terça-feira, 30 de agosto de 2011

SÉRIE: A IRRACIONALIDADE DA PREOCUPAÇÃO - PARTE 1

Por J. Dwight Pentecost

  • Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?
  • Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
  • E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
  • E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;
  • E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
  • Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?
  • Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
  • (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;
  • Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
  • Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Mateus 6:25-34


E fácil ao homem fazer das coisas materiais um deus, mas ao devotar-se a esse deus, ele se vê escravizado ao mais tirânico senhor. Nesta parte do Sermão da Montanha o Senhor trata da preocupação com coisas materiais. A marca da pessoa justa é sua preocupação com Deus. Quando o indivíduo deixa de lado o Deus de Justiça e aceita o deus dos bens materiais, logo ele se conforma aos padroes materialistas. Torna-se ganancioso, avarento e totalmente preocupado com as posses materiais. Se a pessoa se preocupa com tais coisas e elas se tornam o alvo de sua vida, logo estara ansiosa acerca de suas necessidades fisicas. Preocupa-se com o que ira comer, beber, vestir, e onde morar. Este cuidado ansioso provem da falta de confiança em Deus. Quando a pessoa deixa de confiar que Deus pode satisfazer suas necessidades, se escraviza nas coisas materiais. Nosso Senhor ensinou aos que estavam interessados na justica, que nao se pode ao mesmo tempo servir a Deus e as riquezas.

A pessoa que serve a Deus confia nele; e confia nao apenas quanto a eternidade, mas também quanto a hora que passa. Confia em Deus no que tange a alma e também ao corpo. Tal indivíduo pode entregar-se a muitas coisas. Pode dar-se a gratificação do desejo físico, mas a medida que envelhece, aquilo a que ele serviu como deus pode afrouxar a garra sobre ele e ele pode livrar-se de seu domínio. O indivíduo pode entregar-se a busca do prazer, mas quanto mais envelhece, tanto menos o prazer o seduz. Acha que pode escapar do controle do deus do prazer ao qual serviu. Se, porém, o indivíduo se dá às coisas materiais como seu deus, ele descobre que quanto mais velho fica, tanto mais aperta a garra desse deus sobre ele. Ele se torna mais escravizado. Portanto, nosso Senhor disse: "Por isso vos digo: Nao andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Nao e a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?" (Mateus 6:25).

O Senhor reconhecia que a pessoa, em sua cobiça, pode devotar a vida inteiramente a prover alimento, abrigo e roupa, as quais se tornam o centro de sua vida. Considerando que não podemos servir a Deus e aos bens materiais ao mesmo tempo, nosso Senhor ordena: "Nao se preocupem com essas coisas." Nao permitamos que a ansiedade pelos bens materiais se aninhe em nossos corações.

Paulo tem uma palavra tranquilizadora: "Meu Deus suprira cada uma de vossas necessidades" (Filipenses 4:19). O corpo não pode existir por muito tempo sem alimento ou bebida. Ele precisa de abrigo e vestes, e essas coisas preocupam o injusto. Deus suprira tudo de que o corpo necessita. Esse conceito estava na mente do Senhor quando nos proibiu de preocupar-nos com as coisas materiais. Observe que ele deu aqui um mandamento da parte de Deus como o foram os de Moisés. Embora cuidemos de não violar um sequer dos mandamentos de Moisés, parece que nao hesitamos em violar o mandamento do Senhor Jesus, que disse: "Não se preocupem com as coisas materiais." Preocupamo-nos com elas e a elas nos escravizamos.

Para prevenir essa escravização a ansiedade pelos bens materiais, nosso Senhor deu, em Mateus 6:25-34, os motivos pelos quais nao devemos permitir que as coisas materiais sejam para nos uma obsessão.

Em primeiro lugar, nosso Senhor perguntou: "Não e a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?" (v. 25). Sua pergunta, em outras palavras, foi: "O homem é apenas corpo, ou é mais do que isso?" Se o homem fosse apenas corpo, a principal coisa da vida seria cuidar desse corpo. As coisas mais importantes da vida seriam o alimento, o vestuário, e o abrigo. Se, porém, o homem é mais do que corpo, entao a vida é mais do que comida e bebida.

Voltando ao relato da criação (Genesis 1), verificamos que, depois de Deus haver criado o corpo, assoprou nele uma alma vivente, e o homem viveu. O homem não tinha vida quando o seu corpo foi criado do pó da terra; ele só viveu quando Deus soprou nele a vida e o fez alma vivente. O que nosso Senhor disse é que a vida e muito mais do que aquilo que comemos ou bebemos. Visto que a vida é muito mais do que o corpo fisico e o acumulo de bens materiais, por que não abandonamos o cuidado ansioso? E preferível confiar.

