terça-feira, 5 de julho de 2011

LOUVOR EM TRÊS DIMENSÕES


Por A. W. Tozer

Cristo é tantas coisas maravilhosas para os seus, e lhes traz tal riqueza de benefícios, que a mente não pode compreender, nem o coração pode encontrar palavras para expressar.

Estes tesouros são presentes e futuros. O Espírito da Verdade, falando por meio de Paulo, afirma-nos que em Cristo Deus nos aben­çoou com todas as bênçãos espirituais. Estas nos pertencem, como filhos da nova criação que somos, e são postas ao nosso alcance pela obediência da fé.

Pedro, movido pelo mesmo Espírito, fala-nos de uma herança que nos é garantida pela ressurreição de Cristo, herança incorruptí­vel, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para nós.

Não há contradição aqui, pois um apóstolo fala dos benefícios presentes, e o outro, dos benefícios que ainda haverão de ser-nos conferidos por ocasião da vinda de Cristo. E ambos esgotam a lin­guagem humana para celebrar as muitas bênçãos que já recebemos.

Talvez nos ajudasse a compreender, se pensássemos em nós co­mo um peixe num rio imenso, ao mesmo tempo gozando o pleno fluxo da caudal, lembrando com gratidão a corrente que já passou, e esperando com jubilosa antecipação a plenitude que se move ao nosso encontro das cabeceiras do rio. Embora isso não passe de uma imperfeita figura de linguagem, é verdade absolutamente literal que nós, que confiamos em Cristo, somos sustentados pela graça presente, enquanto nos lembramos com gratidão da bondade que des­frutamos nos dias passados e ansiamos com feliz expectativa pela graça e bondade que ainda nos esperam.

Bernardo de Claraval fala algures de um "perfume composto dos recordados benefícios de Deus". Tal fragrância é rara demais. Todo cristão deveria recender esse aroma; pois não temos recebido, todos nós, mais da bondade de Deus do que a nossa imaginação po­deria ter concebido antes de O conhecermos e de descobrir por nós mesmos quão rico e quão generoso Ele é?

Que recebemos da Sua plenitude graça sobre graça ninguém negará; mas a fragrância não provém do recebimento; provém da recordação, que é de fato uma coisa muito diferente. Dez leprosos receberam a cura; esse foi o benefício. Um deles voltou para agra­decê-lo ao seu benfeitor; esse foi o perfume. Benefícios não lembra­dos poderão, como moscas mortas, fazer o ungüento exalar cheiro fétido.

Bênçãos rememoradas, gratidão por favores atuais e louvor pela graça prometida, mesclam-se como mirra, aloés e cássia para formar um fino ramalhete para adorno dos santos. Davi também ungiu a sua harpa com este perfume, e deste os hinos dos séculos têm sido docemente impregnados.

Talvez se exija fé mais pura para louvar a Deus por bênçãos não concretizadas do que pelas já desfrutadas ou pelas que ora des­frutamos. Todavia, muitos há que subiram a essa culminância enso­larada, como se deu com Anna Waring, quando escreveu:

Dou glória a Ti por toda graça que ainda não provei . . .

Conforme nos movemos rumo a uma familiaridade pessoal mais profunda com o Trino Deus, creio que a ênfase da nossa vida se apartará do passado e do presente para o futuro. Lentamente nos tornaremos filhos de uma esperança viva e de um amanhã seguro. Os nossos corações se enternecerão com as lembranças de ontem, e as nossas vidas se encantarão de gratidão a Deus pelo caminho se­guro que percorremos; mas os nossos olhos focalizarão mais e mais a bendita esperança do amanhã.

Grande parte da Bíblia é dedicada à predição. De tudo que Deus já fez por nós, nada se pode comparar com tudo que está escrito na segura palavra da profecia. E nada do que Ele fez ou pode fazer ainda por nós, pode comparar-se com o que Ele é e será para nós. Talvez a autora de hinos tivesse isto em mente quando cantou:

"Tenho uma herança de alegria
que ainda não devo ver; a mão que sangrou para fazê-la minha
guarda-a para mim".

Poderia essa "herança de alegria" ser menos do que a Beatífica Visão?


Retirado de "O Homem: a Habitação de Deus"

Nenhum comentário:

Postar um comentário