terça-feira, 27 de setembro de 2011

SÉRIE: FOME POR DEUS - A ORAÇÃO - PARTE 1


Por Hernandes Dias Lopes

Oração

A oração precisa ser prioridade tanto na vida do pregador como na agenda da igreja. A profundidade de um ministério é medida não pelo sucesso diante dos homens, mas pela intimidade com Deus. A grandeza de uma igreja é medida não pela beleza de seu edifício ou pela pujança de seu orçamento, mas pelo seu poder espiritual através da oração. No século dezenove Charles Haddon Spurgeon disse que em muitas igrejas a reunião de oração era apenas o esqueleto de uma reunião, onde as pessoas não mais compareciam. Ele concluiu que “se uma igreja não ora, ela está morta”.

Infelizmente, muitos pregadores e igrejas têm abandonado o alto privilégio de uma vida abundante de oração. Hoje nós gastamos mais tempo com reuniões de planejamento do que com oração. Dependemos mais dos recursos dos homens que dos de Deus. Confiamos mais no preparo humano, que na capacitação divina. Consequentemente, temos visto muitos pregadores eruditos no púlpito, mas temos ouvido uma imensidão de mensagens fracas. Muitos pregadores têm pregado sermões eruditos, porém sem o poder do Espírito Santo. Eles têm luz em suas mentes, contudo não têm fogo no coração. Tem erudição, mas não têm poder. Têm fome de livros, mas não têm Deus. Eles amam o conhecimento, mas não buscam intimidade com Deus. Pregam para a mente, e não para o coração. Eles têm uma boa performance diante dos homens, mas não diante de Deus. Gastam muito tempo preparando seus sermões, mas não preparando seus corações. Sua confiança está firmada na sabedoria humana e não no poder de Deus.

Homens secos pregam sermões secos e sermões secos não produzem vida. Como escreve E. M. Bounds, “homens mortos pregam sermões mortos, e sermões mortos matam”. Sem oração não existe pregação poderosa. Charles Spurgeon diz que “todas as nossas bibliotecas e estudos são um mero vazio comparado com a nossa sala de oração. Crescemos, lutamos e prevalecemos na oração ‘em secreto’.” Arturo Azurdia cita Edward payson, afirmando que “é no lugar secreto de oração que a batalha é perdida ou ganha”. A oração tem uma importância transcendente, porque ela é o mais poderoso instrumento para promover a Palavra de Deus. É mais importante ensinar um estudante a orar do que a pregar.

Se desejamos ver a manifestação do poder de Deus, se desejamos ver vidas sendo transformadas, se desejamos ver um saudável crescimento da igreja, então devemos orar regularmente, privativa, sincera e poderosamente. O profeta Isaías diz que a nossa oração deve ser perseverante, expectante, confiante, ininterrupta, importuna e vitoriosa (Is 62.6-7). O inferno treme quando uma igreja se dobra diante do Senhor Todo-Poderoso para orar. A oração move a mão onipotente de Deus. Quando a igreja ora, os céus se movem, o inferno treme e coisas novas acontecem na terra; “quando nós trabalhamos, nós trabalhamos; mas quando nós oramos, Deus trabalha”. A oração não é o oposto de trabalho; ela não paralisa a atividade. Em vez disto, oração é em si mesma o maior trabalho; ela trabalha poderosamente, deságua em atividade, estimula o desejo e o esforço.

Oração não é um ópio, mas um tônico; não é um calmante para o sono, mas o despertamento para uma nova ação. Um homem preguiçoso não ora e não pode orar, porque a oração demanda energia. O apóstolo Paulo considera oração como uma luta e uma luta agônica (Rm 15.30). Para Jacó a oração foi uma luta com o Senhor. A mulher sirofenícia com o Senhor através da oração até que saiu vitoriosa. Antes de falar aos homens, o pregador precisa viver diante de Deus. A oração é o oxigênio do ministério. “A vida de oração do ministro e da igreja são o fundamento da pregação eficaz”.

A oração traz poder e refrigério à pregação, tem mais poder para tocar os corações do que milagres de palavras eloqüentes. Como pregadores, devemos ser uma voz a falar em nome de Deus, como João Batista (Mt 3.3), que pregou não no templo, não numa catedral ilustre, não nos salões adornados dos reis, mas no deserto e grandes multidões iam ouvi-lo, sendo confrontadas pela sua poderosa mensagem (Mt 3.5-10; Lc 3.7-14). Não basta ser um eco, é preciso ser uma voz. Não basta pregar, precisamos ser boca de Deus. O profeta Elias viveu na presença de Deus (I Rs 17.1; 18.15); orou intensa, persistente e vitoriosamente (Tg 7.17-18). Por conseqüência, experimentou a intervenção de Deus em sua vida e em seu ministério. A viúva de Sarepta testificou a seu respeito, “Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade” (I Rs 17.24). Muitos ministros pregam a Palavra de Deus, mas não são boca de Deus. Falam sobre o poder, mas não têm poder em suas vidas. Pregam sobre vida abundante, mas não tem vida abundante. Suas vidas contradizem a sua mensagem.

David Eby comentando sobre a importância da oração na vida do pastor, diz que a “oração é a estrada de Deus para ensinar o pastor a depender do poder de Deus, é a avenida de Deus para os pastores receberem graça, ousadia, sabedoria e amor para ministrarem a Palavra”.

Muitos pregadores crêem na eficácia da oração, mas poucos pregadores oram. Muitos ministros pregam sobre a necessidade da oração, mas poucos ministros oram. Eles lêem muitos livros sobre oração, mas não oram. Têm bons postulados teológicos sobre oração, mas não têm fome por Deus. Em muitas igrejas as reuniões de oração estão agonizando. As pessoas estão muito ocupadas para orar. Elas têm tempo para viajar, trabalhar, ler, descansar, ver televisão, falar sobre política, esportes e teologia, mas não gastam tempo orando. Consequentemente nós temos, às vezes, gigantes do conhecimento no púlpito, que são pigmeus no lugar secreto de oração. Tais pregadores conhecem muito a respeito de Deus, mas muito pouco a Deus.

Pregação sem oração não provoca impacto. Sermão sem oração é sermão morto. Não estaremos preparados para pregar enquanto não orarmos. Lutero tinha um moto: “Aquele que orou bem, estudou bem”. David Larsen cita Karl Barth: “Se não há grande agonia em nossos corações, não haverá grandes palavras em nossos lábios”. O que precisamos fazer? Nossa primeira e maior prioridade no ministério é voltarmo-nos para Deus em fervente oração. A obra de Deus não é a nossa prioridade, mas sim o Deus da obra. Jerry Vines escreve:

“O pregador muitas vezes gasta grande parte do seu tempo lidando com as coisas de Deus; lê sua Bíblia para preparar sermões; estuda comentários; lidera as reuniões e os grupos de oração. Está constantemente falando a linguagem de Sião. Mas o acúmulo desta obra santa pode endurecer a consciência da necessidade de estar a sós com Deus em sua própria vida pessoal”.

Realizar a obra de Deus sem oração é presunção. Novos métodos, planos e organizações para levar a igreja ao crescimento saudável, sem oração, não são os métodos de Deus. “A igreja está buscando melhores métodos; Deus está buscando melhores homens”. E. M. Bounds corretamente comenta:

“O que a igreja precisa hoje não é de mais ou melhores mecanismos, nem de nova organização ou mais e novos métodos. A igreja precisa de homens a quem o Espírito possa usar, homens de oração, homens poderosos em oração. O Espírito Santo não flui através de métodos, mas através de homens. Ele não vem sobre mecanismos, mas sobre homens. Ele não unge planos, mas homens. Homens de oração!”

Quando a igreja cessa de orar, deixa de crescer. O diabo trabalha continuamente para impedir a igreja de orar. Ele tem muitas estratégias. O diabo usou três estratégias para neutralizar o crescimento da igreja apostólica em Jerusalém: perseguição (Atos 4), infiltração (Atos 5) e distração (Atos 6). Mas os apóstolos enfrentaram todos esses ataques com oração. Eles entenderam que a oração e a Palavra de Deus devem caminhar juntos. “A oração e o ministério da Palavra permanecerão de pé ou cairão juntos”. Os apóstolos decidiram, “quanto a nós, nos consagraremos á oração e ao ministério da Palavra” (At 6.4). Sobre este texto Charles Bridges afirmou: “Oração é a metade do nosso ministério; e ela dá á outra metade todo o seu poder e sucesso”. Oração e palavra são os maiores princípios do crescimento da igreja no livro de Atos. Oração e pregação são os instrumentos providenciados por Deus para conduzir sua própria igreja ao crescimento. David Eby interpreta muito bem quando diz que, “O manual de Deus sobre o crescimento da igreja vincula pregação e oração como aliados inseparáveis”. Entrementes, oração vem primeiro, porque pregação sem oração não tem vida nem pode produzir vida. A pregação poderosa requer oração. A pregação ungida e o crescimento da igreja requerem oração.

“Pastor, você deve orar. Orar muito. Orar intensamente e seriamente, zelosamente e entusiasticamente, com propósito e com determinação. Orar pelo ministério da Palavra entre o seu rebanho e em sua comunidade. Orar pela sua própria pregação. Mobilize e recrute seu povo para orar pela sua pregação. Pregação poderosa não acontecerá à parte da sua própria oração. Oração freqüente, objetiva, intensa e abundante é requerida. A pregação torna-se poderosa quando um povo fraco ora humildemente. Esta é a grande mensagem do livro de Atos. O tipo de pregação que produz o crescimento da igreja vem pela oração. Pastor, dedique-se à oração. Continue em oração. Persista em oração por amor da glória de Deus no crescimento da igreja” David Eby.


Continua... (Retirado do livro: "Piedade e Paixão")

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SÉRIE: AMOR SEM MEDIDAS - PARTE 2


Por Charles H. Spurgeon

Recordem que nosso Senhor Jesus Cristo morreu uma morte que seus concidadãos consideravam como uma morte maldita. Para os romanos, era a morte de um escravo condenado, que continha todos os elementos de dor, desonra e escárnio, mesclados ao limite máximo. “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Oh, que maravilhoso o alcance desse amor, que Jesus Cristo necessitasse morrer!

II. Em segundo lugar, observemos neste momento, e penso que posso dizer que o fazemos com igual admiração, o amor de Deus NO PLANO DE SALVAÇÃO. Ele o expressou assim: “para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna.” O caminho da salvação é extremamente simples de entender, e extremamente fácil de praticar, tão logo o coração seja levado a querer e a obedecer. O método do pacto da graça dista tanto do método do pacto de obras como a luz dista das trevas.

Não se diz que Deus deu Seu Filho a todos aqueles que guardam Sua lei, pois não podemos guardá-la e, portanto, o dom não estaria disponível para nenhum de nós. Nem tampouco se diz que Ele deu Seu Filho a todos aqueles que experimentam um desespero terrível e um remorso amargo, porque isso não é sentido por muitos que, no entanto formam o próprio povo do Senhor. Mas o grandioso Deus deu a Seu Filho para que “todo aquele que nele crê” não pereça. A fé, sem importar quão fraca seja, salva a alma. A confiança em Cristo é o caminho seguro da felicidade eterna.

Agora, que significa crer em Jesus? É simplesmente isto: que vocês se confiem a Ele. Se seus corações estão prontos, ainda que nunca antes tenham crido em Jesus, eu espero que vocês creiam nEle agora. Oh Espírito Santo, por Tua graça concede-nos isto. É, em primeiro lugar, que vocês concordem firmemente e de coração com esta verdade: que Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, para que se pusesse no lugar dos homens culpados, e que Deus derramou nEle todas as nossas iniquidades, para que Ele recebesse o castigo merecido por nossas transgressões, havendo sido feito maldição por nossa causa. Devemos crer de todo coração na Escritura que diz: “o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e por suas pisaduras fomos sarados.”

Peço-lhes que concordem com a grandiosa doutrina da substituição, que é a medula do Evangelho. Oh, que o Espírito Santo os leve a entender de todo coração essa doutrina de imediato; pois sendo tão maravilhosa, é um fato que Deus estava reconciliando o mundo Consigo mesmo em Cristo, não lhes imputando seus pecados. Oh, desejo que vocês possam sentir a alegria de que isto é verdade, e possam estar agradecidos que um fato tão bendito seja revelado pelo próprio Deus. Creiam que o sacrifício substitutivo do Filho de Deus é certo; não coloquem objeções ao plano, não questionem sua validade ou sua eficácia, como muitas pessoas fazem. Ai, eles pisoteiam o grandioso sacrifício de Deus, e o consideram um triste invento.

Quanto a mim, posto que Deus ordenou salvar o homem por meio de um sacrifício substitutivo, alegremente estou de acordo com Seu método, e não vejo nenhuma necessidade de fazer algo mais, a não ser admirar esse plano e adorar o Seu Autor. Eu me regozijo e me alegro que se tenha pensado em um plano assim, pelo qual a justiça de Deus é reivindicada, e Sua misericórdia fica em liberdade de fazer tudo o que Ele deseja. O pecado é castigado na pessoa de Cristo, e a misericórdia é outorgada ao culpado. Em Cristo a misericórdia é sustentada pela justiça, e a justiça é satisfeita por um ato de misericórdia.

O sábio segundo o mundo diz coisas duras acerca deste plano da sabedoria infinita; porém quanto a mim, amo o simples nome da cruz, e o considero como o centro da sabedoria, o ponto central do amor, o coração da justiça. Este é o ponto central da fé: concordar de coração com o fato de que Jesus foi entregue para que sofresse em nosso lugar, estar de acordo com toda nossa alma com esta forma de salvação.

O ponto seguinte é que tu aceites isto para ti mesmo. No pecado de Adão, tu não pecaste pessoalmente, porque ainda não existias; contudo tu caíste; e não podes te queixar disso agora, pois voluntariamente endossaste e adotaste o pecado de Adão, ao cometer transgressões pessoais. Puseste tuas mãos, por assim dizer, sobre o pecado de Adão, e te apropriaste dele, ao cometer pecados pessoais e reais. Assim, pereceste pelo pecado de outro, que tu adotaste e endossaste; e da mesma maneira deves ser salvo pela justiça de outro, justiça esta que deves aceitar e apropriar-te dela. Jesus ofereceu uma expiação, e a expiação se converte em tua quando a aceitas e põe tua confiança nEle. Quero que agora digas:

Minha fé agora põe sua mão

Em Tua amada cabeça,

Entretanto, como penitente me levanto,

E aqui confesso meu pecado.”

Certamente este não é um assunto muito difícil. Dizer que Cristo que foi pendurado na cruz será meu Cristo, minha garantia, não necessita nenhum esforço intelectual nem caráter sólido; contudo é o ato que traz a salvação da alma. Uma coisa mais é necessária: a confiança pessoal. Primeiro vem o estar de acordo com a verdade, e em seguida a aceitação dessa verdade aplicada a cada um; e logo um simples confiar-se inteiramente a Cristo, como um substituto. A essência da fé é a confiança, a dependência, a segurança. Joguem longe qualquer outra confiança de qualquer tipo, exceto a confiança Jesus. Não permitam nem a menor sombra de confiança em qualquer coisa que vocês possam fazer ou ser. Olhem unicamente para Ele, que Deus estabeleceu como a propiciação pelo pecado. Estou fazendo isto neste momento; vocês não farão o mesmo? Oh, que o doce Espírito de Deus os guie agora a confiar em Jesus!

