segunda-feira, 10 de outubro de 2011

SÉRIE FOME POR DEUS - PARTE 3 - O JEJUM


Por Hernandes Dias Lopes

As escrituras enfatizam também o jejum como um importante exercício espiritual. Se desejarmos pregar com poder, o jejum não pode ser esquecido em nossa vida devocional. O jejum está presente tanto no Antigo como no Novo Testamento. Os profetas, os apóstolos, Jesus e muitos homens de Deus como Agostinho, Lutero, Calvino, John Knox, Wesley, Charles Finney, Moody e outros mais através da história, experimentaram bênçãos espirituais através do jejum. Erroll Hulse citando Martyn Lloyd Jones diz que “os santos de deus em todos os tempos e em todos os lugares não somente creram no jejum, mas também o praticaram”.

Há um apetite por Deus em nossas almas. Deus colocou a eternidade em nossos corações e somente Ele pode satisfazer essa nossa necessidade. Se você não sente fortes desejos pela manifestação da glória de Deus, não é porque você tem bebido profundamente dos mananciais da Deus e está satisfeito. Pelo contrário, é porque você tem buscado saciar a sua alma nos banquetes do mundo.

John Piper define jejum como fome de Deus. De acordo com Piper, o maior inimigo da fome de Deus não é o veneno mortífero, mas uma torta de maçã. O maior adversário do amor de Deus não são seus inimigos, mas seus dons. E os mais mortíferos apetites não são pelos venenos do mal, mas pelos simples prazeres da terra (Lc 8.14; Mc 4.19). “Os prazeres desta vida” e os “desejos por outras coisas” não são mal em si mesmos. Não são vícios. São dons de Deus. Mas todos eles podem tornar-se substitutos mortíferos do próprio deus em nossas vidas. O jejum revela o grau de domínio que o alimento tem sobre nós. O jejum cristão é um teste para conhecermos qual é o desejo que nos controla. Richard Foster afirma:

Mais do que qualquer outra disciplina, o jejum revela as coisas que nos controlam. O jejum é um maravilhoso benefício para o verdadeiro discípulo que deseja ser transformado na imagem de Jesus Cristo. Muitas vezes encobrimos o que está dentro de nós com comida e outras coisas.

Martyn Lloyd Jones, na mesma linha de pensamento, ensina que o jejum não pode ser entendido apenas como uma abstinência de alimento e bebida. Segundo ele, o jejum também deve incluir abstinência de qualquer coisa que é legítima em si mesma por amor de algum propósito espiritual.

O propósito de jejum NÃO é obter o favor de Deus ou mudar a sua vontade (Is 58.1-12). Também não é para impressionar os outros com uma espiritualidade farisaica (Mc 6.16-18). Nem é para proclamar a nossa própria espiritualidade diante dos homens. Jejum significa amor a Deus. Jejuar para ser admirado pelos homens é uma errada motivação para fazê-lo. Jejum é fome pelo próprio Deus e não fome por aplausos humanos (Lc 18.12). É para nos humilharmos diante da Deus (Dn 10.1-12), para suplicarmos a Sua ajuda (2 Cr 20.3; Es 4.16) e para retornarmo-nos para Deus com todo o nosso coração (Jl 2.12-12). É para reconhecermos a nossa total dependência da proteção divina (Es 8.21-23). O jejum é um instrumento para fortalecer-nos com poder divino, em face dos ataques do inferno (Mc 9.28-29).

Deus tem realizado grandes intervenções na história através da oração e do jejum de seu povo. Quando deu a lei para o seu povo, Moisés dedicou quarenta dias a oração e ao jejum no monte Sinai. Deus libertou Josafá das mãos dos seus inimigos quando ele e seu povo humilharam-se diante do Senhor em oração e jejum (2 Cr 20.3- 4, 14-15, 20-21). Deus libertou o seu povo da morte através da oração e jejum da rainha Ester e do povo judeu (Es 4.16). Deus usou Neemias para restaurar Jerusalém quando este orou e jejuou (Ne 1.4). Deus usou Paulo e Barnabé para plantar igrejas no Império Romano quando eles devotavam-se à oração e ao jejum (At 13.1-4).

