terça-feira, 2 de agosto de 2011

A PALAVRA DE DEUS


Por John Stott

"E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
1 Coríntios 2: 1-5.

Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.
1 Coríntios 1:21


O evangelho é a verdade proveniente de Deus. Segundo Paulo, o que ele proclamou aos coríntios não foi "ostentação de linguagem", ou seja, sabedoria humana ou a sabedoria do mundo, mas a palavra de Deus ou a sabedoria de Deus, que aqui ele chama de "testemunho" (martyrion) ou "mistério" (mysterion). As palavras gregas são similares e a evidência do manuscrito entre elas é perfeitamente equilibrada. Além do mais, ambas ocorrem dentro dos dois primeiros capítulos desta carta: martyrion pode ter relação com 1.6, enquanto que mysterion pode estar relacionada com 2.7. Qualquer que seja a leitura correta, o sentido é o mesmo, isto é, que a mensagem de Paulo veio de Deus. Se a palavra correta é "testemunho", então significa "a verdade confirmada de Deus"; se o certo é "mistério", então é "a verdade secreta de Deus" (BLH). Em todo caso, o evangelho do apóstolo é a verdade de Deus.

É aqui que deve começar toda evangelização de verdade. Nós não inventamos nossa mensagem. Não abordamos as pessoas com nossas próprias especulações humanas. Somos, isto sim, portadores da Palavra de Deus, encarregados do evangelho de Deus, mordomos dos segredos revelados de Deus.

Além disso, o que Paulo transmitia era compatível com sua mensagem. Ele não foi até os coríntios com "ostentação de linguagem" nem com "sabedoria" (versículo 1). Quanto ao conteúdo, ele abriu mão da orgulhosa sabedoria humana, submetendo-se humildemente, ao invés disso, à palavra de Deus acerca de Cristo (versículo 2). Quanto à mensagem, ele abriu mão da orgulhosa retórica humana para basear-se humildemente no poder do Espírito Santo (versículos 3 a 5). Como diz C. H. Hodge em seu comentário, ele não veio "nem como retórico nem como filósofo".

Por favor, não me interpretem mal. Não existe aqui nenhuma tentativa de justificar um evangelho sem conteúdo, nem tampouco um estilo sem forma. O que Paulo está abdicando aqui não é uma substância doutrinária, nem um argumento racional, mas somente a sabedoria e a retórica do mundo. Nós sabemos disso porque Lucas nos conta em Atos 18, como foi o ministério evangelístico do apóstolo em Corinto. Primeiro ele "discorria na sinagoga" todo sábado, "persuadindo tanto judeus como gregos" (versículo 4). Daí ele passou dezoito meses "ensinando entre eles a palavra de Deus" (versículo 11). Por isso ele pôde levar adiante o seu ministério de ensino em Corinto tentando "persuadir" as pessoas. Ele não somente ensinava a verdade às pessoas, mas também convencia-as da verdade.

Portanto, quando convidamos as pessoas a receberem a Cristo, não temos nenhum direito de fechar, endurecer ou anular a mente delas. De maneira nenhuma. Deus as criou como seres racionais e espera que usem o seu raciocínio. Para dizer a verdade, elas nunca haverão de crer, a não ser que o Espírito as ilumine. Sem isso, todo argumento será infrutífero. "Mas", escreve Gresham Machen, "só porque o argumento é insuficiente, isto não significa que ele seja desnecessário. O que o Espírito Santo faz no novo nascimento não é tornar cristã uma pessoa, independente das evidências, mas, sim, dissipar a neblina dos seus olhos e capacitá-la a atentar para essas evidências."

Assim, o evangelho é a verdade que vem de Deus e foi confiada a nós. Nossa responsabilidade é apresentá-la da forma mais clara, coerente e convincente possível e, assim como os apóstolos, argumentá-la com a maior persuasão possível. E em todo o tempo, ao fazê-lo, estaremos confiando que o Santo Espírito da verdade haverá de dissipar a ignorância das pessoas, superar seus preconceitos e convencê-las acerca de Cristo.


Retirado do livro: "Ouça o Espírito, Ouça o Mundo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário