente, mas crendo, recebe um completo e gratuito perdão. A outra acontece gradualmente, em distintos estágios debaixo da divina benção da regeneração, santificação e glorificação.

Na regeneração, o pecado recebe seu golpe mortal, ainda que não seja sua morte. Na santificação, à alma regenerada é mostrada a fossa de corrupção que habita dentro dele, e ela é ensinada a desprezar e odiar a si mesma. Na glorificação, tanto a alma como o corpo são libertos para sempre de todo vestígio e efeito do pecado.

A regeneração é indispensavelmente necessária para que uma alma possa entrar no Céu. Para poder amar as coisas espirituais um homem deve ser feito espiritual. O homem natural pode ouvir sobre elas, e ter uma idéia correta da doutrina delas, mas ele não pode amá-las (2 Tessalonicenses 2:10), nem encontrar seu gozo nelas. Ninguém pode morar com Deus e estar feliz eternamente em Sua presença até que uma mudança radical tenha sido operada nele, uma mudança do pecado para a santidade; e essa mudança deve acontecer aqui mesmo na terra.

Como pode alguém entrar no mundo da santidade inefável depois de ter gastado toda a sua vida no pecado, isto é, agradando a si mesmo? Como pode cantar o cântico do Cordeiro se o seu coração não está sintonizado nEle? Como pode suportar o contemplar a grande majestade de Deus face a face sem nem sequer havê-Lo visto "como por espelho em enigma" com o olho da fé? Assim como é uma tortura excruciante para os olhos contemplar repentinamente os raios brilhantes do sol do meio-dia após estar confinado por muito tempo numa escuridão lúgubre, assim também será quando os inconversos contemplarem Àquele que é Luz. Em vez de receber com prazer tal visão, "todas as tribos da terra se lamentarão por causa dEle" (Apocalipse 1:7); sim, tão devastadora será sua angústia que clamarão às montanhas e às rochas, "Caí sobre nós, e escondei-nos da face daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro" (Apocalipse 6:16). Sim, meu querido leitor, esta será tua experiência a menos que Deus te regenere.

O que acontece na regeneração é o contrário do que aconteceu na queda. A pessoa que nasce de novo é restaurada a uma união e comunhão com Deus através de Cristo e da operação do Espírito Santo: o que antes estava morto espiritualmente, agora está espiritualmente vivo(João 5:24). Da mesma forma que a morte espiritual foi produzida pela entrada de um princípio de maldade no ser do homem, assim também a vida espiritual é a introdução de um princípio de santidade. Deus
comunica um novo princípio, tão real e tão potente como o é o pecado. A graça divina é agora impartida. Uma santa disposição é infundida na alma. Um novo temperamento de espírito é concedido ao homem interior. Porém, não são criadas novas faculdades dentro dele; ao contrário, suas faculdades originais são enriquecidas, enobrecidas e capacitadas.

Uma pessoa regenerada é "uma nova criatura em Cristo Jesus" (2 Coríntios 5:17). Isso é verdade sobre você? Que cada um de nós prove e examine a si mesmo na presença de Deus sobre essas questões. Como está meu coração em relação ao pecado? Existe uma profunda humilhação e uma tristeza piedosa após eu pecar? Existe um ódio genuíno contra o pecado? Tenho uma consciência sensível, de forma que minha paz é disturbada por aquilo que o mundo chama "falhas triviais" ou "pequenas coisas"? Sinto-me humilhado quando estou consciente dos surgimentos de orgulho e obstinação? Aborreço minhas corrupções internas? Estão meus desejos mortos para o mundo e vivos para com Deus ? Qual é minha meditação nos tempos de recreação? Os exercícios espirituais me dão prazer e alegria, ou são tediosos e como cargas pesadas? Podes verdadeiramente dizer, "Oh! quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! mais doces do que o mel à minha boca" (Salmos 119:103)? É a comunhão com Deus meu gozo maior? É a glória de Deus mais preciosa para mim do que tudo o que o mundo contém?

terça-feira, 5 de julho de 2011

LOUVOR EM TRÊS DIMENSÕES


Por A. W. Tozer

Cristo é tantas coisas maravilhosas para os seus, e lhes traz tal riqueza de benefícios, que a mente não pode compreender, nem o coração pode encontrar palavras para expressar.