John Piper comenta que a oração e jejum resultaram num movimento de missões que arrancou o cristianismo da obscuridade para ser a religião dominante do Império Romano em dois séculos e meio, e hoje calcula-se que temos cerca de um bilhão e trezentos milhões de seguidores da religião cristã, com cristãos testemunhando em todos os países do mundo. Infelizmente, o jejum é um grande tesouro espiritual negligenciado pelos cristãos contemporâneos.

Os homens têm amado os dons de Deus mais do que o próprio Deus. Eles tem mais fome dos dons de Deus do que de Deus. Jejum não é fome das bênçãos de Deus, mas é fome do próprio Deus. John Piper diz que o jejum cristão, nasce exatamente da saudade de Deus. Ele escreve:

“Nós glorificamos a Deus quando o preferimos acima dos seus dons... Nós nos enganamos ao dizermos que amamos a Deus, mas se somos testados revelamos o nosso amor apenas por palavras e não por sacrifício... Eu realmente tenho fome de Deus? Realmente tenho saudade de deus? Ou estou satisfeito apenas com os dons de Deus?”

Devemos comer e jejuar para glória de deus (I Co 10.31). Quando nós comemos, saboreamos o emblema do nosso alimento celestial, o Pão da Vida. E quando jejuamos, dizemos, “eu amo a realidade acima do emblema”. O alimento é bom, mas Deus é melhor. “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Jesus disse, “tenho algo para comer que vocês não conhecem” (Jo 4.32). Em Samaria, Jesus satisfez sua vida não com o pão da terra, mas com o pão do céu. Deus mesmo foi o seu alimento. Isto é jejum: intimidade com Deus. A comunhão com Deus deve ser a nossa mais urgente a apetitosa refeição.

John Piper sintetiza esta gloriosa realidade assim:

“Quanto mais profundamente você anda com Cristo, mais faminto você se torna dEle... mais saudade você tem do céu... mais deseja a plenitude de deus em sua vida... mais anseia pela vinda do noivo... mais aspira que a igreja seja reavivada e revestida com a beleza de Jesus. Mais você anseia por um profundo despertamento da realidade de Deus em nossas cidades... mais deseja ver a luz do evangelho da glória de cristo penetrar nas trevas dos povos ainda não alcançados... mais deseja ver as falsas filosofias do mundo sendo vencidas pela verdade... mais deseja ver a dor sendo vencida, as lágrimas enxugadas e a morte destruída... mais anseia ver as coisas erradas sendo feitas corretamente e a justiça e a graça de Deus enchendo a terra como as águas cobrem o mar”.

Nós vivemos em uma geração cujo deus é o estômago (Fl 3.19). Muitas pessoas deleitam-se apenas nas bênçãos de Deus e não no Deus das bênçãos. O homem tem se tornado o centro de todas as coisas. Todas as coisas são feitas e preparadas para o prazer do homem. Mas o homem não é o centro do universo, Deus é. Todas as coisas devem ser feitas para a glória de Deus. Deus deve ser a nossa maior satisfação. Quem jejua tem mais fome do pão do céu do que o pão da terra. Quem jejua tem mais saudade do Pai do que de suas bênçãos. Quem jejua confia mais no poder que vem do céu do que nos recursos da terra. Quem jejua confia mais nos recursos de deus do que na sabedoria humana. Verdadeiramente, se desejamos ver poder no púlpito, se desejamos ver pregações ungidas e cheias de vigor, se ansiamos ver o despertamento da igreja e o seu crescimento numérico, precisamos, então, de pregadores que sejam homens santos e piedosos, homens de oração e jejum.


Retirado do livro "Piedade e Paixão".

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