quarta-feira, 2 de novembro de 2011

SÉRIE: O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO - PARTE 3

Por D. M. L. Jones

"Vocês não precisam estar sob esse espírito de escravidão". Por que não? Porque o Espírito Santo está em vocês e Ele os fortalecerá e lhes dará poder. Paulo está sempre repetindo essa mensagem. Ouçam-no novamente em Filipenses 2:13: "Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade". "Operai a vossa salvação". Como? "Com temor e tremor". Somos um pouco sadios demais hoje em dia. "Operai a vossa salvação com temor e tremor". As pessoas não temem no momento da conversão, e prosseguem não temendo; não conhecem o significado da palavra tremor: "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade". Isso é o Espírito novamente. Este é o modo de se livrarem desse espírito de escravidão e desse falso espírito de temor. Devemos nos conscientizar de que o Espírito de Deus está em nós. Devemos olhar para Ele, buscar Sua ajuda e confiar nEle. Isso não quer dizer que devemos ser passivos.

Significa que cremos, e enquanto lutamos Ele está nos fortalecendo. De fato, nem sequer teríamos nos dado o trabalho de nos esforçar, se Ele não nos tivesse induzido a isso. Ele opera em nós, e nós trabalhamos, e quando compreendemos isso, a tarefa não é impossível. Paulo, na passagem paralela no quarto capítulo de Gálatas diz: "Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho" — o Espírito do Seu próprio Filho. Acaso compreendemos que, como cristãos, temos em nós o mesmo Espírito Santo que estava no Filho de Deus quando Ele esteve aqui na terra? O Pai dá o Espírito, e é o mesmo Espírito que estava no Filho que é dado a nós. O Espírito que O capacitou é o mesmo que nos capacita. Esse é seu argumento.

Passando para o segundo princípio, a presença do Espírito Santo em nós nos lembra do nosso relacionamento com Deus. Esta é uma coisa maravilhosa. "Não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai". A presença do Espírito Santo dentro de nós nos lembra da nossa filiação, sim, nossa filiação adulta. Não somos infantes, o próprio termo significa que somos filhos crescidos e alcançamos a idade adulta. Somos filhos no sentido mais amplo e em possessão de todas as nossas faculdades. Uma compreensão clara disso nos livra do espírito de escravidão que leva ao temor. Não dissipa o "temor reverente e piedoso", mas dissipa o temor trazido pelo espírito de escravidão.

Nossa vida cristã deixa de ser uma questão de regulamentos e regras, e passa a ser marcada pelo desejo de expressar nossa gratidão por tudo que Ele fez por nós. Isso, todavia, não esgota o assunto. "O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo". Observem o argumento, a lógica irrefutável. Se somos filhos de Deus, então estamos relacionados com o Senhor Jesus Cristo. Ele é "o primogênito entre muitos irmãos", e somos parte da família de Deus como filhos e herdeiros.

Vocês já observaram a coisa assombrosa que João diz no capítulo 17, versículo 23? Notem as palavras do Senhor, quando Ele ora ao Pai: "Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim". Nosso Senhor diz ali que Deus o Pai nos ama como amou a Ele, o unigênito Filho de Deus. Então começamos a entender isso, que agora somos filhos de Deus. Temos esta nova dignidade, esta nova posição elevada e gloriosa em que nos encontramos.

Voltem novamente àquela oração sacerdotal e observem como o Senhor diz que devemos glorificá-lO neste mundo exatamente como Ele glorificou Seu Pai. Vocês já tinham percebido isso? Isso é a vida cristã, essa é a razão de viver a vida cristã; é compreender que pertenço a Deus e que devo glorificá-lo. É assim que devo encará-la. Que posição maravilhosa! E o Espírito está em mim, e me capacita a fazê-lo. Ele transforma minha perspectiva, e eu perco o espírito de escravidão que leva ao temor. É assim que eu o entendo; entendo que o Espírito Santo habita em mim.


Retirado do livro "Depressão Espiritual"

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SÉRIE: O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO - PARTE 2


Por D. M. Lloyd Jones

Este "espírito de escravidão" sempre vem acompanhado de um espírito de temor. "Deus não nos deu o espírito de escravidão", escreveu Paulo aos gálatas, mas aqui ele o expressa assim: "Não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor". Bem, em que sentido isso produz um espírito de temor? Em primeiro lugar, tende a produzir um temor errado de Deus. Há um temor de Deus que é certo, e se o negligenciamos ou ignoramos, é para nosso próprio risco; mas há também um temor de Deus que é errado, é um temor covarde, um temor que traz consigo tormento. Creio que as pessoas que estamos considerando tendem a desenvolver esse tipo errado de temor. Olham para Deus como se fosse um capataz, consideram-nO alguém que está constantemente vigiando o que fazem para descobrir falhas e erros nelas e puni-las de acordo. Outras pensam em Deus apenas como um severo e distante legislador.

