sábado, 12 de março de 2011

A SÁBIA INTERVENÇÃO DE DEUS EM NOSSA HISTÓRIA


Por Hernandes Dias Lopes

"Sabemos que todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8:28).

Um otimismo circunstancial:

O apóstolo Paulo prossegue e diz que "todas as coisas cooperam". A vida é composta de montanhas e vales, de alegrias e lágrimas, de prosperidade e perdas. Paulo não está dizendo que todas as coisas que nos acontecem são boas em si. É claro que algumas delas não são boas intrinsecamente. O cristão é alguém que deve saber interpretar a vida. De modo algum deve sorrir da desgraça e se alegrar da tragédia. Cristianismo não é masoquismo. A filosofia masoquista é anticristã. O cristão não tem prazer no sofrimento, nem deve sair gritando de alegria e dando glórias a Deus porque está com câncer. Ele não deve ficar feliz porque perdeu o emprego.

O que Paulo está ensinando é que, mesmo nos grandes problemas, nas grandes aflições, nas grandes tragédias da vida, o nosso Deus trabalha de tal forma que essas situações adversas revertem-se em bênção para nós. Gloriamo-nos em Deus não apenas nos dias ensolarados, mas também nas noites turvas do sofrimento. Damos glória não somente na esperança da glória, mas também nas próprias tribulações, sabendo que elas produzem perseverança, e a perseverança produz experiência, e a experiência desemboca numa esperança triunfadora.

Thomas Watson, ilustre puritano inglês do século xvii, afirmou que a expressão "cooperam" refere-se à medicina.

Vários ingredientes venenosos colocados juntos, sendo combinados pela perícia científica de um farmacêutico, tornam-se produto medicinal que contribui para o bem do paciente enfermo. Assim é a providência de Deus quando divinamente temperada e santificada: ela coopera para o bem daqueles que amam a Deus. O poeta inglês William Cowper escreveu que, por trás de toda providência carrancuda, esconde-se uma face sorridente.

Quando Deus nos dá um remédio amargo, ele o faz com o intento de nos curar. Quando ele nos disciplina, é para nos restaurar. O objetivo de um médico não é apenas ser agradável com o paciente, mas curar sua enfermidade. A aflição pode ter uma raiz amarga, mas ela produz frutos doces, pois o próprio dia da morte de um cristão é o dia de sua ascensão à glória.

Até mesmo aquelas coisas que reputamos amargas e ruins, tecidas pelas mãos de Deus, destinam-se ao nosso bem maior e final. Davi disse que a aflição produz aprendizado. O vale da dor é a escola superior do nosso aprendizado. Deus levou Elias para a solidão do deserto em Querite e depois o lançou na fornalha em Sarepta antes de usá-lo com poder no monte Carmelo. Deus trabalha em nós antes de trabalhar por meio de nós. Paulo diz que seus açoites e prisões contribuíram para o progresso do Evangelho (Fp 1:12). Jó emergiu das profundezas da dor com conhecimento mais profundo e íntimo a respeito de Deus. No deserto do sofrimento, o Senhor nos faz desencantar em relação às glórias do mundo; na fornalha da aflição, nos depura e nos santifica para sua obra. O próprio Filho de Deus foi homem de dores e aprendeu pelas coisas que sofreu. O sofrimento nos põe no devido lugar. Muitas vezes, ele assopra para longe de nós a soberba do coração e nos faz assentar aos pés do Senhor da glória, humildes e dependentes.

Certa vez, um menino brincava na beira de um lago com um barquinho de papel. De repente, o vento levou seu barquinho para o meio do lago e ele começou a chorar. Logo, aproximou-se dele um rapaz que lhe perguntou:

— Por que você está chorando? O garoto, então respondeu:
— O vento levou meu barquinho e não consigo mais apanhá-lo.
O jovem se dispôs a ajudá-lo, e logo começou a atirar algumas pedras na direção do barquinho, o que gerou uma imediata revolta do garoto. Mas o rapaz sabiamente lhe disse:
— "Fique sossegado! Estou jogando estas pedras porque, ao caírem perto do seu barquinho, as ondas vão se formando, e essas ondas empurrarão o seu barquinho para perto de você".
Minutos depois, o garoto, sorridente, tinha seu barquinho de volta.

