quinta-feira, 31 de março de 2011

CULTIVEMOS A SIMPLICIDADE E A SOLIDÃO

Por A. W. Tozer


Nós cristãos temos de simplificar as nossas vidas, ou leremos de perder tesouros incontáveis, na terra e na eternidade.

A civilização moderna é tão complexa que torna a vida de de­voção quase impossível. Cansa-nos multiplicando distrações e nos prostra destruindo a nossa soledade, quando, doutro modo, podería­mos beber e renovar as nossas forças antes de sair para enfrentar de novo o mundo.

"A alma que gosta de meditar, retira-se para a solidão", disse o poeta de outros tempos, tempos mais tranqüilos; mas, onde está a solidão para a qual podemos retirar-nos hoje? A ciência, que pro­piciou aos homens certas comodidades materiais, roubou-lhes as al­mas, cercando-os com um mundo hostil à sua existência. "Converse com o seu coração em seu leito, e fique tranqüilo", é um conselho sábio e com poder curativo, mas como pode ser seguido nestes dias de jornais, telefone, rádio e televisão? Estes brinquedos modernos, como filhotes de tigre de estimação, cresceram e ficaram tão grandes e perigosos, que ameaçam devorar-nos a todos. O que foi planejado para ser uma bênção tornou-se positivamente uma maldição. Lugar nenhum está salvo agora da intrusão do mundo.

Um modo pelo qual o mundo civilizado destrói os homens é impedindo-os de ter os seus próprios pensamentos.

Os nossos "meios de comunicação enormemente melhorados", de que os de visão curta se jactam alto e bom som, agora capaci­tam uns poucos homens, em centros estratégicos, a alimentar mi­lhões de mentes com conteúdo de pensamento alheio, pré-fabricado e pré-digerido. Uma pequena assimilação, sem esforço, destas idéias tomadas por empréstimo, e o homem comum terá acionado todo o pensamento que quer ou que pode acionar.

Esta sutil lavagem cere­bral prossegue dia após dia e ano após ano, para prejuízo eterno da população — população que, casualmente, está disposta a pagar gran­des somas de dinheiro para obter trabalho pronto, sendo que a ra­zão disso, suponho eu, é que isso a livra da tarefa árdua e muitas vezes assustadora de chegar a decisões independentes pelas quais terá de assumir a responsabilidade.

Houve época, não faz muito tempo, em que o lar de um homem era o seu castelo, refúgio seguro para o qual podia voltar para ter sossego e soledade. Ali "as chuvas do céu podem despejar-se, mas nem o próprio rei pode entrar sem permissão", diziam os orgulho­sos ingleses, e não se gabavam em vão. Isso era de fato um lar. So­bre tão sagrado lugar o poeta cantou:

Oh! quando a salvo estou em meu rústico lar, piso o orgulho da Grécia e a arrogância de Roma; e quando à boa sombra dos pinhais me estendo, onde a estrela da tarde tão pura resplende, rio-me do saber e da vaidade do homem, das escolas sofistas e da casta dos doutos; pois, que são eles todos, em sua presunção, quando na sarça o homem pode estar com Deus?

Embora um tanto fora do escopo da presente obra, não posso abster-me de observar que o sinal mais ominoso da destruição que está para sobrevir ao nosso país é o passamento do lar americano. Os americanos não vivem mais nos lares, mas nos teatros. Os mem­bros de muitas famílias mal se conhecem uns aos outros, e o rosto de algum astro popular da TV é tão familiar para muitas esposas como o dos seus maridos. Que ninguém sorria. Antes, devemos cho­rar pelo que isso pressagia.

De nada adiantará buscarmos proteção debaixo das estrelas e listras da nossa bandeira. Nenhuma nação cujo povo se tenha vendido por pão e circo pode durar por muito tempo. Os nossos pais dormem profundamente, e a desagradável con­fusão do ruído comercializado que nos engolfa como algo do Inferno de Dante, não pode perturbar o sono deles. Eles nos legaram uma formosa herança. Para preservar essa herança, precisamos ter um caráter nacional tão forte como o deles. E isto só se pode desenvol­ver num lar cristão.

A necessidade de soledade e quietude nunca foi maior do' que hoje. O que o mundo fará a respeito é problema dele. Aparente­mente, as massas querem as coisas como estão, e na maioria os cris­tãos acham-se tão conformados com a presente era, que eles também querem que as coisas continuem como estão. Talvez estejam um pouco aborrecidos pelo clamor e pela vida de aquário que levam, mas evidentemente não estão suficientemente aborrecidos para fazer algo a respeito. Contudo, há alguns poucos cristãos que já deram o basta. Querem reaprender os caminhos da soledade e da simplicidade, e obter as riquezas infinitas da vida interior. Querem descobrir a bem-aventurança daquilo que o Dr. Max Reich chamava de "solidão espi­ritual". A esses irmãos ofereço um breve parágrafo de conselho.

Retire-se do mundo todo dia para algum local privado, ainda que seja apenas o quarto (por um tempo fiz o meu retiro na câmara da caldeira de aquecimento, por falta de lugar melhor). Permaneça no local secreto até que os ruídos circundantes comecem a esvair-se do seu coração e a sensação da presença de Deus o envolva. Deli­beradamente desligue os sons desagradáveis e saia do seu recanto secreto determinado a não ouvi-los. Ouça a voz interior até apren­der a reconhecê-la. Pare de tentar competir com outros.

Entregue-se a Deus, e então seja o que e quem é, sem se importar com o que os outros pensam. Reduza os seus interesses a uns poucos. Não pro­cure saber coisas que não lhe sejam úteis. Evite a mente condensada — cheia de pedaços de fatos não relacionados entre si, histórias bonitas e ditos brilhantes. Aprenda a orar interiormente a todo mo­mento. Após algum tempo, você poderá fazer isso enquanto traba­lha. Pratique a candura, a sinceridade da criança, a humildade. Ore pedindo olhos simples. Leia menos, mas leia mais daquilo que é im­portante para a sua vida interior. Jamais permita que a sua mente fique dispersa por muito tempo. Chame para casa os seus pensa­mentos errantes. Contemple Cristo com os olhos da alma. Exercite a concentração espiritual.

Tudo que acima foi dito depende da correta relação com Deus por meio de Cristo, e da meditação diária nas Escrituras. Faltando estas coisas, nada nos ajudará; asseguradas, a disciplina recomendada conseguirá neutralizar os maus efeitos do externalismo e nos fará conhecer bem a Deus e às nossas próprias almas.

Retirado do livro "O Melhor de A. W. Tozer"

"Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente." Mt 6:6

"Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á." Mt 7:7 e 8

segunda-feira, 28 de março de 2011

O QUE TUDO ISSO TEM A VER COMIGO?


Por John Piper


Como Deus pode me amar?

No qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão
dos pecados, segundo a riqueza da sua graça.
Efésios 1.7

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
João 3.16

Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom
alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco
pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
Romanos 5.7-8


A medida do amor de Deus por nós é demonstrada em dois aspectos: Um, pela intensidade do sacrifício feito para nos salvar da penalidade do nosso pecado. O outro, pelo grau de nossa indignidade no momento da nossa salvação.

Podemos perceber a medida de seu sacrifício nas palavras: “Deus... deu o seu Filho unigênito” (João 3.16). Também o percebemos na palavra “Cristo”. Este é um nome baseado no título grego Christos, ou “O Ungido”, ou “Messias”. Tratas-e de um termo de grande dignidade. O Messias seria o rei de Israel. Ele subjugaria os romanos e traria paz e segurança para Israel. Em suma, a pessoa que Deus enviou para salvar pecadores era seu próprio Filho divino, seu único Filho e o Rei Ungido de Israel — de fato, o rei do mundo (Isaías 9.6-7).

