quinta-feira, 28 de abril de 2011

DIFICULDADE NO CAMINHO DE CRER


Por Charles H. Spurgeon


É POSSÍVEL que o leitor sinta alguma dificuldade em crer. Deixemo-lo ele considerar. Não podemos crer por um ato imediato. O estado da mente que descrevemos como crer é um resultado, seguindo-se a certos estados formais da mente. Chegamos à fé por degraus. Pode até haver algo como a fé à primeira vista; mas usualmente chegamos à fé por estágios: ficamos interessados, consideramos, ouvimos evidências, somos convencidos, e então levados a crer. Se, então, eu quero crer, mas por uma razão ou outra eu não consigo obter fé, o que eu devo fazer? Devo ficar parado como uma vaca contemplando uma nova porteira; ou devo eu, como um ser inteligente, usar os meios próprios? Se eu quero crer em qualquer coisa, o que devo fazer? Vamos responder de acordo com as regras do senso comum.

Se me dissessem que o Sultão de Zanzibar fosse um bom homem, e se fosse algo de interesse para mim, eu não suponho que sentiria qualquer dificuldade em crer. Mas por alguma razão eu duvido disso, e ainda assim desejaria acreditar na notícia, como deveria agir? Não deveria caçar toda a informação ao meu alcance sobre sua Majestade, e tentar, pelo estudo dos jornais e outros documentos, chegar à verdade? Melhor ainda, se acontecesse de estar neste país, e pudesse vê-lo, e pudesse mesmo conversar com membros da sua corte, e cidadãos do seu país, eu seria grandemente ajudado a chegar a uma decisão por usar essas fontes de informação. Evidência comparada e conhecimentos obtidos levam à fé.

É verdade que a fé em Jesus é presente de Deus; mas ainda assim Ele usualmente a dá de acordo com as leis da própria mente, e daí nos é dito que “o crer vem pela pregação; e a pregação, pela palavra de Deus”. Se você quer crer em Jesus, ouça sobre Ele, leia sobre Ele, pense nEle, conheça a Ele, e então você achará fé brotando em seu coração, tal qual o trigo que surge através da umidade e do calor operando na semente que foi semeada. Se eu desejasse ter fé em certo médico, eu perguntaria às testemunhas de suas curas, eu desejaria ver seus diplomas que certificam do seu conhecimento profissional, e eu ainda gostaria de ouvir o que ele diz acerca de certos casos complicados. De fato, eu usaria meios para saber, a fim de que cresse.

Ouçam bastante sobre Jesus. Almas aos milhares vêm à fé em Jesus pelo ministro que lhe apresenta clara e constantemente.
Poucos permanecem sem crer ouvindo um pregador cujo grande assunto é o Cristo crucificado. Não ouçam nenhum outro tipo de ministro. Há outros. Eu ouvi falar de um que achou em sua Bíblia do púlpito um papel contendo este texto, “Senhor, queremos ver Jesus”. Vá ao local de adoração para ver Jesus; e se você não pode nem ouvir a menção do Seu Nome, vá para outro lugar aonde se pensa mais sobre Ele, e é mais comumente apresentado.


Leiam bastante sobre Jesus. A Bíblia é a janela pela qual podemos olhar e ver nosso Senhor. Leia sobre a história de Seus sofrimentos e morte com devotada atenção, e depois de muito o Senhor fará fé secretamente entrar na sua alma. A cruz de Cristo não só recompensa a fé, mas faz - lá começar. Muitos crentes podem dizer:

“Quando vi a ti, ferido, sofrendo,
Sem respirar na maldita árvore,
Logo vi meu coração crer
Tu sofreste ali por mim”

Se ouvir e ler não forem suficientes, então deliberadamente determina à sua mente trabalho de revisar a matéria, e a tenha. Ou você crerá, ou saberá a razão de não crer. Veja o assunto todo até o limite de suas capacidades, e ore a Deus para que lhe ajude a fazer uma investigação completa, e chegar a uma decisão honesta de uma forma ou outra. Considere quem Jesus era, e se a constituição de Sua pessoa não lhe garante total confiança. Considere o que Ele fez, e se isso não é outro bom motivo para confiança.