Não tivemos nada que ver com a criação. Foi obra de Deus. Não tivemos nada que ver com o sopro de vida num vaso de barro. Foi obra de Deus. Não tivemos nada que ver com a nova vida em Cristo, recebida dele como dádiva, isso é obra de Deus. Aquele que nos criou e nos fez novas criaturas em Cristo não abandonara seu interesse em nós nem seu cuidado por nós; portanto, nosso Senhor podia dizer: "Nao andeis ansiosos pela vossa vida."


Retirado do livro "O Sermão da Montanha".

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SÉRIE: PERDOA-NOS AS NOSSAS DÍVIDAS - PARTE 2


Por Paul Yonggi Cho

Como Nós Temos Perdoado aos Nossos Devedores

Há uma condição a cumprir se desejamos desfrutar o perdão divino. Ele nos dá a graça do perdão continuamente quando perdoamos a outras pessoas. Se abrigamos ódio em nosso coração e nos recusamos a perdoar a quem nos ofendeu, o perdão que já recebemos não será atingido. Mas a partir desse instante, o perdão de que necessitamos por faltas posteriores será cancelado ."Jesus narrou a parábola de dois devedores. Um devia ao rei 10.000 talentos e o outro devia ao primeiro devedor uma quantia insignificante, cem denários. O rei perdoou a dívida do homem que lhe devia a grande soma. Porém esse homem não teve misericórdia do outro que lhe devia uma pequena quantia. Ao descobrir o rei o que havia acontecido, ficou furioso e castigou o homem mau. Aqui nos ensina Jesus a lição de que devemos perdoar as faltas e os erros de outras pessoas da maneira pela qual fomos perdoados. Disse ele: "Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão" (Mateus 18:35).

Há uma relação direta entre o modo pelo qual perdoamos aos nossos inimigos e o modo pelo qual seremos perdoados. Quando Caim matou seu irmão Abel, o Senhor perguntou: Onde está Abel, teu irmão?" Que foi que Caim respondeu? Acaso sou eu tutor de meu irmão?" (Gênesis 4:9). Mas nós como tutores ou guardadores de nossos irmãos. Deus criou os seres humanos como seres sociais. O livro do Gênesis diz: "Não! é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea... Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (2:18, 24). Desde a criação da mulher, o homem tem vivido com outros seres humanos. Estamos destinados a viver juntos como casais, como pais e filhos, entre os vizinhos. Enquanto alguém vive em comunidade, não pode fazer a pergunta irresponsável: "Acaso sou eu tutor de meu irmão?" Por este motivo Jesus nos ensinou! a orar: "Pai nosso. . ." em vez de "meu Pai". Quando as pessoas vivem juntas, inevitavelmente o pecado entra em seus relacionamentos. Todo o mundo tem personalidade e traços de caráter negativos: ego, orgulho, ciúme, ambição. Onde quer que as pessoas se reúnam, as diferenças de caráter e de personalidade tornam-se evidentes e causam tensão e dor. À medida que o tempo passa, o remorso pelo passado se torna ódio no presente, e foi dessa maneira que este mundo se encheu de inveja, ciúme, calamidade e assassínio. "Mas os perversos são como o mar agitado, que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo. Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz" (Isaías 5720, 21).

Como podemos viver em paz e harmonia com outras pessoas, esquecer os antigos rancores e aceitar a cura de Deus? Com o progresso de conhecimento, temos inventado todos os tipos de comodidades. Há, porém, um campo que não tem, absolutamente, visto nenhum progresso. A despeito de nosso destino comunitário, o homem parece decidido a fabricar armas que firam e matem os outros.

Não há ninguém que possa resolver este problema de inimizade e ódio senão Jesus Cristo. Ele nos perdoou e insiste em que oremos: "Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós temos perdoado aos nossos devedores." É interessante que imediatamente depois de haver terminado esta oração ensinada aos discípulos, Jesus volte ao assunto do perdão. Mateus 6:14, prossegue, dizendo: "Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas."

Certo dia João Wesley encontrou-se na rua com um de seus amigos. Fazia algum tempo que não se encontravam, e Wesley disse: "Ouvi dizer que você e o Sr. Fulano de Tal se tomaram inimigos. Você já chegou a um acordo com ele?" - Não, não cheguei — respondeu o homem. — Por que deveria eu fazê-lo? Ele é que deve levar a culpa. Nunca lhe perdoarei, porque fui eu quem saiu ferido. Olhando direto para o rosto do homem, Wesley disse: - Então você nunca deve mais cometer pecados. Não creio que você possa dizer que nunca pecou. Você tem pecado até aqui porque alguém perdoou as suas faltas. Mas se diz que não deseja perdoar a alguém que o ofendeu, de agora em diante não espere ser perdoado por ninguém mais também.