Vejam então o amor de Deus ao colocar isto em termos tão simples e tão facéis. Oh, tu, pecador, que estás quebrantado, esmagado e sem esperança, tu não podes fazer nada, porem, por acaso não pode crer nisso que é verdade? Não pode suspirar; não pode gritar; não pode derreter seu coração de pedra; porem, não podes crer que Jesus morreu por ti, e que Ele pode mudar teu coração e converter-te em uma nova criatura? Se tu podes crer nisto, então confia que Jesus o fará, e serás salvo; pois quem crê nEle é justificado. “para que todo aquele que nele crê tenha vida eterna.” És um homem salvo. Seus pecados te são perdoados. Podes ir-te em paz, e não pecar mais.


Continua...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SÉRIE: AMOR SEM MEDIDAS - PARTE 1

Por Charles C. Spurgeon


“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna.” João 3:16.(ACF)

Hoje temos que falar acerca do amor de Deus: “Deus amou o mundo de tal maneira”. Esse amor de Deus é uma coisa muito maravilhosa, especialmente quando o vemos derramado sobre um mundo perdido, arruinado, culpado. O que havia no mundo para que Deus o amasse dessa maneira? Não havia nada amável nele. Nenhuma flor perfumada crescia neste árido deserto. Inimizade contra Ele, ódio pela Sua verdade, desprezo pela Sua lei, rebelião contra Seus mandamentos; esses eram os espinhos e sarças que cobriam a terra baldia; nenhuma coisa desejável florescia ali.

Entretanto, o texto nos diz que: “Deus amou o mundo.” O amou “de tal maneira” que nem mesmo o escritor do livro de João poderia quantificá-lo; mas o amou de uma maneira tão grande, tão divina, que deu o Seu Filho, Seu único Filho, para que redimisse o mundo de perecer, e para que juntasse do mundo um povo para Seu louvor.

De onde veio esse amor? Não de nada externo ao próprio Deus. O amor de Deus surge dEle mesmo. Ele ama porque fazê-lo é a Sua natureza. “Deus é amor”. Conforme mencionei, nada sobre a face da terra pode ter merecido o Seu amor. Ao contrário, havia muito que merecia Seu desagrado. Esta corrente de amor flui de Sua própria fonte secreta na Deidade eterna, e não deve nada a nenhuma chuva procedente da terra, nem a nenhum riacho; brota de debaixo do trono eterno, e se abastece das fontes do infinito. Deus amou porque Ele quis amar. Quando nos perguntamos por que Deus amou esse ou aquele homem, temos que regressar à resposta de nosso Salvador a essa pergunta: “Sim, Pai, porque assim lhe agradou” Deus tem tal amor em Sua natureza que precisa deixá-lo fluir em direção a um mundo que está perecendo por causa de seu próprio pecado voluntário. E quando fluiu era tão profundo, tão largo, tão forte, que nem sequer a inspiração podia calcular sua medida e, portanto, o Espírito Santo nos deu essas grandiosas palavras, DE TAL MANEIRA, deixando que intentemos medi-lo, conforme vamos percebendo mais e mais esse amor divino.

Agora, houve uma ocasião na qual o grandioso Deus quis manifestar Seu amor sem medida. O mundo tristemente havia se extraviado, havia perdido a si mesmo; o mundo foi julgado e condenado; foi entregue a perecer, por causa de suas ofensas; e tinha necessidade de ajuda. A queda de Adão e a destruição da humanidade abriram um amplo espaço, assim como suficiente margem para o amor Todo Poderoso. Em meio às ruínas da humanidade, tinha espaço para mostrar quanto Jeová amava os filhos dos homens; pois o alcance do Seu amor abarcava o mundo, o objeto desse amor era precisamente resgatar os homens para que não caíssem no abismo, e o resultado desse amor foi encontrar um resgate para eles.