Quando somamos esta consideração à horrenda morte por crucificação que Cristo suportou, torna-se claro que o sacrifício feito pelo Pai e pelo Filho foi indescritivelmente grandioso — e até infinito, se considerarmos a distância entre o divino e o humano. Mas Deus escolheu fazer este sacrifício para nos salvar.

A medida de seu amor por nós aumenta ainda mais quando observamos nossa indignidade. “Poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.7-8). Nós merecíamos a punição divina, não o sacrifício divino.

Eu já ouvi alguém dizer: “Deus não morreu pelos animais. Então, ao morrer Ele estava respondendo ao valor que temos como humanos”. Isto torna a graça ainda maior. Somos piores que animais. Os animais não pecaram. Eles não se rebelaram, não desprezaram a Deus como alguém sem importância em sua vida. Jesus não teve de morrer pelos animais. Eles não são tão maus. Nós somos. Nosso débito é tão grande que somente um sacrifício divino poderia pagá-lo.

Existe apenas uma explicação para o sacrifício de Deus em nosso favor, E ela não se encontra em nós. “A riqueza da sua graça” (Efésios 1.7). O sacrifício é totalmente gratuito; não é uma resposta ao nosso valor. É a abundância do infinito valor de Deus. De fato, é nisto que consiste o amor divino: uma paixão por cativar, a um custo elevado, pecadores indignos com aquilo que os tornará incomparavelmente felizes, isto é, sua infinita beleza.


Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes
em o nome do Filho de Deus. 1 João 5.13

Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em
juízo, mas passou da morte para a vida. João 5.24

Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados.
Atos 3.19

Guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo,
para a vida eterna. Judas 21


Deus nos criou para sua glória

Trazei meus filhos de longe e minhas filhas, das extremidades da terra... os que
criei para minha glória, e que formei, e fiz.
Isaías 43.6-7

Deus nos criou para magnificar sua grandeza — assim como os telescópios magnificam as estrelas. Ele nos criou para mostrar sua bondade, verdade, beleza, sabedoria e justiça. A maior demonstração da glória de Deus vem de um profundo prazer em tudo o que Ele é. Isso significa que Deus recebe o louvor, e nós, a alegria. Deus nos criou de tal forma que Ele é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nEle.

Todo ser humano deveria viver para a glória de Deus

Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.
1 Coríntios 10.31

Se Deus nos fez para sua glória, está claro que deveríamos viver para sua glória. Nosso dever resulta do propósito dEle. Então, nosso primeiro dever é mostrar o valor de Deus, estando satisfeitos com tudo o que Ele é para nós. Esta é a essência de amar a Deus (Mateus 22.37), de confiar nEle (1 João 5.4) e de ser grato a Ele (Salmos 100.2-4). Esta é a raiz de toda a obediência verdadeira, especialmente no que se refere ao amor pelos outros (Colossenses 1.4-5).

Todos nós falhamos em glorificar a Deus

Todos pecaram e carecem da glória de Deus.
Romanos 3.23

O que significa “carecem da glória de Deus”? Significa que nenhum de nós aprecia a Deus e confia nEle como deveria. Não nos satisfazemos com a sua grandeza e não andamos em seus caminhos. Temos procurado satisfação em outras coisas, tratando-as como mais valiosas do que Deus, e isso é a essência da idolatria (Romanos 1.21-23). Desde que o pecado entrou no mundo, todos temos sido muito resistentes em ter Deus como nosso tesouro todo-satisfatório (Efésios 2.3). Isso é uma ofensa horrorosa à grandeza de Deus (Jeremias 2.12-13).

Todos merecemos a justa condenação divina

O salário do pecado é a morte... Romanos 6.23

Todos nós temos depreciado a glória de Deus. Como? Ao preferir outras coisas no lugar de Deus e ao sermos ingratos, desobedientes e incrédulos. Assim, pois, Deus é justo quando nos priva para sempre da alegria de sua glória. “Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2 Tessalonicenses 1.9).

A palavra “inferno” é usada no Novo Testamento doze vezes — onze, pelo próprio Jesus. O inferno não é um mito criado por pregadores melancólicos e enraivecidos. É um solene aviso do Filho de Deus, o qual morreu para livrar pecadores da maldição do inferno. Ignorar esse aviso é um grande risco. Se a exposição bíblica a respeito da condição humana parasse aqui, estaríamos destinados a um futuro sem esperança. Entretanto, ela não termina neste ponto...

Deus enviou seu único Filho para prover a vida e a alegria eternas

Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.
1 Timóteo 1.15

As boas notícias consistem no fato de ter Cristo morrido por pecadores como nós e de ter retornado fisicamente dentre os mortos para validar o poder salvífico de sua morte, bem como para abrir as portas da vida eterna e da alegria (1 Coríntios 15.20). Isso significa que Deus pode absolver pecadores culpados e ainda ser justo (Romanos 3.25-26). “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pedro 3.18). Em nos voltarmos para Deus está a nossa mais completa e mais duradoura satisfação.

Os benefícios alcançados pela morte de Cristo pertencem àqueles que se arrependem e confiam nEle

Crê no Senhor Jesus e serás salvo.
Atos 16.31

“Arrepender-se” significa abandonar todas as promessas enganadoras do pecado. “Fé” significa satisfazer-se com tudo o que Deus promete ser para nós, em Jesus. “O que crê em mim”, Jesus disse, “jamais terá sede” (João 6.35). Nós não merecemos a nossa salvação. Não somos dignos de merecê-la (Romanos 4.4-5). Ela é concedida pela graça, por meio da fé (Efésios 2.8-9). Ela é gratuita (Romanos 3.24). A prova de que a temos é quando a apreciamos acima de todas as coisas (Mateus 13.44). E quando a apreciamos o objetivo de Deus na criação é alcançado: Ele é glorificado em nós, e nós nos satisfazemos nEle — para sempre.


Retirado do livro "Para Sua Alegria"

quarta-feira, 23 de março de 2011

O REINO DE DEUS


Por David Paul Yonggi Cho


O reino de Deus não é uma instituição nem uma organização visível. Por melhor que um Estado seja, não pode tornar-se o reino divino, pois este é uma esfera de ação totalmente diferente; um domínio espiritual no qual Deus dirige, controla e governa o destino das nações e dos indivíduos. O Senhor restaura este mundo e recupera a nós, criados à sua imagem e semelhança. É um estado em que o Criador se torna nosso Pai e dá-nos todas as bênçãos preparadas para nós. É um reino em que o adoramos, louvamos o seu santo nome e o fazemos conhecer os desejos de nossos corações. Jesus ensinou aos discípulos a orar pedindo a vinda do reino de Deus.

O Reino dos Céus Plantado na Terra

Jesus não somente ensinou-nos o que era o reino de Deus; foi crucificado a fim de assegurar-nos que o reino duraria para sempre entre nós. Por sua crucificação Jesus semeou sementes do reino divino: vida eterna, alegria, esperança e abundância; quanto ao reino de Satanás, uma terra cheia de maldições. "Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder" (Lucas 12:49).

O reino de Deus que ansiamos por ver descer a esta terra começou a ser estabelecido com a cruz de Cristo. Ele foi firmemente edificado sobre a cruz e sobre as promessas do Pai. Como a cruz começou a estabelecer o reino de Deus na terra? A morte de Jesus pagou o preço de nosso pecado. Erguido no madeiro, de boa vontade derramou seu sangue, o único sangue com poder de remir os pecados de todos os que vierem a ele buscando arrependimento.