Estes tesouros são presentes e futuros. O Espírito da Verdade, falando por meio de Paulo, afirma-nos que em Cristo Deus nos aben­çoou com todas as bênçãos espirituais. Estas nos pertencem, como filhos da nova criação que somos, e são postas ao nosso alcance pela obediência da fé.

Pedro, movido pelo mesmo Espírito, fala-nos de uma herança que nos é garantida pela ressurreição de Cristo, herança incorruptí­vel, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para nós.

Não há contradição aqui, pois um apóstolo fala dos benefícios presentes, e o outro, dos benefícios que ainda haverão de ser-nos conferidos por ocasião da vinda de Cristo. E ambos esgotam a lin­guagem humana para celebrar as muitas bênçãos que já recebemos.

Talvez nos ajudasse a compreender, se pensássemos em nós co­mo um peixe num rio imenso, ao mesmo tempo gozando o pleno fluxo da caudal, lembrando com gratidão a corrente que já passou, e esperando com jubilosa antecipação a plenitude que se move ao nosso encontro das cabeceiras do rio. Embora isso não passe de uma imperfeita figura de linguagem, é verdade absolutamente literal que nós, que confiamos em Cristo, somos sustentados pela graça presente, enquanto nos lembramos com gratidão da bondade que des­frutamos nos dias passados e ansiamos com feliz expectativa pela graça e bondade que ainda nos esperam.

Bernardo de Claraval fala algures de um "perfume composto dos recordados benefícios de Deus". Tal fragrância é rara demais. Todo cristão deveria recender esse aroma; pois não temos recebido, todos nós, mais da bondade de Deus do que a nossa imaginação po­deria ter concebido antes de O conhecermos e de descobrir por nós mesmos quão rico e quão generoso Ele é?

Que recebemos da Sua plenitude graça sobre graça ninguém negará; mas a fragrância não provém do recebimento; provém da recordação, que é de fato uma coisa muito diferente. Dez leprosos receberam a cura; esse foi o benefício. Um deles voltou para agra­decê-lo ao seu benfeitor; esse foi o perfume. Benefícios não lembra­dos poderão, como moscas mortas, fazer o ungüento exalar cheiro fétido.

Bênçãos rememoradas, gratidão por favores atuais e louvor pela graça prometida, mesclam-se como mirra, aloés e cássia para formar um fino ramalhete para adorno dos santos. Davi também ungiu a sua harpa com este perfume, e deste os hinos dos séculos têm sido docemente impregnados.

Talvez se exija fé mais pura para louvar a Deus por bênçãos não concretizadas do que pelas já desfrutadas ou pelas que ora des­frutamos. Todavia, muitos há que subiram a essa culminância enso­larada, como se deu com Anna Waring, quando escreveu:

Dou glória a Ti por toda graça que ainda não provei . . .

Conforme nos movemos rumo a uma familiaridade pessoal mais profunda com o Trino Deus, creio que a ênfase da nossa vida se apartará do passado e do presente para o futuro. Lentamente nos tornaremos filhos de uma esperança viva e de um amanhã seguro. Os nossos corações se enternecerão com as lembranças de ontem, e as nossas vidas se encantarão de gratidão a Deus pelo caminho se­guro que percorremos; mas os nossos olhos focalizarão mais e mais a bendita esperança do amanhã.

Grande parte da Bíblia é dedicada à predição. De tudo que Deus já fez por nós, nada se pode comparar com tudo que está escrito na segura palavra da profecia. E nada do que Ele fez ou pode fazer ainda por nós, pode comparar-se com o que Ele é e será para nós. Talvez a autora de hinos tivesse isto em mente quando cantou:

"Tenho uma herança de alegria
que ainda não devo ver; a mão que sangrou para fazê-la minha
guarda-a para mim".

Poderia essa "herança de alegria" ser menos do que a Beatífica Visão?


Retirado de "O Homem: a Habitação de Deus"