O propósito específico desse amor era tanto negativo quanto positivo; era que, crendo em Jesus, os homens não perecessem, mas que alcançassem a vida eterna. A desesperada enfermidade do homem foi o motivo da introdução desse remédio divino que unicamente Deus poderia ter planejado e ministrado. Por meio do plano de misericórdia, e do grandioso dom que se requeria para levar a cabo esse plano, o Senhor encontrou o meio para manifestar seu amor sem limite aos homens culpados.

Se não houvesse existido nenhuma queda, e nenhuma morte, Deus poderia nos mostrar o Seu amor da mesma maneira que faz com os espíritos puros e perfeitos que rodeiam Seu trono.

Entretanto, jamais poderia mostrar Seu amor a nós de tal maneira especial como agora o faz. Na dádiva de Seu Filho unigênito, Deus revela Seu amor para conosco, na medida em que, sendo nós ainda pecadores, a seu tempo morreu Cristo pelos ímpios.

O fundo negro do pecado faz ressaltar muito mais claramente o fulgor da linha do amor. Quando o relâmpago escreve com dedos de fogo o nome do Senhor na amplidão da escura face da tempestade, nos achamos forçados a vê-Lo; assim também o quando o amor inscreve a cruz sobre as negras tábuas de nosso pecado, ainda os olhos que não podem ver estão obrigados a ver que “Nisto consiste o amor.”

I. A primeira consideração é o DOM: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito.” Os homens que amam muito estão prontos a dar muito, e usualmente podem medir a verdade deste amor através de seus sacrifícios e renúncias. Esse amor que não guarda nada para si, mas se esgota em ajudar e abençoar o seu objeto, e o verdadeiro amor, e não apenas um amor de nome. O pouco amor se esquece de trazer água para lavar os pés, mas o grande amor quebra o vaso de alabastro e derrama seu valioso perfume.

Então considerem qual foi o dom que Deus deu. Não poderia encontrar a expressão correta se tentasse explicar completamente o que é esta bênção que não tem preço; e não vou arriscar-me a fracassar ao tentar o impossível. Unicamente vou convidá-los a pensar na sagrada Pessoa que foi dada pelo Pai para demonstrar Seu amor para com os homens. Tratava-se do Seu unigênito Filho: Seu Filho amado, em quem tinha Sua complacência.

Nenhum de nós teve um filho assim para dá-lo. Nossos filhos são filhos de homens; o dEle era Filho de Deus. O Pai deu parte de Si mesmo, Ele que era Um com Ele. Quando o grandioso Deus deu a Seu Filho estava dando a Si próprio, pois Jesus, em sua natureza eterna não é menos que Deus. Quando Deus deu a Deus por nossa causa, estava se dando a Si mesmo. Quem pode medir este amor?

Vocês que são pais, julguem o quanto amam a seus filhos: poderiam entregá-los à morte por causa de seus inimigos? Vocês que têm um filho único, julguem quão entrelaçados estão seus corações ao seu primogênito, ao seu unigênito filho. Não houve uma maior prova do amor de Abraão a Deus do que quando não vacilou em entregar-Lhe seu filho, seu único filho, seu Isaque amado; e certamente não pode haver uma maior manifestação de amor que a do Eterno Pai, ao entregar o Seu unigênito Filho à morte por nós.