Em segundo lugar, Jesus levou nossas enfermidades através de suas feridas. A Bíblia diz que pelas chagas de Jesus fomos curados (1 Pedro 224). Em terceiro lugar, sobre a cruz e com sua ressurreição, Jesus readquiriu o direito sobre este mundo que tinha passado para o domínio de Satanás quando Adão e Eva pecaram. Além disso, levando a coroa de espinhos no Calvário, Jesus removeu a maldição de nossa pobreza e deu-nos o direito de receber bênçãos. E por fim, o sangue de Jesus e sua carne dilacerada tornaram-se o caminho pelo qual somos conduzidos à vida eterna.

Mediante sua morte e ressurreição, Jesus plantou o reino de Deus nesta terra. Quando voltou para o Pai, um sucessor veio a fim de expandir seu reino: o Espírito Santo. Ao cumprir-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio do céu um som como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e passaram a falar em línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem (Atos 2:1-4).

O Espírito Santo veio a fim de ajudar-nos, e encontra-se aqui hoje. Ele está por perto para cuidar da semente celestial semeada por Jesus. Garante que ela tenha bom crescimento e produza fruto. Vem e ensina-nos a verdade. Traz à nossa lembrança tudo o que Jesus disse, e guia-nos pelos caminhos retos a fim de podermos viver de acordo com a Palavra. Assim, o Espírito Santo trabalha para a expansão do reino de Deus na terra. Ele também opera por nosso intermédio com o fim de aumentar o número de pessoas no reino. Com o Espírito Santo em nós, tomamo-nos os soldados da fé numa guerra santa cuja vitória já foi assegurada. Por meio dessa guerra justa, o reino dos céus vai florescendo cada vez mais. Onde, pois, está o reino dos céus plantado por Jesus sobre a terra?

O Reino dos Céus em Nossos Corações

Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino divino, Jesus respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Lá está! porque o reino de Deus está dentro em vós (Lucas 1720, 21). Repetidamente Jesus pregou as boas novas do reino dos céus. Tinha como propósito ensinar ao povo sobre esse reino, e faze-los cidadãos dele. Então, certo dia, os fariseus lhe perguntaram quando o reino de Deus seria estabelecido. Eles ainda alimentavam a falsa expectativa de que esse reino viria a eles na forma de uma nação deste mundo. Mas Jesus lhes disse: "O reino de Deus está dentro em vós."

Quando em nossos corações aceitamos Jesus como Salvador, e o confessamos com a nossa boca, o Espírito Santo implanta uma certeza dentro de nós. Passa a habitar em nossos corpos fazendo-nos templos seus, e a partir desse momento estamos sob o governo de nosso Pai. Este lugar interior onde o Senhor governa e reina é o mesmo em que está assentado o reino divino. Somos novas criaturas: "E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Coríntios 5:17). Diversas vezes Jesus comparou o reino de Deus ao processo pelo qual as sementes se transformam em plantas. Quando o reino dos céus vem ao nosso coração, começa a crescer através de nossos pensamentos. Portanto, nossa fé e pensamentos deveriam crescer até chegarem à fé e aos pensamentos de Deus. Tal crescimento deve continuar até nos encontrarmos com Jesus face a face.

Diz a Bíblia: "Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós" (Efésios 320). Se nossos pensamentos alcançam os pensamentos divinos, podemos ver--nos realizando coisas. Todos os dias podemos viver vidas vitoriosas, destruindo Satanás; pois Deus, que está dentro de nós, é maior do que Satanás que tem o poder dos ares do mundo (1 João 4:4). Assim, o reino dos céus existe em nossos corações por intermédio de Jesus e do poder do Espírito Santo. Embora vivamos num mundo onde imperam o caos, o vazio e a escuridão, um novo mundo desabrochou em nossos corações. Um novo reino chegou. As características do reino divino acerca das quais Jesus pregou e plantou na cruz estão realmente ocorrendo em nossas vidas. Recebemos o perdão de nossos pecados. Somos curados. Os demônios são expelidos de nós. Somos libertos da pobreza. Somos libertos da maldição, e recebemos a vida eterna mediante a fé.

Quando tais coisas acontecem em nossa vida, temos uma certeza: o reino de Deus está dentro de nós. Esses sinais acompanham aqueles que crêem em Jesus e o confessam com a boca. Mas é lamentável que muitas pessoas pisem o recinto da igreja ignorando ou não entendendo o novo mundo existente em seus corações — nem tentam crer nisso. Não conhecem esta graça e privilégio — a nova ordem e o novo poder e o novo mundo vindo a nós quando chamamos o Senhor de "Pai". "O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento" (Oséias 4-6) Estas palavras de Oséias referem-se a uma ocasião dessas. Jesus também disse aos israelitas desconhecedores da verdade: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (João 8:32).

Quando as pessoas começam a freqüentar uma igreja, muitas meramente escolhem-na como o lugar mais cômodo para entrar em contato com a religião, ouvir lições de grandes homens do passado, estudar o aspecto moral da vida deles ou encontrar um padrão ético pelo qual possam viver. Nossa fé em Cristo não é, contudo, uma religião. Não é nem cultura nem moralidade. É uma experiência com Jesus Cristo! É algo novo que acontece em nosso coração. É um acontecimento extraordinário no qual Deus, o Criador dos céus e da terra, comprou-nos com o sangue imaculado de Jesus Cristo e plantou seu reino em nós.

Por sermos o seu povo, já não temos de sofrer a angústia da consciência culpada por causa do pecado, ser oprimidos por Satanás ou viver escravizados a ele. Visto que o reino do Pai está dentro de nosso coração, cabe-nos o direito de desfrutar seus privilégios. A Bíblia nos exorta com urgência: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão" (Gaiatas 5:1). Já não temos de comprometernos com o pecado.

Quando você orar "Venha o teu reino", lembre-se de que Deus se apossa de seu coração, e que esta súplica demanda completa dedicação ao Senhor. Ela é a declaração de sua fé no Pai e obediência a ele. Através dela você recebe a incumbência de pregar que o reino celestial está próximo. O modo mais efetivo de levar a cabo esta comissão é desfrutar o privilégio do reino e viver nele diariamente.


Retirado do livro "Orando com Jesus"

segunda-feira, 21 de março de 2011

ORAR COM PERSISTÊNCIA


Por J. Dwight Pentecost
Mateus 7:7-12

Ensinou o Senhor que a justiça se manifesta na oração. A oração é, por certo, a maior manifestação de fé do filho de Deus. Na oração falamos com um Deus que não podemos ver mas cremos existir. Somos um dentre multidões que oram, não obstante cremos que Deus seleciona nosso pedido e ouve-o especificamente. "Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam" (Hebreus 11:6).

Quando o homem se aproxima de Deus em oração, deve fazê-lo com a firme convicção de que crê que Deus realmente vive. Seria loucura dirigir oração a Deus se ele se acha tão distante que não pode atuar nas vidas de suas criaturas. O homem deve crer que Deus galardoa aos que o buscam. Seria rematada tolice dirigir oração a Deus estando nós convencidos de que ele não pode ouvir.

Depois que os sacerdotes de Baal construíram o altar e puseram sobre ele o novilho, oraram ao seu deus pedindo fogo para consumir o sacrifício em demonstração de que ele era deus. "Invocaram o nome de Baal, desde a manhã até ao meio-dia, dizendo: Ah! Baal, responde-nos! Porém não havia uma voz que respondesse" (1 Reis 18:26). Por quê? Porque Baal não existia. Orar o dia inteiro a um deus inexistente não pode trazer e não trará resposta. É preciso que Deus exista para que a oração seja eficaz.