Diante disto, o homem curvou a cabeça e se arrependeu amargamente de suas faltas. Se não desejamos perdoar as faltas do próximo, não deveríamos pecar. O marido que não deseja perdoar as faltas da esposa não deveria também cometer faltas. A esposa que não deseja perdoar as faltas do marido não deveria igualmente cometer faltas. Se não se perdoam mutuamente, suas próprias faltas não podem ser perdoadas. Todas as pessoas se curam mutuamente perdoando umas às outras. Ninguém é tão justo que não necessite de perdão. As afetuosas mãos estendidas do perdão começam a curar as feridas quase imediatamente. Jamais deveríamos esquecer que devemos nossa justiça ao perdão divino. Nossas dívidas são pagas quando perdoamos aos outros as suas dívidas. Recebemos o perdão divino quando perdoamos as ofensas dos outros contra nós.

Visto que Deus nos perdoou, devemos aos outros a dívida do perdão. O apóstolo Paulo disse: "Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes" (Romanos 1:14). Se um homem como o apóstolo Paulo era devedor, então as pessoas comuns como você e eu somos devedores muito maiores. Tanto quanto sou perdoado, devo também perdoar aos outros dia a dia. Devemos fazer o melhor para pagar a dívida O perdão em nossa existência.

O Custo do Perdão

O Perdão traz belos resultados. Onde há perdão, há céu — Pois o Deus do perdão ali está por intermédio do Espírito Santo. É fácil perdoar por pura força de vontade? Os que sinceramente perdoaram as faltas e os erros alheios certamente responderiam com um não. Como é que se perdoa? O perdão sempre demanda um preço — sofrimento — uma cruz. Jamais creia que o perdão de Deus a você e a mim nadai custou para ele. Custou-lhe o sofrimento sacrificial de seu único Filho. Embora fôssemos nós os pecadores, Jesus teve de levar sobre si os nossos pecados.

O perdoador — e não o perdoado— pagou o preço. De igual modo, se devemos perdoar aos outros, esse perdão nos custará sofrimento e cruz. Por quê? Não nos é possível perdoar aos outros enquanto ainda estamos insistindo em nossas opiniões, direitos, intolerância. Quando crucificamos o próprio orgulho, ira e pensamentos, estamos em condições de perdoar plenamente, tanto com o coração quanto com a boca. A fim de perdoarmos aos outros, devemos primeiro morrer para o eu. Até que isso aconteça, ódio, orgulho, maus sentimentos e ressentimentos surgirão de contínuo, bloqueando nossa capacidade de perdoar. Somos libertos do egocentrismo quando perdoamos. E somos libertos de teimosia, arrogância, e auto-afirmação. Entramos na verdadeira liberdade divina.

Corrie ten Boom, famosa reavivalista holandesa, passou os últimos anos de sua vida nos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial ela e sua família foram presas e transportadas para campos de concentração nazistas sob a acusação de ocultarem judeus em seu lar. Seu pai e sua irmã morreram nos campos, e Corrie voltou sozinha à sua casa. Terminada a guerra, enquanto ela estava pregando, ouviu o Espírito Santo dizer: "O povo alemão está sofrendo as profundas cicatrizes do caminho. Vá pregar-lhe o evangelho."

Ouvindo isso, Corrie foi à Alemanha para pregar. Depois de um sermão especial sobre o perdão, muitos choravam à medida que confessavam os pecados. Muitos aguardavam para apertar--lhe as mãos quando ela descia da plataforma. Enquanto ela a todos cumprimentava alegremente, um por um, apareceu um homem na fila, com a mão estendida. Tão logo ela o viu, sentiu como se seu coração parasse. Ele havia sido guarda em Ravensbruck, o campo de concentração onde Corrie e a irmã estiveram encarceradas. Os prisioneiros, quando levados para o campo, tinham de passar nus diante dele, e com freqüência ele cortava o suprimento de comida.

Lembranças dolorosas daqueles terríveis anos desdobraram como um panorama perante Corrie. O homem não a reconheceu como ex-prisioneira, mas ela sabia que jamais esqueceria o rosto dele, ainda que em sonho. Ele disse a ela que, desde quando servia como guarda em Ravensbruck, havia-se tomado cristão. "Sei que Deus me perdoou as coisas cruéis que pratiquei lá, mas gostaria de ouvi-lo de seus lábios também. A senhora me perdoa?" A imagem do cadáver de sua irmã passou-lhe diante dos olhos; a lembrança amarga de seu próprio sofrimento foi revivida. Embora isso levasse apenas uns poucos segundos, parecia-lhe que esteve ali durante anos. Finalmente ela orou: "Senhor, não posso perdoar a este homem. Ajuda-me!"