Considere-O morrendo, levantando dos mortos, ascendendo aos céus, e vivendo eternamente para interceder pelos transgressores; e veja se isso não Lhe capacita a ser alguém de quem você pode depender. Então clame a Ele, e veja se Ele não lhe ouve. Quando Usher queria saber se Rutherford era de fato um homem tão santo quando se dizia ser, ele foi à sua casa como pedinte, e ganhou um quarto, e ouviu o homem de Deus derramando seu coração diante do Senhor pela noite. Se você puder conhecer a Jesus, chegue tão perto dEle quanto puder ao estudar Seu caráter, e correspondendo ao Seu amor.

Houve um tempo em que eu precisei de evidências para crer no Senhor Jesus; mas agora eu O conheço tão bem, por experimentá-lO, que eu precisaria de muita evidência para que eu duvidasse. É agora mais natural para mim confiar que descrer: isso é a nova natureza triunfando; não era assim no começo. A história da fé é. No começo, uma fonte de fraquezas; mas ação após ação de confiança tornam a fé num hábito. Experiência traz à fé forte confirmação.

Eu não estou perplexo pela dúvida, porque a verdade em que eu acredito fez um milagre em mim. Por seus meios eu recebi e ainda tenho uma nova vida, para a qual eu fui estranho antes: e isso é confirmação das mais fortes.
Eu sou como o bom homem e sua mulher que mantiveram um farol por anos. Um visitante, que veio ver o farol, olhando para fora da janela a ira das águas, perguntou à boa mulher, “Você não fica com medo de noite, quando a tempestade está lá fora, e as grandes ondas passam logo em volta da lanterna? Você não teme que o farol, e tudo que há nele, serão carregados? Eu estou certo que teria medo de confiar em uma torre fina no meio das grandes ondas”. A mulher comentou que a ideia nunca lhe ocorrera. Ela havia vivido lá por tanto tempo que se sentia tão segura na rocha solitária quanto ela sempre se sentiu vivendo na terra firme. E acerca de seu marido, quando perguntado se ele não se sentia ansioso quando o vento provocava um furacão, ele respondeu, “Sim, eu fico ansioso para manter as lâmpadas bem seguras, e a luz queimando, a fim de que nenhum barco naufrague”. E sobre a ansiedade da segurança do farol, ou a sua própria segurança nele, ele havia ultrapassado isso tudo. Assim é também com o crente crescido e maduro. Ele pode dizer humildemente, “Eu sei em quem tenho crido, e estou bem certo que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia”.

Dito isto que nenhum homem tente me inquietar com dúvidas e questionamentos; eu carrego na minha alma as provas da verdade e do poder do Espírito, e não terei nenhum de seus raciocínios astutos. O evangelho para mim é verdade: eu me contentarei em perecer se não for. Eu arrisco o destino eterno da minha alma sobre a verdade do evangelho, e sei que não há nenhum risco nisso. Minha única preocupação é manter a luz acesa, para que eu possa beneficiar outros. Que apenas o Senhor me dê óleo suficiente para alimentar minha chama, e eu estarei bem contente.

Agora, caçador incomodado, se é assim, que seu ministro, e muitos outros em quem você confia, encontraram perfeita paz e descanso no evangelho, porque você não encontraria? Está o Espírito do Senhor em dificuldades? As palavras dEle não fazem bem aos que andam na retidão? Você não tentará também a virtude que os salva?

Todo verdadeiro é o evangelho, pois Deus é o seu Autor. Creia nele. Totalmente capaz é o Salvador, pois Ele é Filho de Deus. Confie nEle. Todo-poderoso é Seu precioso sangue. Busque Seu perdão. Totalmente amoroso é seu coração gracioso. Corra a ele agora.

Assim eu insistiria que o leitor buscasse a fé; mas se ele não deseja, o que mais posso fazer? Eu trouxe o cavalo à água, mas não posso fazê-lo beber. Isso, no entanto, seja lembrado – incredulidade é intencional quando a evidência é apresentada no caminho do homem, e ele se recusa a examiná-la cuidadosamente. Aquele que não deseja saber, e aceitar a verdade, deve-se culpar a si mesmo, se morrer carregando uma mentira. É verdade que “quem crer e for batizado será salvo”: é igualmente verdade que “quem não crer já está condenado”.


Retirado do livro "Diante da Porta Estreita"

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