Entretanto, não é somente um temor de Deus, é também um temor da grandeza da tarefa. Tendo esboçado a tarefa para si mesmas, agora começam a temê-la. Por essa razão pensam que só podem viver a vida cristã se se segregarem do mundo, e que ninguém pode estar envolvido numa carreira ou profissão, e ainda viver a vida cristã. Torna-se então um temor e terror; elas passam a ter medo da tarefa. Essa é sua atitude para com a vida cristã. Não têm alegria porque a natureza gigantesca da tarefa enche-as de um espírito de temor, e estão constantemente perturbadas consigo mesmas, perguntando-se se realmente podem viver essa vida como ela deve ser vivida. Então, uma outra forma em que este espírito de temor se manifesta, é que essas pessoas têm a tendência de temer o poder do diabo de uma forma incorreta. É preciso qualificar cada uma destas declarações. Existe um temor do diabo que é certo. Encontramos isto mencionado na Epístola de Judas, e também na Segunda Epístola de Pedro. Há pessoas volúveis, espiritualmente ignorantes, que fazem piadas sobre o diabo simplesmente porque são completamente ignorantes a respeito dele e do seu poder. Mas, por outro lado, não devemos nos sujeitar a um temor covarde do diabo. As pessoas que estamos considerando sentem esse temor porque estão conscientes do seu poder. São pessoas espirituais — esta é uma tentação peculiar a algumas das melhores pessoas — e vêem este assombroso poder, o poder do diabo contra elas, e sentem medo.

Ficam igualmente apavoradas com o pecado que está dentro delas. Estão o tempo todo acusando a si mesmas, e falando sobre o pecado e a perversão do seu próprio coração. Aqui, novamente, precisamos manter o equilíbrio. O cristão que não está consciente de sua própria pecaminosidade e da perversão do seu próprio coração não passa de uma criança na fé cristã; na verdade, se ele não tem qualquer consciência disso, eu questiono se realmente é um cristão. Claramente, de acordo com as Escrituras, pessoas que não têm consciência de sua pecaminosidade, ou são principiantes ou nunca foram regeneradas. Mas isso é diferente de se ter um espírito de temor, e viver nesta condição em que a vida não passa de um "desprezo aos prazeres, e viver dias laboriosos".

Essa é a mensagem, e de acordo com o apóstolo ela opera de duas formas. A primeira é que, ao confrontar esta imensa e gloriosa tarefa de negar-me a mim mesmo, tomar a cruz e seguir o Senhor Jesus Cristo, eu entendo que devo andar neste mundo como Ele andou. Ao compreender que nasci de novo e fui transformado por Deus segundo a imagem do Seu amado Filho, e ao começar a perguntar: "Quem sou eu para poder viver assim? Como posso ter esperança de alcançar isso?" — aqui está a resposta, a doutrina do Espírito Santo, a verdade que o Espírito Santo habita em nós. O que isso ensina? Antes de tudo, faz-me lembrar do poder do Espírito Santo que está em mim.

O apóstolo já disse isso no versículo 13, onde ele trata da questão de como parar de viver na carne — "Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis". Aqui ele volta ao mesmo ensinamento: "Porque Deus não nos deu o espírito de temor". "Vocês precisam entender que não estão vivendo por suas próprias forças", ele diz a esses romanos. "Vocês estão pensando nesta tarefa como se tivessem que viver a vida cristã por si mesmos. Vocês sabem que foram perdoados, e podem dar graças a Deus que seus pecados foram apagados e lavados, mas parecem pensar que isso é tudo, e que foram deixados para viver a vida cristã por si mesmos. Se pensam assim", diz Paulo, "não é de espantar que estão vivendo sob um espírito de temor e escravidão, porque desse ponto de vista a coisa é totalmente sem esperança. Significa simplesmente que vocês têm uma nova lei, que é infinitamente mais difícil do que a velha lei. Mas esse não é o caso, porque o Espírito Santo habita em vocês". [...] A diferença essencial entre o homem natural e o cristão, é que o último tem o Espírito de Cristo habitado nele. Qualquer que seja a experiência que um homem teve, se ele não tem o Espírito de Cristo, ele não é um cristão: "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele".


Continua...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

SÉRIE: O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO - PARTE 1


Por D. M. Lloyd Jones


"Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados". Romanos 8:15-17

Palavras mais expressivas do que estas jamais foram escritas. Elas se sobressaem mesmo num grande capítulo como este, como uma expressão de verdade que é absolutamente única. É uma das declarações mais magníficas encontradas em todas as Escrituras, contudo não há nada mais importante sobre uma declaração como esta, do que compreender exatamente por que o apóstolo a fez. O perigo a respeito de certas frases impressionantes é que temos a tendência de nos contentar com as palavras, ou com uma impressão geral que elas exercem sobre nós; gostamos tanto delas que às vezes não compreendemos seu significado, e portanto não nos apropriamos verdadeiramente do ensino que elas visam nos transmitir.