Ela decidiu que poderia, ao menos, levantar a mão. Enquanto o fazia, a vida de ressurreição de Jesus fluiu para dentro do coração de Corrie e ela perdoou ao ex-guarda. Todos os sentimentos de amargura desapareceram, substituídos pela alegria mediante o poder do Senhor. Mais tarde ela dizia que se sentia como se tivesse rejuvenescido uma década. Durante anos depois desse incidente Corrie viajou por todo o mundo pregando o amor e o perdão de Cristo.

O perdoador sempre tem uma responsabilidade: lançar-se diante da cruz, crucificar a centralidade era si próprio, o orgulho e as auto-afirmativas. Quando a pessoa faz isto, Deus derrama abundantemente a vida de ressurreição de Jesus, sua cura. Os relacionamentos revivem — entre pais e filhos, entre amigos — transformando a velha vida em vida nova. Quando nossas velhas feridas são curadas e somos libertos do ódio, podemos usufruir verdadeira felicidade e alegria.

Grande é o número dos que sofrem desnecessariamente enfermidades físicas causadas por inimizade e ódio. O rancor quebra os relacionamentos da família. Quantos pais estão alienados e seus filhos, e quantas amizades se esfriaram por causa desses sentimentos? O perdão é o nosso único elemento de cura. Orar de acordo com o ensino de Jesus: "Perdoa-nos as nossas dividas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores é o segredo que nos conduzirá à felicidade. A real liberdade acompanha esse tipo de oração e perdão.

O Senhor ensinou que devemos perdoar e reconciliar-nos antes de oferecermos sacrifícios. Mateus 5.23, 24 diz: "Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta." Deus responde à oração daquele que perdoa e se reconcilia. Se temos rancores e ódio no coração, o Pai não pode ouvir nossas orações, por mais fervorosas que sejam. Conforme disse o Senhor, devemos desejar que o perdão de Deus transborde em nós por perdoarmos aos que pecaram contra nós.

"Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores." Quando orarmos este versículo da oração do Senhor dia e noite, nosso espírito, alma e corpo e viver diário serão curados. Então com fé, esperança e amor fluindo abundantemente entre nós, estaremos sempre em condições de marchar avante para um amanhã melhor, mesmo que ainda tenhamos tendências ou deficiências pecaminosas, mesmo que tenhamos choques de personalidade ou diferenças de opiniões.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

SÉRIE: PERDOA-NOS AS NOSSAS DÍVIDAS - PARTE 1


Por Paul Yonggi Cho

Nós, que nos tornamos filhos de Deus pelo sangue imaculado de Jesus Cristo, devemos orar a ele agora para que nos perdoe os pecados. Quando o reino de Deus vem ao nosso coração e a sua vontade está presente em nossa vida, a graça perdoadora e o poder divino deveriam naturalmente vir sobre nós. Na oração que Jesus ensinou aos discípulos — e a nós — ele disse que devíamos pedir intrepidamente e com segurança o pão nosso de cada dia, o perdão de pecados e a proteção contra a tentação ou o mal. Como ficou declarado anteriormente, devemos orar alinhados com a mente de Deus. E qual é o pensamento dele concernente ao pecado?

Somos Pecadores e Merecemos a Morte

A palavra grega para pecado significa "errar o alvo"— como uma seta podia errar o seu alvo. A fim de dar glória ao Senhor e agradar-lhe, o homem deveria ter vivido em obediência e fé. Era este o alvo ou objetivo da vida humana.

Enganados por Satanás, porém, Adão e Eva tomaram e comeram o fruto do conhecimento. Violaram a ordem divina: "Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; Porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gênesis 2:17). Como obstinada expressão de sua desobediência e incredulidade, esta ação significou que o comportamento deles havia errado o alvo da vida e era pecado diante de Deus. Como resultado, Adão e Eva sentiram vergonha e culpa. Satanás ganhou o legítimo direito de acusar, governar e roubar a humanidade. "Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio" (1 João 3:8).

Adão e Eva, e com eles toda a sua posteridade, caíram na escravidão de Satanás. O pecado entrou no mundo pela ofensa de um homem, Adão, e todos se tornaram pecadores. "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Romanos 5:12). Como conseqüência do pecado, eles tinham de morrer. "Porque o salário do pecado é a morte" (Romanos 623). A palavra morte no grego é thanatos, que significa "estar separado".

