quarta-feira, 16 de março de 2011

O SEGREDO DA VERDADEIRA OBEDIÊNCIA - PARTE 1


Por Andrew Murray


“Ele aprendeu a obediência” (Hb 5.8).


O segredo da verdadeira obediência — deixe-me dizer de imediato o que eu creio que seja — é o livre e íntimo relacionamento pessoal com Deus. Todos os nossos esforços pela plena obediência haverão de falhar a não ser que nos acheguemos a essa permanente comunhão com Ele. É a santa presença de Deus, a consciência da Sua morada em nós, que nos guarda de desobedecer a Ele.

Obediência deficiente é sempre resultado de uma vida deficiente. Tentar melhorar e animar essa vida defeituosa por meio de argumentos e incentivos tem lá seus benefícios, mas a maior bênção que devem produzir é fazer-nos sentir a necessidade de uma vida diferente, uma vida tão completamente sujeita ao poder de Deus que a obediência seja seu fruto natural.

A vida defeituosa, a vida de comunhão com Deus irregular ou truncada, tem de ser curada, e tem de dar lugar a uma vida inteiramente sadia; aí então se tornará possível a obediência completa. O segredo da obediência verdadeira é o retorno à íntima e contínua comunhão com Deus. “Ele aprendeu a obediência” (Hb 5.8). E por que isso foi necessário? E qual é a bênção que Ele nos concede? Ouça: “... (Ele) aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, ... tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.

O sofrimento não é natural para nós; por isso nos conclama à rendição de nossa vontade. Cristo teve de sofrer para que nele pudesse aprender a obedecer e abdicar da Sua vontade em favor do Pai a qualquer custo. Ele teve de aprender a obediência para que, como nosso grande Sumo Sacerdote, pudesse ser aperfeiçoado. Ele aprendeu a obediência, Ele tornou-Se obediente até a morte, para que pudesse tornar-Se o autor da nossa salvação. Ele se tornou o autor da salvação através da obediência, para que pudesse salvar aqueles “que lhe obedecem”.

Da mesma forma que para Ele a obediência era absolutamente necessária para conquistar a salvação, para nós ela é absolutamente essencial para herdar essa salvação. A essência da salvação é a obediência a Deus. Cristo, como Aquele que foi obediente, nos salva e nos torna obedientes para Si. Quer seja em Seu sofrimento na terra, quer na Sua glória no ceu, quer em Si mesmo ou em nós, é na obediência que Seu coração está centrado. Aqui na terra, Cristo era aluno na escola da obediência; no céu, Ele a ensina a Seus discípulos que estão aqui na terra. Num mundo onde reina a desobediência para a morte, a restauração da obediência está nas mãos de Cristo. Da mesma forma que em Sua vida, assim também em nós, Seu propósito é conservar a obediência. Ele a ensina e a opera em nós. Vamos, agora, pensar no que e como Ele ensina: talvez descubramos quão pouco nos temos dedicado como alunos nessa escola, onde a única lição por aprender é a obediência.

I. O PROFESSOR

“Ele aprendeu a obediência”. E agora que Ele a ensina, Ele o faz antes de tudo e principalmente por revelar o segredo da Sua própria obediência ao Pai. Eu mencionei que o poder da obediência verdadeira reside no livre relacionamento pessoal com Deus. Assim foi com nosso Senhor Jesus. Ele disse a respeito de tudo o que ensinou: “Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo” (Jo 12.49,50). Isso não significa que Cristo recebeu os mandamentos de Deus na eternidade como parte da comissão do Pai para Ele ao entrar neste mundo. Não. Dia após dia, cada momento à medida que Ele ensinava e trabalhava, Ele viveu, como homem, em contínua comunicação com o Pai e recebeu as instruções do Pai à medida que necessitava delas. Ele por acaso não disse “que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; ... Porque o Pai ... lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará...” (Jo 5.19,20). “... na forma por que ouço, julgo...” (Jo 5.30); “... não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou” (Jo 8.16); “As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (Jo 14.10)? Em todo lugar se vê uma dependência da constante e permanente comunhão e operação de Deus, um ouvir e ver daquilo que Deus fala e faz e revela. Nosso Senhor sempre falou do Seu próprio relacionamento com o Pai como tipo e promessa de nosso próprio relacionamento consigo mesmo, e com o Pai através dEle.

Da mesma forma que ocorria com Ele, nossa vida de obediência contínua é impossível sem constante comunhão e permanente ensino. É somente quando Deus entra em nossa vida, numa proporção e num poder que muitos nem ao menos consideram possível, quando cremos em Sua presença como o Eterno e Aquele Sempre presente Deus, e quando aceitamos essa constante presença da mesma forma que o Filho a cria e recebia, que pode haver alguma esperança de uma vida na qual todo pensamento é trazido cativo à obediência de Cristo. É a imperativa necessidade de continuamente recebermos nossas ordens e instruções do Próprio Deus que encontramos implícito nestas palavras: “DAI OUVIDOS À MINHA VOZ, E EU SEREI O VOSSO DEUS”. A expressão “obedecer aos meus mandamentos” é pouco usada nas Escrituras; quase sempre se usa “obedecer a Mim” ou “dar ouvidos à Minha voz”.

Com o comandante de um exército, o professor de uma escola, o pai de família, não é o código de leis, embora claras e boas, com suas recompensas ou punições, que assegura a obediência verdadeira; o que o faz é A INFLUÊNCIA PESSOAL E VIDA, o amor estimulante e o entusiasmo. É a alegria de sempre ouvir a voz do Pai que dará alegria e força à obediência verdadeira. É a voz dEle que dá poder para obedecer a palavra; de nada vale a palavra sem a voz que a vivifica. Quão claramente vemos isso ilustrado no contraste que encontramos em Israel. O povo ouviu a voz de Deus no Sinai e ficou com medo. Pediram a Moisés que Deus não mais falasse com eles. Queriam que Moisés recebesse a palavra de Deus e a trouxesse a eles. Eles pensavam apenas em termos de mandamentos; não sabiam que o único poder para obedecer se encontra na presença de Deus e na Sua voz falando conosco. E assim, tendo apenas Moisés falando com eles, e
com as tábuas de pedra, sua história é toda de desobediência, porque eles temiam um contato direto com Deus.

E a situação ainda é assim hoje. Muitos, muitos cristãos consideram muito mais fácil receber ensino de homens de Deus em vez de esperar em Deus para recebê-lo dEle Mesmo. A fé deles repousa na sabedoria dos homens, e não no poder de Deus.

Aprendamos a grande lição de nosso Senhor, que “aprendeu a obediência” ao esperar a cada momento para ver e ouvir o Pai, para ver o que Ele tem a nos ensinar. É somente quando, como Ele, nEle e por meio dEle, andamos continuamente com Deus, e ouvimos Sua voz, que temos condições de conseguir oferecer a Deus a obediência que Ele exige de nós e promete operar em nós. Das profundezas de Sua própria vida e experiência, Cristo pode nos ensinar isso.

Ore fervorosamente para que Deus possa lhe mostrar a tolice de tentar obedecer sem o mesmo poder que Cristo necessitou, e que Ele torne você disposto a abrir mão de tudo para que você tenha a mesma alegria de Cristo na presença do Pai durante todo dia.


Retirado do livro: "A Escola da Obediência"

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