Então, "manquejando, se movimentavam ao redor do altar que tinham feito. Ao meio-dia Elias zombava deles, dizendo: Clamai em altas vozes, porque ele é deus; pode ser que esteja meditando, ou atendendo a necessidades, ou de viagem, ou a dormir, e despertará" (vv. 26-27). O conceito deles era que seu deus não respondia porque estava demais ocupado com outras coisas. Para atrair-lhe a atenção, "clamavam em altas vozes, e se retalhavam com facas e com lancetas, segundo o seu costume, até derramarem sangue" (v. 28). Isto continuou desde a manhã até à noite. "Porém não houve voz, nem resposta, nem atenção alguma." A fé num deus inexistente não traz resposta. A fé num deus preocupado demais com seus próprios negócios, que não pode ser interrompido, não traz resposta. Um deus que não pode ouvir também não responde. O deus que se acha tão distante deste universo que não pode atuar nele, não dará respostas. Aquele que ora deve crer que Deus existe e pode responder à nossa oração como se fôssemos os únicos a existir na terra. Deus deve estar tão perto que seu socorro esteja disponível de imediato. A fé é fundamental à oração.

Há porém, uma evidência da fé. É claro que não posso ver a fé do meu irmão nem ele a minha; a fé prova-se por si mesma. A prova da fé é a persistência. Se tenho uma necessidade e conto-a a Deus uma vez, manifesto fé; porém a evidência de minha fé está em orar, tornar a orar, persistentemente, com paciente perseverança, até receber o que pedi; até que Deus torne sua resposta bem clara, muito embora possa ser negativa. A fé produz paciente perseverança.

O escritor da carta aos Hebreus deixou isto bem claro: "Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa" (10:35-36). A idéia contida na palavra "confiança" é paciente perseverança. O escritor condicionou a recepção da promessa à persistência. A esperança dos persistentes será realizada se a sua oração estiver na vontade de Deus. "Porque ainda dentro de pouco tempo aquele que vem virá, e não tardará; todavia, o meu justo viverá pela fé, e: Se retroceder [isto é, não exercer paciente perseverança], nele não se compraz a minha alma" (Hebreus 10:37-38). Esta passagem deixa claro que Deus vê a paciente perseverança como evidência da autenticidade da fé. Pedir uma vez pode ser evidência de fé, mas persistir no pedido quando não há resposta é evidência da autenticidade da fé.

A mesma idéia é ensinada em Hebreus 10:19-23: "Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, Isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé." Em que base nos aproximamos? Primeiro, o sangue de Cristo abriu-nos o caminho. Segundo, temos um sumo sacerdote que é nosso mediador, o Senhor Jesus Cristo; portanto, podemos aproximar-nos. Como, porém, devemos fazê-lo? "Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel." Guardemos firme a confissão da esperança. A frase "guardemos firme" traz em si a idéia de paciente perseverança. O sangue de Cristo abriu o caminho. Temos um Sumo Sacerdote que intercede por nós; portanto, perseveremos pacientemente na fé.

O Senhor acentuou esta grande realidade em Mateus 7:7-8. Literalmente, esses versículos dizem: "Continue pedindo, e lhe será dado; continue buscando, que achará; continue batendo, e se lhe abrirá. Pois todo o que continua pedindo, recebe; o que continua buscando, encontra; e a quem continua batendo, abrir-se-lhe-à." A pessoa que ora mesmo uma só vez, manifesta fé; mas a que persevera pacientemente em sua oração demonstra a Deus e aos homens a autenticidade de sua fé. Nosso Senhor disse que este tipo de oração persistente é demonstração de justiça. Tiago disse: "Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo" (Tiago 5:16). Na parábola registrada em Lucas 1 1:5-8, o Senhor mostrou o resultado da oração de um justo:

Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo e este for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer. E o outro lhe responda lá de dentro, dizendo: Não me importunes: a porta já está fechada e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, se não se levantar para dar-lhos, por ser seu amigo, todavia o fará por causa da importunação, e lhe dará tudo o de que tiver necessidade.

Não sendo de início bem recebido, nem por isso o homem voltou para casa de mãos vazias. Persistiu até que o amigo lhe desse os pães, de modo que ele, por sua vez, pudesse dar-lhos ao amigo necessitado. Nosso Senhor não estava sugerindo que Deus não se dispunha a dar. Dizia que
Deus, muitas vezes, prova a fé para ver se ela é autêntica e persistirá com paciência.

Toda demora na resposta à oração é um teste da justiça do homem. Desistirá ele? Ficará desanimado? Ou persistirá em oração? A oração que cessa antes de satisfeita a necessidade não é oração feita com fé. A evidência da fé verdadeira é que ela persiste.

Por que Deus responde à oração de um justo, à oração de alguém que demonstrou, pela persistência, que sua fé é genuína? Jesus disse que é da natureza do pai atender às necessidades dos filhos (Mateus 7:9-11). Paulo ensinou: "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente" (1 Timóteo 5:8). É responsabilidade do pai, bem como expressão da natureza do verdadeiro pai, satisfazer às necessidades dos filhos. Deus é nosso Pai. Pela fé em Jesus Cristo somos seus filhos, e ele atenderá às nossas necessidades: "Qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra?" (Mateus 7:9-10). Pão e peixe eram os dois ingredientes básicos da alimentação dos galileus. Assim, o filho é retratado como pedindo ao pai o sustento das necessidades simples da vida. Quando ele pede ao pai, este não ignorará o pedido nem o enganará. Se o pai pecador atende ao pedido do filho no que tange às suas necessidades de cada dia, não satisfará nosso Pai celestial às nossas necessidades? "Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas coisas aos que lhe pedirem?" (v. 11).

Poucos têm dificuldade em voltar-se para Deus em oração na hora das grandes emergências da vida. Se o médico disser que você precisa de uma operação; não lhe será difícil orar. Acontece um revés financeiro repentino, e não é difícil orar. É preciso tomar uma importante decisão que afeta o curso de seus negócios; nessa hora não é difícil orar.

Reconhecemos que precisamos da oração dos irmãos, e solicitamos aos crentes piedosos que orem por nós. Mas o Senhor disse que invocar a Deus ou unir-se aos santos em oração nas emergências da vida não é prova de que o homem é justo.

A prova da justiça é o homem invocar a Deus nas pequenas coisas. O filho, no exemplo citado pelo Senhor, pediu ao pai uma refeição ao meio-dia. O filho de Deus pode transformar sua vida fazendo Jesus Cristo um sócio nas pequenas coisas do dia. Ore a respeito das coisas monótonas, das coisas rotineiras, e faça de Jesus um parceiro. Quando você vai para o escritório e faz o que tem feito um milhar de vezes, pode escapar ao enfado fazendo de Jesus Cristo um sócio. Isto transformará as coisas corriqueiras da vida em algo que satisfaz.

Quando nosso Senhor disse: "Continue pedindo", ele falava não só das crises da vida, mas também das coisas pequenas. Paulo tinha esta mesma idéia ao escrever: "Orai sem cessar" (1 Tessalonicenses 5:17). Orar sem cessar significa orar a respeito de tudo. Não importa o que você está fazendo, leve-o ao Senhor em oração. Quando oramos, intercedemos a favor da crise. Como se ora pouco a respeito dos problemas comuns! Você deseja ser justo? Deseja realizar e demonstrar a justiça aceitável a Deus? Então ouça o que o Senhor disse: "Continue orando." Faça de Cristo um sócio em todos os pormenores da vida.