Tão logo a morte entrou na sociedade humana pelo pecado, interrompeu-se o diálogo com Deus. Tão logo o pecado separou o homem do seu Deus, a fonte de vida, o homem morreu. Tão logo o pecado separou o ser humano das outras criaturas antes sujeitas ao homem, tudo saiu errado. Tão logo o Senhor retirou sua mão protetora, as doenças entraram no corpo humano. Além do mais, o fogo inextinguível do inferno está à espera de todos os que não vierem a Jesus para pedir e receber o perdão dos pecados.

Uma vez que homens e mulheres, criados à imagem de Deus, são seres espirituais, estão ansiosos por ser libertos do pecado e da morte. Mas sem pagar plenamente o salário do pecado, pessoa alguma pode escapar do domínio de Satanás, nem libertar a si próprio da morte última. Já que não há ninguém no mundo que não cometa pecado, é loucura esperar que alguém mais neste mundo seja um Salvador eficiente.

A raça humana precisava de alguém que a ajudasse, alguém que resolvesse o problema da morte. Esse alguém não poderia nascer da semente de Adão, entretanto tinha de ser humano —-não angélico — porque tinha de expiar o pecado do homem. Embora devesse ser imaculado, seria homem — homem com ouvidos, olhos, boca e nariz. Mais ainda, tinha de ser alguém disposto a levar sobre si mesmo o salário de nosso pecado e pagar por nós o preço da redenção. Da perspectiva humana, isto era absolutamente impossível. Não obstante, o homem tinha de ser liberto do pecado e da morte através desse Redentor.

Esta missão impossível tinha de ser realizada. Todos os desejos e esperanças humanos, desde a criação, podem resumir numa frase — livramento do pecado e do diabo. O grito desapareceu no ar rarefeito como um som sem eco? Não. Ele alcançou o trono de Deus e cumpriu-se no plano divino. Jesus Cristo veio para salvar a humanidade.

A Resposta Divina: Jesus Cristo

Deus permitiu que Jesus Cristo, seu Filho sem pecado, assumisse a forma humana e morresse em lugar do homem. "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha ávida eterna" (João 3:16). Pela vontade de Deus, Jesus nasceu da virgem Maria, neste mundo, numa manjedoura em Belém, há 2.000 anos.

Como diz a Bíblia, a semente da mulher feriria a cabeça da serpente (Gênesis 3:15). Jesus foi concebido da semente de uma mulher, mas sem pai natural. Gerado do Espírito Santo, mas sem ser semente do homem, o Salvador possuía sangue imaculado. Jesus se fez carne a fim de ser o sacrifício de expiação dos pecados da humanidade. Por este motivo João Batista gritou junto ao rio Jordão: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 129). Romanos 4:25 também diz que Jesus "foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação". Por nossa causa e em nosso lugar Jesus levou sobre seu próprio corpo todo o pecado, iniqüidade, feiúra, maldição e desespero do mundo.

Pendente entre o céu e a terra — com as mãos e os pés pregados naquela cruz, sua cabeça ferida pela coroa de espinhos e seu lado perfurado por uma lança. Através de todos esses sofrimentos Jesus apagou para sempre todos os nossos pecados diante do Pai. Uma vez que Deus respondeu aos nossos desejos enviando seu Filho, e preparou o caminho através do qual nos livramos do pecado e da morte, só nos resta aceitar a redenção que ele nos proporcionou. Temos de aceitar a Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo, como Salvador pessoal. Embora Deus nos tenha dado seu Filho, ele não pode obrigar-nos a aceitá-lo como Salvador. Como aconteceu no Jardim do Éden, assim agora cada pessoa deve decidir e confessar verbalmente essa decisão. A pessoa que crê e confessa está livre do poder da morte; a pessoa que não aceita a Cristo mediante a fé, ainda está sob o poder da morte.

Desde que o Pai nos perdoou os pecados por intermédio de Jesus Cristo, nosso problema está resolvido. Se formos para o inferno, será por não aceitarmos o perdão divino. Quando Andrew Jackson era presidente dos Estados Unidos, um homem chamado George Wilson apanhou um ladrão furtando algo de uma agência do correio. Wilson matou o homem a tiros, foi preso, condenado e sentenciado à morte. Mas devido às circunstâncias do crime, o presidente Jackson assinou um perdão especial que isentou e libertou Wilson. Aqui a história se torna fora do comum. Wilson recusou-se a aceitar o perdão, e seguiu-se um dilema legal. O caso foi, finalmente, parar na Suprema Corte onde John Marshall, juiz-presidente, proferiu a seguinte famosa decisão: "A carta de perdão é meramente um pedaço de papel, mas tem o poder de perdoar enquanto a pessoa objeto do perdão o aceita. Se tal pessoa se recusa aceitá-lo, ela não pode ser isentada. Portanto, a pena de morte sentenciada a George Wilson deve ser executada."