Na verdade, as pedras que caem à beira da nossa vida podem levar-nos para mais perto de Deus. Quando o Senhor permite uma provação em nossa vida, não é para nos derrotar, mas para nos tornar mais fortes e nos colocar mais perto dele. Tiago diz que devemos ter por motivo de toda alegria o fato de passar por várias provações (Tg 1:2). As provas são inevitáveis, passageiras e pedagógicas. São as nuvens escuras que trazem a chuva que faz o campo florescer e frutificar, e os prados se tornarem repletos de flores.

O reverendo Amantino Adorno Vassão, em seu livro Mesmo na tempestade, fala sobre um jovem que se aproximou dele depois de dois anos internado com tuberculose no hospital, em São José dos Campos, para realizar um culto de ações de graça. O pastor, com alegria, disse-lhe:

— Que bom, meu filho, precisamos mesmo agradecer a Deus, e é justo que o façamos por causa da sua cura.
Ao que o jovem retrucou:
— Não pastor, eu quero agradecer a Deus pela minha doença, porque antes de ficar doente eu não era comprometido com Deus, não lia a Bíblia, não orava, não buscava a face do Senhor. Era apenas um freqüentador da igreja. Mas quando fiquei prostrado no leito, comecei a ler a Palavra de Deus, passei a invocar seu santo nome, e o Senhor mudou a minha vida, transformou o meu coração e um glorioso milagre aconteceu em minha história. Por isso, quero oferecer um culto de ações de graças pela minha enfermidade, que me aproximou do Senhor!

O apóstolo Paulo, paladino da fé cristã, prossegue: "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem" (Rm 8:28). Deus trabalha todas as coisas para o nosso bem. Todas cooperam para o bem não por força inerente, nem por acaso, mas pela divina direção. Nossa vida não é guiada por um destino cego. Não somos controlados pelo acaso. Não estamos sujeitos ao rolo compressor de um destino cego e implacável. Nossa vida não é dirigida pelos astros ou por alguma força mística. Nossa vida está nas mãos de Deus.

O mesmo Deus que está assentado na sala de comando do universo e controla os céus e a Terra é aquele que dirige o nosso destino. Nem um fio de cabelo da nossa cabeça pode embranquecer ou cair sem que ele saiba e permita. Ele conhece cada uma das sessenta trilhões de células do nosso corpo. O Senhor sabe quem somos, onde estamos, como estamos, como sentimos, para onde devemos ir. Ele nos cerca pela frente, por trás e sobre nós põe sua mão. Estende debaixo de nós seus braços eternos. Deus é aquele que nos guia com seu conselho eterno, nos toma pela mão e nos conduz à glória. Ele trabalha para aqueles que nele esperam, e faz hora extra em favor dos seus filhos. Aos seus amados, ele dá tudo de que precisam enquanto dormem.

O grande problema é entender o que esse bem significa. Para a sociedade moderna, o bem está relacionado com posses e prazeres deste mundo. É ter dinheiro, posição social, saúde, amigos, sucesso, diplomas, reconhecimento, conforto. As pessoas estão buscando felicidade em coisas ou em pessoas, e não encontram. Estão procurando na fonte errada. A verdadeira felicidade está em Deus. Ele é o supremo bem. O maior projeto de Deus na nossa vida não é o de nos fazer felizes, mas de nos transformar na imagem do seu Filho. Esse é o bem supremo da vida.

Deus está trabalhando não apenas nas circunstâncias que nos cercam, mas também opera em nossa vida quando esculpe em nós o caráter do seu Filho. Como um artista extremamente talentoso, Deus está arrancando lascas de mármore em nós. E isto dói. Ele está aparando as arestas, moldando-nos e cinzelando-nos. Seu projeto não é nos poupar do sofrimento, mas nos fazer santos como ele é santo. O próprio Filho de Deus aprendeu pelas coisas que sofreu. O sofrimento não vem para nos entortar e enfear, mas para nos burilar, nos aperfeiçoar e nos fazer
refletir a beleza de Jesus. Jó se viu açoitado pelo vendaval do sofrimento e perdeu seus bens, seus filhos, sua saúde, seu casamento e seus amigos. Foi no fundo do vale que conheceu Deus na intimidade e afirmou: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem" (Jó 42:5). O sofrimento que ele enfrentou não era bom em si, mas Deus o usou para o seu bem final.