Considerem esta grande afirmação. Por que Paulo a fez, qual era seu objetivo, qual foi sua razão para pronunciar estas palavras? A resposta nos é dada no versículo quinze: "Porque", diz o apóstolo, "não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor". Em outras palavras, a declaração está ligada a algo que foi dito antes, e o apóstolo tem um objetivo muito definido ao escrever estas palavras: ele está ansioso por livrar estes cristãos romanos de um espírito de desencorajamento — de um espírito de abatimento ou depressão. talvez eles estivessem realmente sofrendo disso no momento, mas mesmo que não estivessem, ele quer se certificar de que não venham a sofrer disso, e seu alvo é prover um antídoto contra a depressão, contra esse espírito de escravidão, esse espírito de derrota, esse espírito de desencorajamento que, como já vimos, está sempre nos ameaçando em nossa vida cristã.

O apóstolo não faz uma declaração tão magnífica sem um contexto, não é apenas uma verdade maravilhosa emitida subitamente. Ela aparece — como tais declarações quase invariavelmente surgem nos escritos do grande apóstolo — num momento em que ele está tratando de um problema bem prático. Estas epístolas que temos no Novo Testamento estão repletas de doutrina e teologia, e no entanto seria errado dizer que a coleção de epístolas do Novo Testamento é um compêndio de teologia. Não é. O fato estupendo é este, e é importante mantê-lo em mente, essas declarações e doutrinas sempre são apresentadas com algum objetivo prático em vista, e com o elemento pastoral sempre em proeminência. Estas epístolas são cartas pastorais escritas principalmente porque o apóstolo se preocupava em ajudar as pessoas a alcançar real alegria e vitória na fé cristã, a qual haviam aceito e crido.

Portanto, é imprescindível observar exatamente como ele veio a fazer esta declaração. Qual era a causa de desânimo nesta situação? Nada menos que o problema de viver a vida cristã, o problema, se preferir, de tratar com o pecado. Paulo começou a tratar desse problema no início do sexto capítulo desta grande epístola, e ainda está tratando dele aqui. As pessoas a quem ele está escrevendo tinham sido convertidas e creram no Senhor Jesus Cristo, mas agora estão enfrentando o problema de viver esta nova vida que receberam, num mundo que as antagoniza e que se opõe inteiramente a elas. Também têm de vivê-la em face de certas coisas que encontram em sua própria natureza. É uma luta, é uma batalha; há pecado do lado de fora, e há pecado por dentro, e aqui temos pessoas que querem seguir o Senhor Jesus Cristo e viver da forma como Ele viveu neste mundo. E muitas vezes é quando enfrentamos essa questão e esse problema que o desânimo e a depressão tendem a surgir. Já consideramos muitos exemplos dos vários meios que o diabo, em sua sutileza, usa para nos desencorajar. Este, novamente, é um meio muito comum, especialmente quando a pessoa é conscienciosa, e leva muito a sério a fé cristã, o tipo de pessoa que não diz: "Agora sou convertido, e tudo está bem", mas aquela que diz: 'Esta é uma vida extraordinária e gloriosa, e devo vivê-la". Estamos considerando aqui a tentação peculiar que assedia tais pessoas.

Qual é a essência deste problema? É que elas falham em compreender certas verdades em relação à vida cristã, falham em compreender o que é possível para nós, como cristãos. Em última análise, é uma falha em entender doutrina ou, se preferirem, é em última análise mais um fracasso no domínio da fé. Vimos uma série de coisas com respeito à : vimos, por exemplo, que ela deve ser ativa. Muitas pessoas se esquecem disso, e acabam tendo problemas, porque não compreendem que devem colocar sua fé em ação. Então vimos que outros têm problemas porque não percebem que devem continuar e persistir na aplicação da fé, que não basta começar bem, porém que precisamos prosseguir, e não podemos relaxar nem por um momento.

Mas aqui o problema parece ser um fracasso em compreender que a fé deve ser apropriada, que devemos tomar posse dela. Aqui está a verdade colocada diante de nós, mas se não tomarmos posse dela, ela não nos será útil. A falha em compreender isso é uma das coisas mais incríveis sobre o homem, como resultado do pecado. Todos já devemos ter percebido isso. Acaso já se acharam lendo uma passagem das Escrituras que haviam lido muitas vezes antes, e pensavam conhecer bem, e de repente ela se torna viva e fala com vocês de uma forma que nunca fez antes? Todos por certo tivemos esse tipo de experiência muitas vezes. Como é fácil ler as Escrituras e dar uma espécie de assentimento formal à verdade, sem nunca nos apropriarmos do que ela está dizendo!

Creio que essa é a essência deste problema específico que estamos considerando aqui, pois sempre tende a produzir o que o apóstolo chama de "espírito de escravidão" — "não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor". O que ele quer dizer com "espírito de escravidão"? Ele está falando do perigo de ter um "espírito de servo", um espírito e uma atitude de escravo. A atitude de escravo em geral surge de uma tendência de tornar a vida cristã, ou o viver a vida cristã, numa nova lei, numa lei mais alta, superior.