Nenhum ser vivente está disposto a perder a sua prole; o homem sofre uma dor muito aguda quando perde um filho. Acaso Deus não o sofre ainda mais? Há uma história muito popular relativa ao carinho de uns certos pais para com seus filhos. A história relata que houve fome na terra, no Leste, e que um pai e uma mãe se viram sem absolutamente nada para comer, e a única possibilidade de preservar a vida da família seria vender um dos filhos para que fosse escravo. Então os pais consideraram o assunto. O tormento de fome se tornou intolerável, e as súplicas de seus filhos pedindo pão puxavam dolorosamente as cordas de seus corações de tal maneira, que tiveram que retomar seriamente a idéia de vender a um deles, para salvar a vida de todos os demais. Tinham quatro filhos. Qual deles deveria ser vendido? Certamente não devia ser o maior: como poderiam desfazer-se de seu primogênito? O segundo, era tão parecido com seu pai que parecia uma miniatura dele, e a mãe disse que ela nunca se separaria dele. O terceiro era tão singularmente como sua mãe que o pai disse que preferiria morrer antes que este querido filho se convertesse em um escravo; e com relação ao quarto filho, ele era o Benjamim, seu caçula, seu amado filho, e não podiam separar-se dele. Finalmente concluíram que seria melhor morrerem todos juntos para não terem que separar-se voluntariamente de algum de seus filhos.

Vocês não simpatizam com esses pais? Vejo que simpatizam sim. Contudo, Deus nos amou de tal maneira que, para dizê-lo com muita ênfase, pareceria que nos amou mais que a Seu único Filho e não livrou a Ele, para perdoar-nos. Deus permitiu que entre todos os homens, Seu filho perecesse “para que todo aquele que nEle crê, não pereça, mas tenha vida eterna.”

Se desejarem ver o amor de Deus neste grande procedimento, devem considerar como Ele deu a Seu Filho. Ele não entregou a Seu Filho, como tu poderias fazer, a alguma profissão que teria como consequência desfrutar de sua companhia; senão que mandou o Seu Filho ao exílio entre os homens. O enviou à terra naquele presépio, unido em uma perfeita humanidade, que no princípio estava contida na forma de uma criança. Ali dormia, onde se alimentava um boi com longos chifres! O Senhor Deus enviou o herdeiro de todas as coisas para que trabalhasse na oficina de um carpinteiro: martelando pregos, usando o serrote, empunhando o pincel. O enviou no meio de escribas e fariseus, cujos olhos astutos O vigiavam e cujas línguas ferinas O açoitavam com calúnias vis. O enviou para a terra a fim de que passasse fome e sede, em meio a uma pobreza tão terrível que não tinha um lugar onde apoiar Sua cabeça. O enviou à terra para que O açoitassem e O coroassem de espinhos, e batessem nEle e O esbofeteassem. No fim, O entregou à morte: a morte de um criminoso, a morte do crucificado.

Continua...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SÉRIE: A IRRACIONALIDADE DA PREOCUPAÇÃO - PARTE 2


Por J. Dwight Pentecost


Em segundo lugar o Senhor apontou para as aves do céu. "Observai as aves do céu; não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não vaieis vós muito mais do que ás aves?" (Mateus 6:26). Ele chamou a atenção para o cuidado que Deus dispensa àquilo que criou. Quando Deus criou, ele assumiu a responsabilidade de prover o sustento de suas criaturas. Podemos confiar em que ele é fiel à sua obrigação.

Nossa ansiedade (v. 27) com relação às necessidades materiais não pode alongar nossos dias, porque Deus determinou o quinhão de nosso tempo.

O homem pode começar com previsão prudente a prover para o futuro, e a Palavra de Deus certamente não o proíbe. Muitos, porém, logo se excedem na previsão prudente, e fazem do dinheiro um fim em si mesmo, um deus a quem passam a servir. O Senhor não era contrário à provisão prudente para os dias futuros, mas proibiu-nos confiar naquilo que acumulamos como se esses bens pudessem alongar ou distribuir a duração de nossa vida. O homem pode abreviar seus dias pela preocupação, mas certamente não pode aumentá-los.

Em terceiro lugar, nosso Senhor demonstrou o cuidado de Deus revelado na natureza. "E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?" (vv. 28-30).