Retirado do livro "O Sermão da Montanha"

quinta-feira, 17 de março de 2011

O SEGREDO DA VERDADEIRA OBEDIÊNCIA - PARTE 2


Por Andrew Murray


II. O LIVRO TEXTO

A direta comunicação que Cristo mantinha com o Pai não significou independência das Santas Escrituras. Na divina escola da obediência há apenas um livro texto, quer seja para o Irmão mais velho quer para a criança mais nova. No Seu aprendizado da obediência Ele usou o mesmo livro texto que nós temos de usar. Ele apelava à Palavra não somente quando estava ensinando ou procurando convencer os outros — Ele precisava dela e a usava para sua própria orientação e vida espiritual. Do início da Sua vida pública até o seu final, Ele viveu pela Palavra de Deus. “Está escrito” foi a espada do Espírito com a qual Ele derrotou Satanás. “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim”: esta palavra das Escrituras era a certeza interior com que Ele iniciou a pregação do evangelho. Era à luz de “Para que as Escrituras se cumpram” que Ele Se resignava a todo sofrimento, e até mesmo Se entregou à morte. Depois da Sua ressurreição, Ele expôs aos discípulos “o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.27).

Nas Escrituras Ele encontrou o plano e o caminho que Deus Lhe havia traçado. Ele Se entregou para cumprir tudo. Foi na Palavra de Deus e por meio dela que Ele recebeu o contínuo e direto ensino do Pai. Na escola da obediência de Deus, a Bíblia é o único livro texto. Isso nos revela a disposição com que temos de nos achegar à Bíblia — com o desejo simples de encontrar nela aquilo que está registrado a respeito da vontade de Deus para nós, com o propósito de cumpri-la.

As Escrituras não foram escritas para aumentar nosso conhecimento, e sim para dirigir nossa conduta; “a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.17). “Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá...” (Jo 7.17). Aprenda de Cristo a considerar tudo que está nas Escrituras sobre a revelação de Deus, e do Seu amor, e do Seu conselho, como simples auxílios para o grande propósito de Deus: que o homem de Deus seja capacitado a fazer a Sua vontade, assim como ela é feita no céu; que o homem possa ser restaurado à perfeita obediência que o coração de Deus almeja acima de tudo, e que é, somente ela, a grande alegria.

Na escola da obediência de Deus a Palavra é o único livro texto. Cristo teve necessidade do ensino de Deus, e recebeu instrução de Deus para saber como aplicar essa Palavra em Sua própria vida e conduta, e para saber como posicionar-se com cada diferente porção da Palavra — se se aplicava a Ele ou não. É Ele que fala em Isaías: “Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos” (Is 50.4). Mesmo assim, Aquele que dessa forma aprendeu a obediência, no-la ensina dando-nos o Espírito Santo em nosso coração como o divino Intérprete da Palavra.

Essa é a grande obra do Espírito Santo que em nós habita — aplicar a Palavra que lemos e na qual meditamos em nosso coração, e torná-la viva e poderosa ali, de forma que a palavra viva de Deus possa operar eficazmente em nossa vontade, nosso amor, em todo o nosso ser. É por não compreendermos isso que a Palavra fica destituída de poder para operar a obediência. Vou tentar falar sobre isso de forma muito franca.

Nós nos regozijamos no crescente interesse que existe no estudo da Bíblia, e com os testemunhos que ouvimos sobre o interesse renovado nela e nos benefícios recebidos por isso. Mas não nos enganemos. Podemos nos deliciar com o estudo da Bíblia; podemos nos encher de admiração e nos sentir encantados com as novas revelações da verdade de Deus; os pensamentos obtidos pelo estudo podem nos impressionar profundamente e despertar em nós os mais agradáveis sentimentos religiosos; e no entanto ser muito pequena a sua influência em nos tornar santos ou humildes, amorosos, pacientes, prontos tanto para servir como para sofrer. A razão por que isso pode acontecer é que não recebemos a Palavra como ela de fato é, como a Palavra do Deus vivo, que tem de falar conosco Ele mesmo, se é que ela deve exercer sobre nós o seu divino poder.

A letra da Palavra, embora a estudemos e nos deliciemos nela, não possui nenhum poder salvador ou santificador. A sabedoria humana e a vontade humana, embora redobrem seus esforços, não têm capacidade de dar nem de ordenar esse poder. O Espírito Santo é o grande poder de Deus: é somente à medida que o Espírito Santo ensina você, somente à medida que o evangelho é pregado a você ou por homens ou por um livro, “com o Espírito Santo enviado dos céus”, que ele realmente há de lhe dar, com cada mandamento, a capacidade de obedecer, e operar em você a própria ordem que Ele dá.

Com o ser humano, conhecer e querer, querer e fazer, até mesmo querer e executar estão, por carência de capacidade, muitas vezes separados, ou até mesmo divergentes. Mas isso nunca acontece com o Espírito Santo. Ele é ao mesmo tempo a luz e o poder de Deus. Tudo o que Ele é e faz e dá tem em si tanto a verdade como o poder de Deus. Quando Ele mostra a você o mandamento de Deus, Ele sempre o mostra como algo possível e capaz de ser executado, como um dom e como a vida divinamente preparada para você. E Aquele que os está revelando é poderoso para comunicá-los a você.

Amado estudante da Bíblia, aprenda a crer que é somente quando Cristo, pelo Espírito Santo, ensina você a compreender a Palavra e a recebê-la em seu coração, que Ele pode de fato ensinar você a obedecer como Ele mesmo obedeceu. Creia, toda vez que você abrir sua Bíblia, que tão certo como você ouve a divina e santa Palavrainspirada pelo Espírito, assim o Pai, em resposta à oração da fé e à dócil espera, concederá a vivificante operação do Espírito Santo ao seu coração. Faça com que todo o seu estudo da Bíblia seja matéria de fé. Não apenas prove e creia as verdades ou promessas que você lê. Isso pode ser feito pelo seu próprio esforço. Em vez disso, creia no Espírito Santo, na Sua presença em você, na operação de Deus em você através dEle. Receba a Palavra em seu coração, na tranquila fé de que Ele o capacitará a amá-la, a ajustar-se a ela, a guardá-la; e nosso bendito Senhor Jesus fará com que o livro seja para você aquilo que foi para Ele, quando falou a respeito das “coisas que estão escritas a Meu respeito”. A Escritura toda se tornará na simples revelação daquilo que Deus fará por você, e em você, e através de você.

III. O ALUNO

Já vimos como nosso Senhor nos ensina a obediência por meio da revelação do segredo de como Ele mesmo a aprendeu, em Sua permanente dependência do Pai. Já vimos como Ele nos ensina a usar o Sagrado Livro como Ele o usou, como uma revelação divina daquilo que Deus tem preparado para nós, com o Espírito Santo revelando e capacitando.

Se agora considerarmos o lugar que o crente ocupa na escola da obediência como aluno, haveremos de entender melhor o que Cristo, o Filho, requer para efetuar em nós a Sua obra com eficácia. Num aluno dedicado há várias coisas que despertam e estimulam sua simpatia para com um professor confiável. Ele se submete completamente à sua liderança. Ele deposita perfeita confiança no professor. O aluno lhe dedica tanto tempo e atenção quanto o professor requer. É quando nos apercebemos de que Cristo tem direito a tudo isso, e nos dobramos a isso, que podemos aguardar a experiência de quão maravilhosamente Ele pode nos ensinar uma obediência como a que Ele mesmo viveu.

1. O verdadeiro aluno, quer seja de um grande músico ou de um pintor, dedica a seu mestre uma confiante submissão de todo o seu coração. Quer seja na prática das escalas quer seja na mistura das cores, no lento e paciente estudo dos elementos de sua arte, ele entende que é sábio obedecer com simplicidade e inteireza. É essa submissão de todo o coração à direção do Mestre, essa submissão implícita à Sua autoridade, que Cristo requer. Nós nos achegamos a Ele suplicando que nos ensine a perdida arte de obedecer a Deus assim como Ele o fez. Ele nos pergunta se estamos dispostos a pagar o preço. Isso significa completa e total renúncia de si mesmo! Isso significa abrir mão de nossa vontade e de nossa vida até a própria morte! Isso significa estar pronto a fazer o que quer que Ele mande!