Estou pensando em pessoas que estão bem esclarecidas em seu relacionamento com a lei — os Dez Mandamentos, ou a lei moral — como um caminho de salvação. Viram claramente que Cristo as libertou disso, e que somente Ele poderia fazer isso; sabem que seus próprios esforços jamais as capacitaram a cumprir a lei. Entendem que Cristo nos libertou da maldição da lei; não têm qualquer dúvida quanto à sua justificação. Entretanto, agora começam a olhar positivamente para a vida cristã, e de uma forma muito sutil — sem ter qualquer consciência disso — tornam-na num novo tipo de lei, e como resultado caem num espírito de escravidão e de cativeiro.

Pensam na vida cristã como uma grande tarefa a que têm que se empenhar, e à qual devem se dedicar. Leram o Sermão do Monte e compreendem que é um retrato da vida cristã, a vida que desejam viver. Voltam-se para outros ensinamentos do Senhor registrados nos Evangelhos, e vêem a mesma coisa. Então examinam as Epístolas, e lêem aquelas instruções minuciosas dadas pelos apóstolos, e dizem: "Essa é a vida cristã". E tendo chegado a essa conclusão, consideram-na algo que deve ser assumido e colocado em prática em suas vidas diárias. Em outras palavras, santidade se torna uma pesada tarefa para elas, e começam a planejar e organizar suas vidas e a incluir certas disciplinas que as capacitem a prosseguir. Esta atitude pode ser vista, de forma clássica, na igreja católica romana e em seus ensinos, em toda a idéia do monasticismo, que é nada mais do que uma grande expressão disto que estamos considerando. Vemos ali homens e mulheres que, sendo confrontados pela verdade cristã, dizem: "Obviamente, a vida cristã é uma vida nobre e sublime, e se alguém vai vivê-la com sucesso, deve se dedicar integralmente a isso". Indo ainda mais longe, dizem: "Não se pode fazer isso, e ainda continuar exercendo uma profissão, ou mesmo continuar vivendo no mundo. É preciso segregar-se do mundo, abandoná-lo completamente". E fazem isso. Essa é a forma extrema dessa idéia de santidade, de que cultivar santidade e a vida espiritual é uma ocupação de tempo integral, e que é necessário devotar-se a ela exclusivamente, e ter regulamentos e outras coisas para ser capaz de vivê-la.


Continua...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

SÉRIE FOME POR DEUS - PARTE 3 - O JEJUM


Por Hernandes Dias Lopes

As escrituras enfatizam também o jejum como um importante exercício espiritual. Se desejarmos pregar com poder, o jejum não pode ser esquecido em nossa vida devocional. O jejum está presente tanto no Antigo como no Novo Testamento. Os profetas, os apóstolos, Jesus e muitos homens de Deus como Agostinho, Lutero, Calvino, John Knox, Wesley, Charles Finney, Moody e outros mais através da história, experimentaram bênçãos espirituais através do jejum. Erroll Hulse citando Martyn Lloyd Jones diz que “os santos de deus em todos os tempos e em todos os lugares não somente creram no jejum, mas também o praticaram”.

Há um apetite por Deus em nossas almas. Deus colocou a eternidade em nossos corações e somente Ele pode satisfazer essa nossa necessidade. Se você não sente fortes desejos pela manifestação da glória de Deus, não é porque você tem bebido profundamente dos mananciais da Deus e está satisfeito. Pelo contrário, é porque você tem buscado saciar a sua alma nos banquetes do mundo.

John Piper define jejum como fome de Deus. De acordo com Piper, o maior inimigo da fome de Deus não é o veneno mortífero, mas uma torta de maçã. O maior adversário do amor de Deus não são seus inimigos, mas seus dons. E os mais mortíferos apetites não são pelos venenos do mal, mas pelos simples prazeres da terra (Lc 8.14; Mc 4.19). “Os prazeres desta vida” e os “desejos por outras coisas” não são mal em si mesmos. Não são vícios. São dons de Deus. Mas todos eles podem tornar-se substitutos mortíferos do próprio deus em nossas vidas. O jejum revela o grau de domínio que o alimento tem sobre nós. O jejum cristão é um teste para conhecermos qual é o desejo que nos controla. Richard Foster afirma:

Mais do que qualquer outra disciplina, o jejum revela as coisas que nos controlam. O jejum é um maravilhoso benefício para o verdadeiro discípulo que deseja ser transformado na imagem de Jesus Cristo. Muitas vezes encobrimos o que está dentro de nós com comida e outras coisas.

Martyn Lloyd Jones, na mesma linha de pensamento, ensina que o jejum não pode ser entendido apenas como uma abstinência de alimento e bebida. Segundo ele, o jejum também deve incluir abstinência de qualquer coisa que é legítima em si mesma por amor de algum propósito espiritual.

O propósito de jejum NÃO é obter o favor de Deus ou mudar a sua vontade (Is 58.1-12). Também não é para impressionar os outros com uma espiritualidade farisaica (Mc 6.16-18). Nem é para proclamar a nossa própria espiritualidade diante dos homens. Jejum significa amor a Deus. Jejuar para ser admirado pelos homens é uma errada motivação para fazê-lo. Jejum é fome pelo próprio Deus e não fome por aplausos humanos (Lc 18.12). É para nos humilharmos diante da Deus (Dn 10.1-12), para suplicarmos a Sua ajuda (2 Cr 20.3; Es 4.16) e para retornarmo-nos para Deus com todo o nosso coração (Jl 2.12-12). É para reconhecermos a nossa total dependência da proteção divina (Es 8.21-23). O jejum é um instrumento para fortalecer-nos com poder divino, em face dos ataques do inferno (Mc 9.28-29).

