terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

HUMILDADE E EXALTAÇÃO


Por Andrew Murray


"O que se humilha será exaltado " (Lucas 18.14).
"Deus dá graça aos humildes. (...) Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará" (Tiago 4.6,10).
"Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus,para que ele, em tempo oportuno, vos exalte"'(1 Pedro 5.6).


Ontem me perguntaram: "Como posso vencer esse orgulho?" A resposta é simples. Duas coisas são necessárias: faça o que Deus diz que é seu trabalho: humilhar-se a si mesmo, e confie Nele para fazer o que Ele diz que é trabalho Dele: Ele o exaltará.

A ordem é clara: humilhe-se a si mesmo. Isso não significa que é o seu trabalho vencer e expulsar o orgulho de sua natureza e formar dentro de você a mansidão do santo Jesus. Não, essa é a obra de Deus, a própria essência da exaltação, na qual Ele o eleva para dentro da real semelhança do Filho amado. O que a ordem significa é isto: tome cada oportunidade de humilhar-se diante de Deus e do homem. Na confiança na graça que já está trabalhando em você, na segurança de que mais graça para vitória está vindo e de que a luz da consciência brilha sobre o orgulho do coração e suas obras; apesar de tudo o que possa haver de fracasso e falha, permaneça persistentemente sob a ordem imutável: humilhe-se a si mesmo. Aceite com alegria tudo o que Deus permite, interior ou exteriormente, de amigo ou inimigo, em natureza ou em graça, para lembrá-lo da sua necessidade de humilhar-se e para ajudá-lo a isso. Considere a humildade como sendo, de fato, a virtude-mãe, sua primeira obrigação diante de Deus, a única salvaguarda perpétua da alma, e fixe seu coração nisso como a origem de toda bênção. A promessa é divina e segura: aquele que se humilhar será exaltado. Cuide para fazer a única coisa que Deus pede: humilhe-se a si mesmo. Deus cuidará de fazer a única coisa que Ele prometeu: Ele dará mais graça e Ele o exaltará no devido tempo.

Todos os tratamentos de Deus com o homem são caracterizados por dois estágios. Há o tempo de preparação, quando ordem e promessa — com a experiência mesclada de esforço e impotência, de fracasso e sucesso parcial, com a santa expectativa de algo melhor que isso despertará — treinarão e disciplinarão os homens para um estágio mais elevado. Depois, vem o tempo de cumprimento, quando a fé herda a promessa, e deleita-se por ter, tantas vezes, se esforçado em vão. Essa lei vale em cada aspecto da vida cristã e na busca de cada virtude em separado, porque ela está plantada na própria natureza das coisas. Em tudo o que concerne a nossa redenção, Deus tem de ne-cessariamente tomar a iniciativa. Quando isso estiver feito, a volta do homem a Deus acontece.

No esforço de obter a obediência, uma pessoa tem de aprender a conhecer sua impotência — a ponto de desesperar-se para morrer para ele mesmo — e ser ajustado voluntária e inteligentemente para receber de Deus o fim, a completação daquilo que ele aceitou no início da vida cristã em ignorância. Então, Deus — que foi o Início, antes que o homem O conhecesse razoavelmente ou plenamente entendesse o que era Seu propósito — é ansiado e bem-vindo como o Fim, como o Tudo em todos.

E tanto como é assim em relação à salvação, também é na busca da humildade. A ordem vem do trono, do próprio Deus, para cada cristão: humilhe-se a si mesmo. O cristão sério que atenta para ouvir e obedecer será recompensado — sim, recompensado — com a descoberta dolorosa de duas coisas. A primeira: quão profundo orgulho - que é a má vontade de se considerar e ser considerado como nada para sub-meter-se a Deus - havia, o qual não era conhecido de ninguém. A segunda será perceber que completa impotência há em todos os nossos esforços (e em todas as nossas orações, também, pela "ajuda de Deus") para destruir o horrível monstro. Bem-aventurado o homem que agora aprende a pôr sua esperança em Deus e perseverar, apesar de todo o poder do orgulho dentro dele, em atos de humilhação diante de Deus e dos homens. Conhecemos a lei da natureza humana: atos produzem hábitos, hábitos geram disposições, disposições formam a vontade, e a vontade devidamente formada é caráter. Não é diferente na obra da graça. Enquanto temos atos de humilhação, os quais, persistentemente repetidos, tornam-se hábitos e disposições, e essas fortalecem o desejo, Deus, que efetua em nós tanto o querer como o realizar (Fp 2.13), vem com Seu maravilhoso poder e Espírito, e, assim, a humilhação do coração orgulhoso — com a qual o santo penitente lançou-se a si mesmo frequentemente diante de Deus — é recompensada com "mais graça" do coração humilde, no qual o Espírito de Jesus venceu e levou a nova natureza de maturidade, e onde Ele, o manso e humilde, agora habita para sempre.