Aquele homem tinha sido perdoado, mas porque se recusou a aceitar o perdão, foi executado.

Nossa situação é semelhante. Deus perdoou os pecados da humanidade. Hoje o Espírito Santo proclama a todos: "Vossos pecados estão perdoados, mas deveis vir a Jesus e aceitar o perdão." A absolvição divina nos foi dada, mas muitos não o aceitam. Não há socorro para os que se recusam a aceitar o perdão; eles enfrentarão a execução e não terão ninguém para levar a culpa, senão eles próprios. Quando Jesus nos perdoou os pecados, não perdoou somente os do passado e os do presente. Ele expiou todos os pecados de nossa vida inteira — incluindo o futuro— de uma vez por todas.

De acordo com Hebreus 10:14-18: Porque com uma oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo; porquanto, após ter dito: Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei nos seus corações as minhas leis, e sobre as suas mentes as inscreverei, acrescenta: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniqüidades, para sempre. Ora, onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado.

Pelo fato de nosso Senhor haver expiado os nossos pecados de uma vez por todas, já não temos necessidade de oferecer sacrifício por eles. Eles foram riscados; estamos livres e desobrigados. Portanto, se você crê em Jesus como seu Salvador e aceita o seu perdão, está justificado diante do Pai. Será como alguém que nunca pecou e terá o privilégio de comparecer perante Deus. Em virtude de seus pecados estarem sob o sangue de Jesus, Satanás não poderá acusá-lo diante do trono do Todo Poderoso.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DESPERTAR


Por Charles H. Spurgeon


GRANDE NÚMERO DE PESSOAS não tem nenhuma preocupação acerca das coisas eternas. Eles se preocupam mais com seus gatos e cachorros do que com suas próprias almas. É uma grande misericórdia que nós tenhamos sido levados a pensar sobre nós mesmos, e como estamos diante de Deus e do mundo eterno. Esse é um sinal frequentemente suficiente que a salvação é vinda a nós. Por natureza nós não gostamos da ansiedade que a preocupação espiritual nos causa, e tentamos, como preguiçosos, dormir de novo. Isso é grande tolice; pois é por nossa própria conta e risco que negligenciamos quando a morte está tão perto, e o julgamento tão certo. Se o Senhor nos escolheu para a vida eterna, Ele não nos deixará retornar à nossa soneca. Se formos sensíveis, devemos orar para que a ansiedade sobre nossas almas nunca termine até que estejamos realmente salvos. Digamos com nosso coração:

“Aquele que sofreu em
meu lugar,
Deve ser o meu médico;
Eu não estarei consolado,
Até que Jesus me console.”

Seria algo terrível ir sonhando para o inferno, e lá abrir os olhos e ver um enorme abismo colocado entre nós e os céus. Será igualmente terrível ser acordado para escapar da ira vindoura, e então sacudir a influência da advertência, e voltar à insensibilidade. Eu noto que aqueles que subjugam suas convicções e continuam em seus pecados não são tão facilmente sensibilizados da próxima vez: cada despertar que passa deixa a alma mais sonolenta que antes, e menos apta a ser novamente sacudida com sentimentos santos. Por isso nosso coração deveria ser grandemente conturbado com o pensamento de se livrar deste problema de outra forma que não no caminho certo. Alguém que teve gota foi curado da mesma por um medicamento charlatão, que trouxe uma doença interior e o paciente morreu. Ser curado da aflição da mente por uma falsa esperança seria um péssimo negócio: o remédio seria pior que a doença. Muito melhor que nossa fragilidade de consciência nos cause longos anos de angústia, que a percamos, e pereçamos na dureza dos nossos corações.

Mas o despertar não é algo sobre o qual descansar, ou desejar que continue mês após mês. Se eu acordar de um susto, e ver minha casa em chamas, eu não sentarei na beira da cama, dizendo a mim mesmo, “Eu espero que eu esteja verdadeiramente desperto! De fato, eu estou profundamente grato que não fui deixado dormir!” Não, eu quero escapar da morte ameaçadora, e assim eu corro para a porta ou janela, para que eu saia, e não pereça onde estou. Seria um benefício questionável ser desperto, e ainda assim não sê-lo para escapar do perigo. Lembre-se: despertar não é ser salvo. Um homem pode saber estar perdido, e ainda assim nunca ser salvo. Ele pode ficar pensativo, e ainda assim morrer em seus pecados.