Deus tem realizado grandes intervenções na história através da oração e do jejum de seu povo. Quando deu a lei para o seu povo, Moisés dedicou quarenta dias a oração e ao jejum no monte Sinai. Deus libertou Josafá das mãos dos seus inimigos quando ele e seu povo humilharam-se diante do Senhor em oração e jejum (2 Cr 20.3- 4, 14-15, 20-21). Deus libertou o seu povo da morte através da oração e jejum da rainha Ester e do povo judeu (Es 4.16). Deus usou Neemias para restaurar Jerusalém quando este orou e jejuou (Ne 1.4). Deus usou Paulo e Barnabé para plantar igrejas no Império Romano quando eles devotavam-se à oração e ao jejum (At 13.1-4).

John Piper comenta que a oração e jejum resultaram num movimento de missões que arrancou o cristianismo da obscuridade para ser a religião dominante do Império Romano em dois séculos e meio, e hoje calcula-se que temos cerca de um bilhão e trezentos milhões de seguidores da religião cristã, com cristãos testemunhando em todos os países do mundo. Infelizmente, o jejum é um grande tesouro espiritual negligenciado pelos cristãos contemporâneos.

Os homens têm amado os dons de Deus mais do que o próprio Deus. Eles tem mais fome dos dons de Deus do que de Deus. Jejum não é fome das bênçãos de Deus, mas é fome do próprio Deus. John Piper diz que o jejum cristão, nasce exatamente da saudade de Deus. Ele escreve:

“Nós glorificamos a Deus quando o preferimos acima dos seus dons... Nós nos enganamos ao dizermos que amamos a Deus, mas se somos testados revelamos o nosso amor apenas por palavras e não por sacrifício... Eu realmente tenho fome de Deus? Realmente tenho saudade de deus? Ou estou satisfeito apenas com os dons de Deus?”

Devemos comer e jejuar para glória de deus (I Co 10.31). Quando nós comemos, saboreamos o emblema do nosso alimento celestial, o Pão da Vida. E quando jejuamos, dizemos, “eu amo a realidade acima do emblema”. O alimento é bom, mas Deus é melhor. “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Jesus disse, “tenho algo para comer que vocês não conhecem” (Jo 4.32). Em Samaria, Jesus satisfez sua vida não com o pão da terra, mas com o pão do céu. Deus mesmo foi o seu alimento. Isto é jejum: intimidade com Deus. A comunhão com Deus deve ser a nossa mais urgente a apetitosa refeição.

John Piper sintetiza esta gloriosa realidade assim:

“Quanto mais profundamente você anda com Cristo, mais faminto você se torna dEle... mais saudade você tem do céu... mais deseja a plenitude de deus em sua vida... mais anseia pela vinda do noivo... mais aspira que a igreja seja reavivada e revestida com a beleza de Jesus. Mais você anseia por um profundo despertamento da realidade de Deus em nossas cidades... mais deseja ver a luz do evangelho da glória de cristo penetrar nas trevas dos povos ainda não alcançados... mais deseja ver as falsas filosofias do mundo sendo vencidas pela verdade... mais deseja ver a dor sendo vencida, as lágrimas enxugadas e a morte destruída... mais anseia ver as coisas erradas sendo feitas corretamente e a justiça e a graça de Deus enchendo a terra como as águas cobrem o mar”.

Nós vivemos em uma geração cujo deus é o estômago (Fl 3.19). Muitas pessoas deleitam-se apenas nas bênçãos de Deus e não no Deus das bênçãos. O homem tem se tornado o centro de todas as coisas. Todas as coisas são feitas e preparadas para o prazer do homem. Mas o homem não é o centro do universo, Deus é. Todas as coisas devem ser feitas para a glória de Deus. Deus deve ser a nossa maior satisfação. Quem jejua tem mais fome do pão do céu do que o pão da terra. Quem jejua tem mais saudade do Pai do que de suas bênçãos. Quem jejua confia mais no poder que vem do céu do que nos recursos da terra. Quem jejua confia mais nos recursos de deus do que na sabedoria humana. Verdadeiramente, se desejamos ver poder no púlpito, se desejamos ver pregações ungidas e cheias de vigor, se ansiamos ver o despertamento da igreja e o seu crescimento numérico, precisamos, então, de pregadores que sejam homens santos e piedosos, homens de oração e jejum.