A única maneira de aprender algo é pela prática. A única maneira de aprender a obediência de Cristo é abrir mão de sua vontade para Ele, e fazer da vontade dEle o grande desejo e prazer do seu coração. A não ser que você se comprometa com a absoluta obediência no momento em que você entra nesta sala da escola de Cristo, será impossível fazer qualquer progresso.

2. O verdadeiro discípulo de um grande mestre considera fácil render-lhe essa obediência sem reservas pelo simples fato de que ele confia no mestre. Ele sacrifica com gratidão a sua própria sabedoria e vontade para ser guiado por outra superior. É dessa confiança que precisamos para com nosso Senhor Jesus. Ele veio do céu para aprender a obediência, para que fosse capaz de ensiná-la bem. A Sua obediência é o tesouro pelo qual não só o débito da nossa desobediência passada é pago, mas por meio do qual a graça da nossa presente obediência é suprida.

Em Seu divino amor e perfeita identificação com a natureza humana, em Seu divino poder sobre nosso coração e vida, Ele convida, Ele merece, Ele conquista nossa confiança. É pelo poder da admiração pessoal, pela afeição à Sua Pessoa, é pelo poder do seu divino amor, por toda obra efetuada em nosso coração pelo Espírito Santo, despertando em nós um amor que corresponde ao dEle, que Ele desperta nossa confiança, e comunica a nós o verdadeiro segredo do sucesso na Sua escola. Tão absolutamente como confiamos nEle como o Salvador que nos resgata da nossa desobediência, assim confiemos nEle como o Mestre que nos guiará para longe da desobediência. Cristo é nosso Profeta ou Professor. Um coração que com entusiasmo creia no Seu poder e capacidade como Professor descobrirá, para a alegria dessa fé, que é fácil obedecer. É a presença de Cristo conosco todo o dia que será o segredo da obediência verdadeira.

3. Um aluno dedica a seu mestre toda a atenção e aplicação que ele solicitar. É o mestre que diz quanto tempo tem de ser devotado ao contato pessoal e à instrução. A obediência a Deus é uma espécie de arte celestial, nossa natureza é tão completamente avessa a ela, o caminho em que o Filho aprendeu a obediência foi tão lento e longo, que não nos devemos admirar se o aprendizado não vem de uma só vez. Nem devemos nos admirar se for necessário muito mais tempo aos pés do Mestre em meditação, e oração, e espera, em dependência e auto-sacrifício, do que a grande maioria está disposta a dar. Mas disponhamos nosso coração a dar esse tempo.

Em Cristo Jesus, a obediência celestial se tornou humana outra vez, a obediência se tornou nosso direito de nascença e nossa natureza: apeguemo-nos a Ele, creiamos na Sua presença em nós e roguemos por ela. Com Jesus Cristo, que aprendeu a obediência como nosso Salvador, com Jesus Cristo, que ensina a obediência como nosso Mestre, podemos viver uma vida de obediência. A Sua obediência — não podemos estudar a lição com excessivo fervor — Sua obediência é a nossa salvação; nEle, no Cristo vivo, encontramos essa obediência e dela participamos momento após momento.

Supliquemos a Deus que nos mostre como Cristo e Sua obediência são de fato a nossa vida a cada momento: isso fará de nós alunos que Lhe dão totalmente o coração e todo o seu tempo. E Ele há de nos ensinar a guardar os Seus mandamentos e permanecer no Seu amor, da mesma forma que Ele guardou os mandamentos do Seu Pai e permaneceu no Seu amor.


Retirado do livro "A Escola da Obediência"

quarta-feira, 16 de março de 2011

O SEGREDO DA VERDADEIRA OBEDIÊNCIA - PARTE 1


Por Andrew Murray


“Ele aprendeu a obediência” (Hb 5.8).


O segredo da verdadeira obediência — deixe-me dizer de imediato o que eu creio que seja — é o livre e íntimo relacionamento pessoal com Deus. Todos os nossos esforços pela plena obediência haverão de falhar a não ser que nos acheguemos a essa permanente comunhão com Ele. É a santa presença de Deus, a consciência da Sua morada em nós, que nos guarda de desobedecer a Ele.

Obediência deficiente é sempre resultado de uma vida deficiente. Tentar melhorar e animar essa vida defeituosa por meio de argumentos e incentivos tem lá seus benefícios, mas a maior bênção que devem produzir é fazer-nos sentir a necessidade de uma vida diferente, uma vida tão completamente sujeita ao poder de Deus que a obediência seja seu fruto natural.

A vida defeituosa, a vida de comunhão com Deus irregular ou truncada, tem de ser curada, e tem de dar lugar a uma vida inteiramente sadia; aí então se tornará possível a obediência completa. O segredo da obediência verdadeira é o retorno à íntima e contínua comunhão com Deus. “Ele aprendeu a obediência” (Hb 5.8). E por que isso foi necessário? E qual é a bênção que Ele nos concede? Ouça: “... (Ele) aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, ... tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.

O sofrimento não é natural para nós; por isso nos conclama à rendição de nossa vontade. Cristo teve de sofrer para que nele pudesse aprender a obedecer e abdicar da Sua vontade em favor do Pai a qualquer custo. Ele teve de aprender a obediência para que, como nosso grande Sumo Sacerdote, pudesse ser aperfeiçoado. Ele aprendeu a obediência, Ele tornou-Se obediente até a morte, para que pudesse tornar-Se o autor da nossa salvação. Ele se tornou o autor da salvação através da obediência, para que pudesse salvar aqueles “que lhe obedecem”.

Da mesma forma que para Ele a obediência era absolutamente necessária para conquistar a salvação, para nós ela é absolutamente essencial para herdar essa salvação. A essência da salvação é a obediência a Deus. Cristo, como Aquele que foi obediente, nos salva e nos torna obedientes para Si. Quer seja em Seu sofrimento na terra, quer na Sua glória no ceu, quer em Si mesmo ou em nós, é na obediência que Seu coração está centrado. Aqui na terra, Cristo era aluno na escola da obediência; no céu, Ele a ensina a Seus discípulos que estão aqui na terra. Num mundo onde reina a desobediência para a morte, a restauração da obediência está nas mãos de Cristo. Da mesma forma que em Sua vida, assim também em nós, Seu propósito é conservar a obediência. Ele a ensina e a opera em nós. Vamos, agora, pensar no que e como Ele ensina: talvez descubramos quão pouco nos temos dedicado como alunos nessa escola, onde a única lição por aprender é a obediência.

I. O PROFESSOR

“Ele aprendeu a obediência”. E agora que Ele a ensina, Ele o faz antes de tudo e principalmente por revelar o segredo da Sua própria obediência ao Pai. Eu mencionei que o poder da obediência verdadeira reside no livre relacionamento pessoal com Deus. Assim foi com nosso Senhor Jesus. Ele disse a respeito de tudo o que ensinou: “Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo” (Jo 12.49,50). Isso não significa que Cristo recebeu os mandamentos de Deus na eternidade como parte da comissão do Pai para Ele ao entrar neste mundo. Não. Dia após dia, cada momento à medida que Ele ensinava e trabalhava, Ele viveu, como homem, em contínua comunicação com o Pai e recebeu as instruções do Pai à medida que necessitava delas. Ele por acaso não disse “que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; ... Porque o Pai ... lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará...” (Jo 5.19,20). “... na forma por que ouço, julgo...” (Jo 5.30); “... não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou” (Jo 8.16); “As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (Jo 14.10)? Em todo lugar se vê uma dependência da constante e permanente comunhão e operação de Deus, um ouvir e ver daquilo que Deus fala e faz e revela. Nosso Senhor sempre falou do Seu próprio relacionamento com o Pai como tipo e promessa de nosso próprio relacionamento consigo mesmo, e com o Pai através dEle.