Se você descobrir que está falido, a consideração sobre seus débitos não os pagará. Um homem pode examinar suas feridas por tudo um ano, e elas não estarão mais próximas de ser curadas porque ele as sente inteligentemente, e sabe o seu número. É um truque do demônio tentar o homem a se satisfazer com um senso de pecado; e é outro truque do mesmo enganador insinuar que o pecador não se contente em confiar em Cristo, até que ele possa ter certa medida de desespero a adicionar ao trabalho consumado do Salvador. Nossos despertares não são para ajudar o Salvador, mas nos ajudar ao Salvador. Imaginar que meu senso de pecado é para ajudar a removê-lo é absurdo. É o mesmo que dizer que a água não pode lavar minha face até que eu tenha olhado longamente no espelho, e tenha contado as sujeiras na minha cara. Um senso de necessidade de salvação pela graça é um sinal muito saudável; mas precisa-se de sabedoria para usá-lo, para não fazê-lo um ídolo.

Alguns parecem ter se apaixonado por suas dúvidas, e medos, e aflições. Você não pode fazê-los se livrar de seus terrores – eles parecem casados com os mesmos. Diz-se que o pior problema com cavalos quando o estábulo está em chamas, é que você não consegue fazê-los sair de suas cocheiras. Se eles somente seguissem você, eles escapariam das chamas; mas eles parecem estar paralisados pelo medo. De tal forma que o medo do fogo os impede de escapar do fogo. Leitor, será o seu próprio medo da ira vindoura que impedirá que você escape dela? Esperamos que não.

Havia um que tendo estado muito tempo na cadeia não queria ir embora. A porta estava aberta; mas ele clamava com lágrimas que lhe permitissem permanecer onde estivera por tanto tempo. Afeiçoado pela prisão! Devotado às barras de ferro do corredor da prisão! Certamente o prisioneiro deve ter sido acertado na cabeça! Vocês estão desejosos de continuarem despertos, e nada mais? Não estão desejosos de serem perdoados de uma vez? Se vocês fossem se demorar em angústia e pavor, certamente vocês também estariam raciocinando mal! Se a paz deve ser recebida, recebam-na de uma vez! Porque permanecer na escuridão da cova, aonde seus pés afundam no barro sujo? Vocês não sabem o quão perto está à salvação de vocês. Se soubessem, certamente esticariam a mão e a pegariam, pois ali está; e está lá para ser recebida.

Não pensem que sentimentos de desespero o fariam adequado à misericórdia. Quando o peregrino, em sua jornada para a Porta Estreita, caiu no Pântano do Desânimo, vocês pensam que, quando a lama suja daquele pântano ficou presa em suas roupas, era para ele uma recomendação, para receber mais facilmente admissão na entrada do caminho? Não. O peregrino não pensava ser assim; nem deve você. Não é o que você sente que irá salvá-lo, mas o que Jesus sentiu. Ainda que houvesse algum valor curativo nos sentimentos, teriam de ser bons; e os sentimentos que nos fazem duvidar do poder de Cristo para salvar, e previnem nossa salvação nEle, de forma alguma é bom, mas uma cruel injúria ao amor de Jesus.

Nosso amigo veio ver-nos, e viajou por toda a nossa abarrotada Londres de trem, ou bonde, ou ônibus. De repente ele fica pálido. Perguntamos-lhe qual é o problema, e ele responde, “Eu perdi minha carteira, e continha todo o dinheiro que eu tinha no mundo”. Ele começa a falar o valor de cada moeda, e descreve os cheques, contas, notas e moedas. Dizemos-lhe que é um grande consolo para ele saber tão apuradamente o tamanho de sua perda. Ele não parece dar valor à nossa consolação. Garantimos-lhe que ele deve ser grato por ter um senso tão profundo de sua perda; pois muitas pessoas devem ter perdido suas carteiras e foram incapazes de calcular a perda. Nosso amigo não parece, entretanto, estar nem um pouco animado. “Não”, diz ele, “saber minha perda não me ajuda a recuperá-la. Diga-me onde achar o que é meu, e você me terá dado ajuda real; mas meramente saber minha perda não me dá nenhum conforto”. Da mesma forma, crer que você pecou, e que sua alma deve ser executada para a justiça de Deus, é algo bem apropriado não o salvará.
A salvação não vem pelo conhecimento de nossa própria ruína, mas por agarrar totalmente o livramento providenciado em Cristo Jesus. Uma pessoa que se recusa a olhar para o Senhor Jesus, e insiste em se afogar no seu pecado e ruína, nos lembra de um garoto que deixou cair uma moeda por uma grade aberta de um esgoto de Londres, e permaneceu lá por horas, achando conforto em dizer, “Ela rolou para lá! Exatamente entre aquelas duas barras de ferro eu a vi cair”. Pobre alma! Por muito tempo há de se lembrar dos detalhes de sua perda antes que consiga de volta qualquer valor com o qual possa comprar um pedaço de pão. Você vê o significado da parábola; lucre com ela.