Retirado do livro "Piedade e Paixão".

terça-feira, 4 de outubro de 2011

SÉRIE FOME POR DEUS - A ORAÇÃO - PARTE 2


Por Hernandes Dias Lopes

Todos os pregadores usados por Deus foram homens de oração: Moisés, Samuel, Elias, os apóstolos e, acima de tudo, Jesus, nosso supremo exemplo. O evangelista Lucas escreveu seu evangelho para os gentios mostrando Jesus como o homem perfeito. Lucas, mais que qualquer outro evangelista, registrou a intensa vida de oração de Jesus. No rio Jordão Jesus orou e o céu se abriu. O Pai confirmou o seu ministério e o Espírito Santo desceu sobre Ele (Lc 3.21-22). Cheio do Espírito Santo, Jesus retornou do Jordão e foi conduzido ao deserto, onde por quarenta dias jejuou e orou, triunfando sobre as tentações do diabo (Lc 4.1-13).

Para Jesus a oração era mais importante do que o sucesso no ministério. Quando a multidão veio ouvi-lo pregar, foi para um lugar tranqüilo e solitário para orar (Lc 5.15-17). “Diferentemente de alguns pregadores de hoje, Jesus maravilhosamente entendeu que a oração deveria ocupar um lugar prioritário em seu ministério e em sua agenda”. Jesus escolheu os seus discípulos depois de uma noite inteira de oração (Lc 6.12-16). Foi preparado para enfrentar a cruz através da oração (Lc 9.28-31). Jesus orou no jardim do Getsêmani, derramando seu próprio sangue para realizar a vontade de Deus (Lc 22.39-46). Orou também sobre a cruz, abrindo a porta do céu para o penitente e arrependido malfeitor crucificado ao seu lado direito (Lc 23.34-43). Jesus está orando em favor do seu povo junto ao trono de Deus e irá interceder por ele até a sua segunda vinda (Rm 8.34; Hb 7.25). A vida de Jesus é o supremo exemplo que temos sobre oração.

O mesmo Espírito de oração que estava sobre Jesus foi derramado sobre os discípulos na festa do Pentecoste. Então, eles passaram a orar continuamente. James Rosscup comenta:

“A oração foi um dos quatro princípios básicos dos cristãos (At 2.42)... Os crentes oraram de forma regular e sistemática (At 3.1; 10.9) bem como nos momentos de urgência. Pedro e João foram modelos de oração. Eles foram o canal que Deus usou para a cura do homem paralítico (At 3.7-10). Mais tarde, oraram com outros irmãos para que Deus lhes desse poder para testemunhar com ousadia (At 4.29-31); uma oração que Deus respondeu capacitando-os a enfrentar com galhardia seus inimigos. Eles foram revestidos de poder, tornaram-se profundamente unidos e se dispuseram a dar suas próprias vidas pelo evangelho. Mais tarde, os apóstolos revelaram a grande prioridade de suas vidas, quando decidiram: ‘quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra’”.

Os maiores e mais conhecidos pregadores da história foram homens de oração. João Crisóstomo, Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, João Knox, Richard baxter, Jonathan Edwards e muitos outros. Charles Simeon, uma reavivalista inglês, devotava quatro horas por dia a Deus em oração. John Wesley gastava duas horas por dia em oração. John Fletcher, um clérigo e escritor inglês, marcava as paredes do seu quarto com o hálito das suas orações. Algumas vezes, ele passava a noite toda em oração. Lutero dizia: “se eu fracassar em investir duas horas em oração cada manhã, o diabo terá vitória durante o dia”. David Brainerd dizia: “Eu amo estar só em minha cabana, onde posso gastar muito tempo em oração”.

John Wesley fala-nos em seu jornal sobre o poder da oração comentando sobre o dia solene de oração e jejum a que o rei da Inglaterra convocou a nação em razão da ameaça de invasão da França:

“O dia de jejum foi um dia glorioso, tal como Londres raramente tinha visto desde a restauração. Todas as igrejas da cidade estavam superlotadas. Havia um senso de profunda reverência em cada rosto. Certamente Deus ouviu as orações e deu-nos vitória e segurança contra os inimigos”.

Uma nota de rodapé foi acrescentada mais tarde, “o quebrantamento e humildade do povo diante de Deus tranformou-se em um regozijo nacional, visto que a ameaça da invasão pela França foi afastada”.

Charles Finney dedicou-se a vigílias especiais de oração e jejum. Pregando depois de muita oração, viu Deus trazendo grandes bênçãos para o seu ministério. Ele estava profundamente convencido sobre a importância da oração.

“Sem oração você será tão fraco quanto a própria fraqueza. Se perder o seu espírito de oração, você não poderá fazer nada ou quase nada, embora tenha o dom intelectual de um anjo”.

Charles Spurgeon diz que ninguém está mais preparado para pregar aos homens do que aqueles que lutam com Deus em favor dos homens. Se não prevalecermos com os homens em nome de Deus, devemos prevalecer com Deus em favor dos homens.

Spurgeon via as reuniões de oração das segundas-feiras no Tabernáculo Metropolitano de Londres como o termômetro da igreja. Por vários anos uma grande parte do principal auditório e primeira galeria estavam completamente cheios nas reuniões de oração. Na concepção de Spurgeon, a reunião de oração era “a mais importante reunião da semana”. Ele atribuiu o sinal da benção de Deus sobre o seu ministério em Londres á fidelidade do seu povo orando por ele.