Humilhem-se na visão do Senhor, e Ele irá exaltá-los. E no que consiste a exaltação? A mais elevada glória da criatura é ser somente um vaso, para receber e desfrutar e mostrar publicamente a glória de Deus. Ela pode fazer isso somente quando está desejando nada ser em si mesmo para que Deus seja tudo. A água sempre preenche primeiro os lugares mais baixos. Quanto mais baixo, quanto mais vazio o homem fica diante de Deus, mais rápido e mais plenamente será o enchimento interior com a glória divina. A exaltação que Deus promete não é, não pode ser, qualquer coisa externa à parte Dele mesmo; tudo o que Ele tem para dar ou pode dar é somente mais Dele mesmo para tomar posse de nós mais completamente. A exaltação não é, como um prêmio terreno, algo arbitrário, sem a necessária conexão com a conduta a ser recompensada. Não! Mas é, em sua própria natureza, o efeito e o resultado de humilhar-nos a nós mesmos. Não é nada a não ser o dom de tal humildade divina que habita interiormente, tal conformidade e posse da humildade do Cordeiro de Deus, que nos prepara para receber plenamente o habitar interior de Deus.

Aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado. O próprio Jesus é a prova da verdade dessas palavras, e da certeza de seu cumprimento para nós, Ele é a garantia. Vamos tomar sobre nós Seu jugo e aprender Dele, pois Ele é manso e humilde de coração. Se não quisermos nos curvar a Ele, como Ele se curvou a nós, Ele ainda irá se curvar a cada um de nós novamente, e nos acharemos em jugo não desigual com Ele. Como entramos profundamente na comunhão de Sua humilhação, e também nos humilhamos ou carregamos a humilhação dos homens, podemos contar que o Espírito de Sua exaltação, "o Espírito de Deus e de glória", repousará sobre nós. A presença e o poder do Cristo glorificado virão para aqueles que são humildes de espírito. Quando Deus pode novamente ter Seu devido lugar em nós, Ele irá nos exaltar.

Por isso, faça da glória de Deus seu cuidado em humilhar-se a si mesmo. Ele fará sua glória Seu cuidado em aperfeiçoar sua humildade e soprá-la para dentro de você, como sua vida habitante, o próprio Espírito de Seu Filho. Como a vida todo-permeante de Deus domina você, não haverá nada tão espontâneo e nada tão doce como ser nada, com nenhum pensamento ou desejo do ego, pois tudo é ocupado com Aquele que a tudo preenche. "De boa vontade me gloriarei em minha fraqueza, para que o poder de Cristo repouse sobre mim."

Irmãos, não temos aqui a razão pela qual nossa consagração e nossa fé são tão pouco úteis na busca pela santidade? Foi pelo ego e sua força que a obra foi feita sob o nome de fé; foi para o ego e sua alegria que Deus foi chamado; era, inconscientemente, mas ainda verdadeiramente, no ego e em sua santidade que a alma se regozijou. Antes, não tínhamos idéia de que a humildade — absoluta, habitante, humildade e auto-destruição semelhantes às de Cristo, permeando e marcando toda nossa vida com Deus e o homem — era o mais essencial elemento da vitalidade da santidade que buscamos ver.

É apenas sob o domínio de Deus que perco meu ego. Como é na altura e na largura e glória da luz do sol que a insignificância da partícula de poeira se movimentando é vista, assim também a humildade é tomarmos nosso lugar na presença de Deus para ser uma partícula de pó habitando na luz do sol de Seu amor.

"Quão grande é Deus! Quão pequeno sou! Perdido, tragado na imensidão do Amor! Há somente Deus, não eu!".

Que Deus nos ensine a crer que ser humilde, ser nada em Sua presença, é o mais elevado feito e a bênção mais plena da vida cristã. Ele nos fala: "Habito no lugar santo e elevado, e com aquele que é de espírito contrito e humilde". Que essa seja nossa porção!

"Oh, ser o mais vazio, o mais baixo, humilhado, não notado e desconhecido, e para Deus o mais santo vaso, cheio com Cristo, e somente Cristo!"


A humildade é o segredo da unidade e o orgulho é o segredo da divisão.
(Robert C. Chapman)

O orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio.
(Santo Agostinho)


Retirado de Humildade - A Beleza da Santidade

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