A PALAVRA DE DEUS


Por John Stott

"E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
1 Coríntios 2: 1-5.

Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.
1 Coríntios 1:21


O evangelho é a verdade proveniente de Deus. Segundo Paulo, o que ele proclamou aos coríntios não foi "ostentação de linguagem", ou seja, sabedoria humana ou a sabedoria do mundo, mas a palavra de Deus ou a sabedoria de Deus, que aqui ele chama de "testemunho" (martyrion) ou "mistério" (mysterion). As palavras gregas são similares e a evidência do manuscrito entre elas é perfeitamente equilibrada. Além do mais, ambas ocorrem dentro dos dois primeiros capítulos desta carta: martyrion pode ter relação com 1.6, enquanto que mysterion pode estar relacionada com 2.7. Qualquer que seja a leitura correta, o sentido é o mesmo, isto é, que a mensagem de Paulo veio de Deus. Se a palavra correta é "testemunho", então significa "a verdade confirmada de Deus"; se o certo é "mistério", então é "a verdade secreta de Deus" (BLH). Em todo caso, o evangelho do apóstolo é a verdade de Deus.

É aqui que deve começar toda evangelização de verdade. Nós não inventamos nossa mensagem. Não abordamos as pessoas com nossas próprias especulações humanas. Somos, isto sim, portadores da Palavra de Deus, encarregados do evangelho de Deus, mordomos dos segredos revelados de Deus.

Além disso, o que Paulo transmitia era compatível com sua mensagem. Ele não foi até os coríntios com "ostentação de linguagem" nem com "sabedoria" (versículo 1). Quanto ao conteúdo, ele abriu mão da orgulhosa sabedoria humana, submetendo-se humildemente, ao invés disso, à palavra de Deus acerca de Cristo (versículo 2). Quanto à mensagem, ele abriu mão da orgulhosa retórica humana para basear-se humildemente no poder do Espírito Santo (versículos 3 a 5). Como diz C. H. Hodge em seu comentário, ele não veio "nem como retórico nem como filósofo".

Por favor, não me interpretem mal. Não existe aqui nenhuma tentativa de justificar um evangelho sem conteúdo, nem tampouco um estilo sem forma. O que Paulo está abdicando aqui não é uma substância doutrinária, nem um argumento racional, mas somente a sabedoria e a retórica do mundo. Nós sabemos disso porque Lucas nos conta em Atos 18, como foi o ministério evangelístico do apóstolo em Corinto. Primeiro ele "discorria na sinagoga" todo sábado, "persuadindo tanto judeus como gregos" (versículo 4). Daí ele passou dezoito meses "ensinando entre eles a palavra de Deus" (versículo 11). Por isso ele pôde levar adiante o seu ministério de ensino em Corinto tentando "persuadir" as pessoas. Ele não somente ensinava a verdade às pessoas, mas também convencia-as da verdade.

Portanto, quando convidamos as pessoas a receberem a Cristo, não temos nenhum direito de fechar, endurecer ou anular a mente delas. De maneira nenhuma. Deus as criou como seres racionais e espera que usem o seu raciocínio. Para dizer a verdade, elas nunca haverão de crer, a não ser que o Espírito as ilumine. Sem isso, todo argumento será infrutífero. "Mas", escreve Gresham Machen, "só porque o argumento é insuficiente, isto não significa que ele seja desnecessário. O que o Espírito Santo faz no novo nascimento não é tornar cristã uma pessoa, independente das evidências, mas, sim, dissipar a neblina dos seus olhos e capacitá-la a atentar para essas evidências."

Assim, o evangelho é a verdade que vem de Deus e foi confiada a nós. Nossa responsabilidade é apresentá-la da forma mais clara, coerente e convincente possível e, assim como os apóstolos, argumentá-la com a maior persuasão possível. E em todo o tempo, ao fazê-lo, estaremos confiando que o Santo Espírito da verdade haverá de dissipar a ignorância das pessoas, superar seus preconceitos e convencê-las acerca de Cristo.


Retirado do livro: "Ouça o Espírito, Ouça o Mundo".