Dwight L. Moody, fundador do Instituto Bíblico Moody, normalmente via Deus agindo com grande poder quando outras pessoas oravam pelas suas reuniões na América e além mar. A. R. Torrey pregou em muitos países e viu grandes manifestações do poder de Deus. Ele disse: “ore por grandes coisas, espere grandes coisas, trabalhe por grandes coisas, mas acima de tudo ore”. A oração é a chave que abre todos os tesouros da infinita graça e poder de Deus.

Robert Murray McCheyne, grande pregador escocês, exortava sempre o seu povo a voltar-se para a Bíblia e para a oração. Como resultado, mais de trinta reuniões de oração aconteciam semanalmente na igreja de Dundee, Escócia, cinco das quais eram reuniões de oração das crianças.

No ano de 1997, juntamente com oitenta pastores brasileiros, visitei a Coréia do Sul, para fazer uma pesquisa sobre o crescimento da igreja. Visitamos onze grandes igrejas em Seul – igrejas locais entre dez mil e setecentos mil membros. Em todas essas igrejas testificamos que a principal causa do crescimento foi a intensa vida de oração. Nenhuma igreja evangélica pode ser organizada lá sem que antes tenha uma reunião diária de oração de madrugada. O seminarista que faltar a duas reuniões de oração de madrugada durante o ano, não sendo por motivo justificado, não serve para ser pastor. Quando perguntei a um pastor presbiteriano por que eles oravam de madrugada, ele me respondeu que em todos os lugares do mundo as pessoas levantavam-se de madrugada para ganhar dinheiro e cuidar dos seus interesses. Eles levantam-se de madrugada para orar porque Deus é prioridade na vida deles. Visitamos a Igreja Presbiteriana Myong Song, a maior igreja presbiteriana de Seul com mais de cinqüenta e cinco mil membros. Aquela igreja tem quatro reuniões diárias de oração pela manhã. Em todas elas o templo fica repleto de pessoas sedentas de Deus. A sensação que tivemos numa dessas reuniões foi de que o céu havia descido à terra.

John Piper comenta sobre a igreja coreana:

“Nos últimos anos do século vinte, jejum e oração têm quase se tornado sinônimo das igrejas da Coréia do Sul. E há uma boa razão para isto. A primeira igreja protestante foi plantada na Coréia em 1884. Cem anos depois havia trinta mil igrejas na Coréia. Uma média de trezentas novas igrejas foram plantadas a cada ano nestes cem anos. No final do século vinte, os evangélicos já representam cerca de trinta por cento da população. Deus tem usado muitos meios para realizar essa grande obra. Entrementes, os meios mais usados por Deus têm sido a oração e o jejum”. Thom Rainer fez uma pesquisa entre quinhentas e setenta e seis igrejas batistas dos Estados Unidos e concluiu que a oração é apontada como o fator mais importante depois da pregação para o crescimento da igreja. “Próximo de setenta por cento das igrejas colocaram a oração como um dos principais fatores para o seu êxito evangelístico. Exceto as igrejas entre 700 e 999 membros, pelo menos sessenta por cento das igrejas de todos os tamanhos identificaram a oração como o principal fator de crescimento da igreja”.

Continua...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

SÉRIE: FOME POR DEUS - A ORAÇÃO - PARTE 1


Por Hernandes Dias Lopes

Oração

A oração precisa ser prioridade tanto na vida do pregador como na agenda da igreja. A profundidade de um ministério é medida não pelo sucesso diante dos homens, mas pela intimidade com Deus. A grandeza de uma igreja é medida não pela beleza de seu edifício ou pela pujança de seu orçamento, mas pelo seu poder espiritual através da oração. No século dezenove Charles Haddon Spurgeon disse que em muitas igrejas a reunião de oração era apenas o esqueleto de uma reunião, onde as pessoas não mais compareciam. Ele concluiu que “se uma igreja não ora, ela está morta”.

Infelizmente, muitos pregadores e igrejas têm abandonado o alto privilégio de uma vida abundante de oração. Hoje nós gastamos mais tempo com reuniões de planejamento do que com oração. Dependemos mais dos recursos dos homens que dos de Deus. Confiamos mais no preparo humano, que na capacitação divina. Consequentemente, temos visto muitos pregadores eruditos no púlpito, mas temos ouvido uma imensidão de mensagens fracas. Muitos pregadores têm pregado sermões eruditos, porém sem o poder do Espírito Santo. Eles têm luz em suas mentes, contudo não têm fogo no coração. Tem erudição, mas não têm poder. Têm fome de livros, mas não têm Deus. Eles amam o conhecimento, mas não buscam intimidade com Deus. Pregam para a mente, e não para o coração. Eles têm uma boa performance diante dos homens, mas não diante de Deus. Gastam muito tempo preparando seus sermões, mas não preparando seus corações. Sua confiança está firmada na sabedoria humana e não no poder de Deus.