John Bunyan, puritano da Inglaterra do século xvii, foi preso por pregar o Evangelho. Ficou catorze anos na prisão, em Bedford. Dali das grades da cadeia, com o coração partido, via sua filhinha cega passando grandes necessidades. Sua prisão parecia ser uma tragédia. Mas o Deus que inspira canções nas noites escuras instilou no coração de Bunyan, enquanto estava naquela cela tosca, um dos romances mais lindos de toda a história. Seu livro O peregrino é o livro mais lido no mundo depois da Bíblia. Narra, com beleza, acuidade e profundidade a caminhada do povo de Deus rumo à glória. Deus trabalhou as adversidades e fez delas um cenário de vitória para Bunyan e para milhões de pessoas em todo o mundo.

Quando os discípulos de Jesus o interpelaram sobre as causas da cegueira de um homem cego de nascença, o Senhor lhes disse que aquele homem havia nascido cego para que nele se manifestasse a glória de Deus (Jo 9:3). Quando Jesus recebeu o recado de Marta sobre a doença de Lázaro, logo afirmou que aquela enfermidade não era para a morte, mas para a glória de Deus. Marta e Maria sofreram com a doença e com a morte de Lázaro, mas o sofrimento delas converteu-se em profusa alegria quando Lázaro ressuscitou. No momento em que você enfrenta um problema, o coração fica apertado, a alma fica de luto, mas o consolo de Deus não tarda. No tempo oportuno, o Senhor intervém, restaura, trabalha para que todas as coisas cooperem para o seu bem.

Certa ocasião, um cego tentava tirar alguns acordes do seu velho violino, com o objetivo de granjear algumas moedas das pessoas que passavam pela rua. A música desafinada só afastava as pessoas. Paganini, considerado o maior violinista de todos os tempos, do seu quarto ouviu aquele som desconcertante e desceu para ver o que era. Ao ver o cego, compadeceu-se dele e tomou o violino de suas mãos. Começou a tocar, e um som majestoso e sublime encheu o ambiente. As pessoas, atraídas pela excelência da música, aproximaram-se. Comovidas, todas lançaram suas moedas na bagagem do cego. Quando as circunstâncias da nossa vida parecem estar descontroladas como a música que brotava do violino nas mãos daquele pobre cego, Deus as toma nas mãos e as transforma com vistas a nosso bem.

O Senhor converte a nosso favor o que parece contrário ao nosso bem. Mesmo que sejamos sujeitos aos mesmos males que os ímpios, há uma grande diferença: os males que nos sobrevêm concorrem para o nosso bem, e não para a nossa destruição. Deus governa de tal modo todas as coisas em nossa vida que aquilo que o mundo considera como prejudicial, no fim se torna proveitoso. É Deus quem dirige as coisas, não as coisas que acabam por ajustar-se.

O cristão não vive pelos sentimentos nem pelas circunstâncias que o cercam. Vive pela fé. Vive com entusiasmo, sabendo que a nossa história não caminha para o caos, mas para um fim glorioso. O fim da linha não é o triunfo da morte sobre a vida. Aqui há vale e dor, mas o nosso fim é de glória excelsa. Nem a corruptibilidade do homem exterior, nem a fraqueza do homem interior impedirão o Senhor de realizar em nós o seu plano. O bem triunfará sobre o mal. O pecado não vencerá. O mundo não vencerá. O Diabo não vencerá. Não importa quão sofrida será a luta, o resultado final já está decidido. Nós somos mais do que vencedores em Cristo. Já estamos destinados para a glória. Vamos reinar com Cristo para todo o sempre. Nada nem ninguém na Terra ou no inferno poderá nos roubar essa vitória. Os propósitos de Deus não podem ser frustrados. A boa obra que ele começou a realizar em nós certamente vai completá-la até o dia de Cristo Jesus.


Retirado do livro "Destinados Para A Glória"

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