Da mesma forma que ocorria com Ele, nossa vida de obediência contínua é impossível sem constante comunhão e permanente ensino. É somente quando Deus entra em nossa vida, numa proporção e num poder que muitos nem ao menos consideram possível, quando cremos em Sua presença como o Eterno e Aquele Sempre presente Deus, e quando aceitamos essa constante presença da mesma forma que o Filho a cria e recebia, que pode haver alguma esperança de uma vida na qual todo pensamento é trazido cativo à obediência de Cristo. É a imperativa necessidade de continuamente recebermos nossas ordens e instruções do Próprio Deus que encontramos implícito nestas palavras: “DAI OUVIDOS À MINHA VOZ, E EU SEREI O VOSSO DEUS”. A expressão “obedecer aos meus mandamentos” é pouco usada nas Escrituras; quase sempre se usa “obedecer a Mim” ou “dar ouvidos à Minha voz”.

Com o comandante de um exército, o professor de uma escola, o pai de família, não é o código de leis, embora claras e boas, com suas recompensas ou punições, que assegura a obediência verdadeira; o que o faz é A INFLUÊNCIA PESSOAL E VIDA, o amor estimulante e o entusiasmo. É a alegria de sempre ouvir a voz do Pai que dará alegria e força à obediência verdadeira. É a voz dEle que dá poder para obedecer a palavra; de nada vale a palavra sem a voz que a vivifica. Quão claramente vemos isso ilustrado no contraste que encontramos em Israel. O povo ouviu a voz de Deus no Sinai e ficou com medo. Pediram a Moisés que Deus não mais falasse com eles. Queriam que Moisés recebesse a palavra de Deus e a trouxesse a eles. Eles pensavam apenas em termos de mandamentos; não sabiam que o único poder para obedecer se encontra na presença de Deus e na Sua voz falando conosco. E assim, tendo apenas Moisés falando com eles, e
com as tábuas de pedra, sua história é toda de desobediência, porque eles temiam um contato direto com Deus.

E a situação ainda é assim hoje. Muitos, muitos cristãos consideram muito mais fácil receber ensino de homens de Deus em vez de esperar em Deus para recebê-lo dEle Mesmo. A fé deles repousa na sabedoria dos homens, e não no poder de Deus.

Aprendamos a grande lição de nosso Senhor, que “aprendeu a obediência” ao esperar a cada momento para ver e ouvir o Pai, para ver o que Ele tem a nos ensinar. É somente quando, como Ele, nEle e por meio dEle, andamos continuamente com Deus, e ouvimos Sua voz, que temos condições de conseguir oferecer a Deus a obediência que Ele exige de nós e promete operar em nós. Das profundezas de Sua própria vida e experiência, Cristo pode nos ensinar isso.

Ore fervorosamente para que Deus possa lhe mostrar a tolice de tentar obedecer sem o mesmo poder que Cristo necessitou, e que Ele torne você disposto a abrir mão de tudo para que você tenha a mesma alegria de Cristo na presença do Pai durante todo dia.


Retirado do livro: "A Escola da Obediência"

sábado, 12 de março de 2011

A SÁBIA INTERVENÇÃO DE DEUS EM NOSSA HISTÓRIA


Por Hernandes Dias Lopes

"Sabemos que todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8:28).

Um otimismo circunstancial:

O apóstolo Paulo prossegue e diz que "todas as coisas cooperam". A vida é composta de montanhas e vales, de alegrias e lágrimas, de prosperidade e perdas. Paulo não está dizendo que todas as coisas que nos acontecem são boas em si. É claro que algumas delas não são boas intrinsecamente. O cristão é alguém que deve saber interpretar a vida. De modo algum deve sorrir da desgraça e se alegrar da tragédia. Cristianismo não é masoquismo. A filosofia masoquista é anticristã. O cristão não tem prazer no sofrimento, nem deve sair gritando de alegria e dando glórias a Deus porque está com câncer. Ele não deve ficar feliz porque perdeu o emprego.

O que Paulo está ensinando é que, mesmo nos grandes problemas, nas grandes aflições, nas grandes tragédias da vida, o nosso Deus trabalha de tal forma que essas situações adversas revertem-se em bênção para nós. Gloriamo-nos em Deus não apenas nos dias ensolarados, mas também nas noites turvas do sofrimento. Damos glória não somente na esperança da glória, mas também nas próprias tribulações, sabendo que elas produzem perseverança, e a perseverança produz experiência, e a experiência desemboca numa esperança triunfadora.

Thomas Watson, ilustre puritano inglês do século xvii, afirmou que a expressão "cooperam" refere-se à medicina.

Vários ingredientes venenosos colocados juntos, sendo combinados pela perícia científica de um farmacêutico, tornam-se produto medicinal que contribui para o bem do paciente enfermo. Assim é a providência de Deus quando divinamente temperada e santificada: ela coopera para o bem daqueles que amam a Deus. O poeta inglês William Cowper escreveu que, por trás de toda providência carrancuda, esconde-se uma face sorridente.

Quando Deus nos dá um remédio amargo, ele o faz com o intento de nos curar. Quando ele nos disciplina, é para nos restaurar. O objetivo de um médico não é apenas ser agradável com o paciente, mas curar sua enfermidade. A aflição pode ter uma raiz amarga, mas ela produz frutos doces, pois o próprio dia da morte de um cristão é o dia de sua ascensão à glória.

Até mesmo aquelas coisas que reputamos amargas e ruins, tecidas pelas mãos de Deus, destinam-se ao nosso bem maior e final. Davi disse que a aflição produz aprendizado. O vale da dor é a escola superior do nosso aprendizado. Deus levou Elias para a solidão do deserto em Querite e depois o lançou na fornalha em Sarepta antes de usá-lo com poder no monte Carmelo. Deus trabalha em nós antes de trabalhar por meio de nós. Paulo diz que seus açoites e prisões contribuíram para o progresso do Evangelho (Fp 1:12). Jó emergiu das profundezas da dor com conhecimento mais profundo e íntimo a respeito de Deus. No deserto do sofrimento, o Senhor nos faz desencantar em relação às glórias do mundo; na fornalha da aflição, nos depura e nos santifica para sua obra. O próprio Filho de Deus foi homem de dores e aprendeu pelas coisas que sofreu. O sofrimento nos põe no devido lugar. Muitas vezes, ele assopra para longe de nós a soberba do coração e nos faz assentar aos pés do Senhor da glória, humildes e dependentes.

Certa vez, um menino brincava na beira de um lago com um barquinho de papel. De repente, o vento levou seu barquinho para o meio do lago e ele começou a chorar. Logo, aproximou-se dele um rapaz que lhe perguntou:

— Por que você está chorando? O garoto, então respondeu:
— O vento levou meu barquinho e não consigo mais apanhá-lo.
O jovem se dispôs a ajudá-lo, e logo começou a atirar algumas pedras na direção do barquinho, o que gerou uma imediata revolta do garoto. Mas o rapaz sabiamente lhe disse:
— "Fique sossegado! Estou jogando estas pedras porque, ao caírem perto do seu barquinho, as ondas vão se formando, e essas ondas empurrarão o seu barquinho para perto de você".
Minutos depois, o garoto, sorridente, tinha seu barquinho de volta.

Na verdade, as pedras que caem à beira da nossa vida podem levar-nos para mais perto de Deus. Quando o Senhor permite uma provação em nossa vida, não é para nos derrotar, mas para nos tornar mais fortes e nos colocar mais perto dele. Tiago diz que devemos ter por motivo de toda alegria o fato de passar por várias provações (Tg 1:2). As provas são inevitáveis, passageiras e pedagógicas. São as nuvens escuras que trazem a chuva que faz o campo florescer e frutificar, e os prados se tornarem repletos de flores.