A flor do campo desabrocha exibindo sua beleza durante umas poucas horas, e desaparece. A flor é passageira, entretanto Deus prove para ela na criação. Se Deus prove para o que é passageiro, não provera para o que é eterno? Deus lhe deu vida e promete sustentá-lo enquanto você viver. Quando Deus trouxe você ao seio da família de Cristo como nova criatura, ele deu-lhe vida eterna. Deus se obrigou a sustentá-lo na vida eterna. Se Deus não abandona o lírio do campo que vive umas poucas horas, abandonará ele os que desejam habitar com ele para sempre?

Em quarto lugar, o Senhor mostrou que a ansiedade não convém ao filho de Deus. "Porque os gentios é que procuram todas estas coisas" (v. 32). O amor das coisas materiais é característica dos pagãos. A pessoa sem Deus deseja acumular porque as posses são a sua única segurança. Ela não tem nenhum deus a prover para si, nenhum deus em quem possa confiar. Portanto, o pagão sábio deve acumular tudo o que puder. O Senhor disse que quando a pessoa faz da busca dos bens materiais o alvo de sua vida e neles encontra segurança, se coloca no mesmo nível do pagão sem Deus. Mas aquilo que pode ser bom para o pagão, não serve para o filho de Deus.

Assim, "buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (v. 33). O que o Senhor disse é que o centro da vida para o filho de Deus, jamais devem ser as coisas materiais. O centro não são as coisas, mas uma Pessoa. "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça." "Para em todas as coisas ter [Jesus Cristo] a primazia" (Colossenses 1:18). Quando o filho de Deus faz da busca das coisas materiais o alvo de sua vida, ao ponto de ser por elas escravizado, sua vida está fora de centro. O que chegou a ter primazia em sua vida não a tem na mente de Deus. O filho de Deus deve fixar como alvo de sua vida buscar a justiça de Deus e não os bens materiais.

Finalmente o Senhor ressaltou que a preocupação com o futuro e com os bens materiais é inútil porque Deus nos dá um dia por vez. "Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã" (v. 34). Ele não nos proibiu fazer planos, mas disse que não temos necessidade hoje do alimento de amanhã. Portanto, não necessitamos de reserva suficiente hoje para comprar o alimento de amanhã, e pagar o aluguel de amanhã e as obrigações do próximo mês, porque Deus nos concede um dia por vez. "O amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal." Os homens medem as riquezas segundo o que temos hoje para muitos dias à frente. Essa perspectiva não é bíblica. A vida da fé não é confiar em que Deus nos dê hoje o de que iremos necessitar para o resto da vida. A vida da fé confia em que Deus nos dá hoje o de que precisamos hoje. Se temos tudo o de que precisamos hoje, somos ricos.

Ora, quando nosso Senhor apresentou esses motivos por que não devemos andar ansiosos pelas coisas materiais, mas buscar o reino de Deus e a sua justiça, ele chegou a uma conclusão: "Portanto [uma vez que esses motivos são verdadeiros], não vos inquieteis [não deis lugar à ansiedade], dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos?... pois vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas elas" (vv. 31-32). Você é filho dele, e ele assume a obrigação de cuidar não só de sua alma mas também de seu corpo. Ele lhe pede que confie, em vez de preocupar-se. O antídoto de Deus para a preocupação, ansiedade, amor às coisas materiais, é muito simples ― confiar num Deus fiel. Deus ainda não falhou com seus filhos. Portanto, não se escravize aos bens materiais de tal maneira que o amor a eles produza ansiedade em sua vida. Antes, confie em que o Pai amoroso cumprirá o que prometeu. "Meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Filipenses 4:19).

Não podemos servir ao senhor errado e experimentar a paz de Deus em nossa vida. Quando buscarmos a justiça de Cristo e confiarmos em que ele realize a sua perfeita vontade em nós, então estaremos livres da escravidão às coisas e livres de preocupar-nos com elas. Dê-nos Deus tal confiança nele que não andemos ansiosos.


Retirado do livro "O Sermão da Montanha".