O reverendo Amantino Adorno Vassão, em seu livro Mesmo na tempestade, fala sobre um jovem que se aproximou dele depois de dois anos internado com tuberculose no hospital, em São José dos Campos, para realizar um culto de ações de graça. O pastor, com alegria, disse-lhe:

— Que bom, meu filho, precisamos mesmo agradecer a Deus, e é justo que o façamos por causa da sua cura.
Ao que o jovem retrucou:
— Não pastor, eu quero agradecer a Deus pela minha doença, porque antes de ficar doente eu não era comprometido com Deus, não lia a Bíblia, não orava, não buscava a face do Senhor. Era apenas um freqüentador da igreja. Mas quando fiquei prostrado no leito, comecei a ler a Palavra de Deus, passei a invocar seu santo nome, e o Senhor mudou a minha vida, transformou o meu coração e um glorioso milagre aconteceu em minha história. Por isso, quero oferecer um culto de ações de graças pela minha enfermidade, que me aproximou do Senhor!

O apóstolo Paulo, paladino da fé cristã, prossegue: "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem" (Rm 8:28). Deus trabalha todas as coisas para o nosso bem. Todas cooperam para o bem não por força inerente, nem por acaso, mas pela divina direção. Nossa vida não é guiada por um destino cego. Não somos controlados pelo acaso. Não estamos sujeitos ao rolo compressor de um destino cego e implacável. Nossa vida não é dirigida pelos astros ou por alguma força mística. Nossa vida está nas mãos de Deus.

O mesmo Deus que está assentado na sala de comando do universo e controla os céus e a Terra é aquele que dirige o nosso destino. Nem um fio de cabelo da nossa cabeça pode embranquecer ou cair sem que ele saiba e permita. Ele conhece cada uma das sessenta trilhões de células do nosso corpo. O Senhor sabe quem somos, onde estamos, como estamos, como sentimos, para onde devemos ir. Ele nos cerca pela frente, por trás e sobre nós põe sua mão. Estende debaixo de nós seus braços eternos. Deus é aquele que nos guia com seu conselho eterno, nos toma pela mão e nos conduz à glória. Ele trabalha para aqueles que nele esperam, e faz hora extra em favor dos seus filhos. Aos seus amados, ele dá tudo de que precisam enquanto dormem.

O grande problema é entender o que esse bem significa. Para a sociedade moderna, o bem está relacionado com posses e prazeres deste mundo. É ter dinheiro, posição social, saúde, amigos, sucesso, diplomas, reconhecimento, conforto. As pessoas estão buscando felicidade em coisas ou em pessoas, e não encontram. Estão procurando na fonte errada. A verdadeira felicidade está em Deus. Ele é o supremo bem. O maior projeto de Deus na nossa vida não é o de nos fazer felizes, mas de nos transformar na imagem do seu Filho. Esse é o bem supremo da vida.

Deus está trabalhando não apenas nas circunstâncias que nos cercam, mas também opera em nossa vida quando esculpe em nós o caráter do seu Filho. Como um artista extremamente talentoso, Deus está arrancando lascas de mármore em nós. E isto dói. Ele está aparando as arestas, moldando-nos e cinzelando-nos. Seu projeto não é nos poupar do sofrimento, mas nos fazer santos como ele é santo. O próprio Filho de Deus aprendeu pelas coisas que sofreu. O sofrimento não vem para nos entortar e enfear, mas para nos burilar, nos aperfeiçoar e nos fazer
refletir a beleza de Jesus. Jó se viu açoitado pelo vendaval do sofrimento e perdeu seus bens, seus filhos, sua saúde, seu casamento e seus amigos. Foi no fundo do vale que conheceu Deus na intimidade e afirmou: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem" (Jó 42:5). O sofrimento que ele enfrentou não era bom em si, mas Deus o usou para o seu bem final.

John Bunyan, puritano da Inglaterra do século xvii, foi preso por pregar o Evangelho. Ficou catorze anos na prisão, em Bedford. Dali das grades da cadeia, com o coração partido, via sua filhinha cega passando grandes necessidades. Sua prisão parecia ser uma tragédia. Mas o Deus que inspira canções nas noites escuras instilou no coração de Bunyan, enquanto estava naquela cela tosca, um dos romances mais lindos de toda a história. Seu livro O peregrino é o livro mais lido no mundo depois da Bíblia. Narra, com beleza, acuidade e profundidade a caminhada do povo de Deus rumo à glória. Deus trabalhou as adversidades e fez delas um cenário de vitória para Bunyan e para milhões de pessoas em todo o mundo.

Quando os discípulos de Jesus o interpelaram sobre as causas da cegueira de um homem cego de nascença, o Senhor lhes disse que aquele homem havia nascido cego para que nele se manifestasse a glória de Deus (Jo 9:3). Quando Jesus recebeu o recado de Marta sobre a doença de Lázaro, logo afirmou que aquela enfermidade não era para a morte, mas para a glória de Deus. Marta e Maria sofreram com a doença e com a morte de Lázaro, mas o sofrimento delas converteu-se em profusa alegria quando Lázaro ressuscitou. No momento em que você enfrenta um problema, o coração fica apertado, a alma fica de luto, mas o consolo de Deus não tarda. No tempo oportuno, o Senhor intervém, restaura, trabalha para que todas as coisas cooperem para o seu bem.

Certa ocasião, um cego tentava tirar alguns acordes do seu velho violino, com o objetivo de granjear algumas moedas das pessoas que passavam pela rua. A música desafinada só afastava as pessoas. Paganini, considerado o maior violinista de todos os tempos, do seu quarto ouviu aquele som desconcertante e desceu para ver o que era. Ao ver o cego, compadeceu-se dele e tomou o violino de suas mãos. Começou a tocar, e um som majestoso e sublime encheu o ambiente. As pessoas, atraídas pela excelência da música, aproximaram-se. Comovidas, todas lançaram suas moedas na bagagem do cego. Quando as circunstâncias da nossa vida parecem estar descontroladas como a música que brotava do violino nas mãos daquele pobre cego, Deus as toma nas mãos e as transforma com vistas a nosso bem.

O Senhor converte a nosso favor o que parece contrário ao nosso bem. Mesmo que sejamos sujeitos aos mesmos males que os ímpios, há uma grande diferença: os males que nos sobrevêm concorrem para o nosso bem, e não para a nossa destruição. Deus governa de tal modo todas as coisas em nossa vida que aquilo que o mundo considera como prejudicial, no fim se torna proveitoso. É Deus quem dirige as coisas, não as coisas que acabam por ajustar-se.

O cristão não vive pelos sentimentos nem pelas circunstâncias que o cercam. Vive pela fé. Vive com entusiasmo, sabendo que a nossa história não caminha para o caos, mas para um fim glorioso. O fim da linha não é o triunfo da morte sobre a vida. Aqui há vale e dor, mas o nosso fim é de glória excelsa. Nem a corruptibilidade do homem exterior, nem a fraqueza do homem interior impedirão o Senhor de realizar em nós o seu plano. O bem triunfará sobre o mal. O pecado não vencerá. O mundo não vencerá. O Diabo não vencerá. Não importa quão sofrida será a luta, o resultado final já está decidido. Nós somos mais do que vencedores em Cristo. Já estamos destinados para a glória. Vamos reinar com Cristo para todo o sempre. Nada nem ninguém na Terra ou no inferno poderá nos roubar essa vitória. Os propósitos de Deus não podem ser frustrados. A boa obra que ele começou a realizar em nós certamente vai completá-la até o dia de Cristo Jesus.


Retirado do livro "Destinados Para A Glória"