Homens secos pregam sermões secos e sermões secos não produzem vida. Como escreve E. M. Bounds, “homens mortos pregam sermões mortos, e sermões mortos matam”. Sem oração não existe pregação poderosa. Charles Spurgeon diz que “todas as nossas bibliotecas e estudos são um mero vazio comparado com a nossa sala de oração. Crescemos, lutamos e prevalecemos na oração ‘em secreto’.” Arturo Azurdia cita Edward payson, afirmando que “é no lugar secreto de oração que a batalha é perdida ou ganha”. A oração tem uma importância transcendente, porque ela é o mais poderoso instrumento para promover a Palavra de Deus. É mais importante ensinar um estudante a orar do que a pregar.

Se desejamos ver a manifestação do poder de Deus, se desejamos ver vidas sendo transformadas, se desejamos ver um saudável crescimento da igreja, então devemos orar regularmente, privativa, sincera e poderosamente. O profeta Isaías diz que a nossa oração deve ser perseverante, expectante, confiante, ininterrupta, importuna e vitoriosa (Is 62.6-7). O inferno treme quando uma igreja se dobra diante do Senhor Todo-Poderoso para orar. A oração move a mão onipotente de Deus. Quando a igreja ora, os céus se movem, o inferno treme e coisas novas acontecem na terra; “quando nós trabalhamos, nós trabalhamos; mas quando nós oramos, Deus trabalha”. A oração não é o oposto de trabalho; ela não paralisa a atividade. Em vez disto, oração é em si mesma o maior trabalho; ela trabalha poderosamente, deságua em atividade, estimula o desejo e o esforço.

Oração não é um ópio, mas um tônico; não é um calmante para o sono, mas o despertamento para uma nova ação. Um homem preguiçoso não ora e não pode orar, porque a oração demanda energia. O apóstolo Paulo considera oração como uma luta e uma luta agônica (Rm 15.30). Para Jacó a oração foi uma luta com o Senhor. A mulher sirofenícia com o Senhor através da oração até que saiu vitoriosa. Antes de falar aos homens, o pregador precisa viver diante de Deus. A oração é o oxigênio do ministério. “A vida de oração do ministro e da igreja são o fundamento da pregação eficaz”.

A oração traz poder e refrigério à pregação, tem mais poder para tocar os corações do que milagres de palavras eloqüentes. Como pregadores, devemos ser uma voz a falar em nome de Deus, como João Batista (Mt 3.3), que pregou não no templo, não numa catedral ilustre, não nos salões adornados dos reis, mas no deserto e grandes multidões iam ouvi-lo, sendo confrontadas pela sua poderosa mensagem (Mt 3.5-10; Lc 3.7-14). Não basta ser um eco, é preciso ser uma voz. Não basta pregar, precisamos ser boca de Deus. O profeta Elias viveu na presença de Deus (I Rs 17.1; 18.15); orou intensa, persistente e vitoriosamente (Tg 7.17-18). Por conseqüência, experimentou a intervenção de Deus em sua vida e em seu ministério. A viúva de Sarepta testificou a seu respeito, “Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade” (I Rs 17.24). Muitos ministros pregam a Palavra de Deus, mas não são boca de Deus. Falam sobre o poder, mas não têm poder em suas vidas. Pregam sobre vida abundante, mas não tem vida abundante. Suas vidas contradizem a sua mensagem.

David Eby comentando sobre a importância da oração na vida do pastor, diz que a “oração é a estrada de Deus para ensinar o pastor a depender do poder de Deus, é a avenida de Deus para os pastores receberem graça, ousadia, sabedoria e amor para ministrarem a Palavra”.

Muitos pregadores crêem na eficácia da oração, mas poucos pregadores oram. Muitos ministros pregam sobre a necessidade da oração, mas poucos ministros oram. Eles lêem muitos livros sobre oração, mas não oram. Têm bons postulados teológicos sobre oração, mas não têm fome por Deus. Em muitas igrejas as reuniões de oração estão agonizando. As pessoas estão muito ocupadas para orar. Elas têm tempo para viajar, trabalhar, ler, descansar, ver televisão, falar sobre política, esportes e teologia, mas não gastam tempo orando. Consequentemente nós temos, às vezes, gigantes do conhecimento no púlpito, que são pigmeus no lugar secreto de oração. Tais pregadores conhecem muito a respeito de Deus, mas muito pouco a Deus.

Pregação sem oração não provoca impacto. Sermão sem oração é sermão morto. Não estaremos preparados para pregar enquanto não orarmos. Lutero tinha um moto: “Aquele que orou bem, estudou bem”. David Larsen cita Karl Barth: “Se não há grande agonia em nossos corações, não haverá grandes palavras em nossos lábios”. O que precisamos fazer? Nossa primeira e maior prioridade no ministério é voltarmo-nos para Deus em fervente oração. A obra de Deus não é a nossa prioridade, mas sim o Deus da obra. Jerry Vines escreve:

“O pregador muitas vezes gasta grande parte do seu tempo lidando com as coisas de Deus; lê sua Bíblia para preparar sermões; estuda comentários; lidera as reuniões e os grupos de oração. Está constantemente falando a linguagem de Sião. Mas o acúmulo desta obra santa pode endurecer a consciência da necessidade de estar a sós com Deus em sua própria vida pessoal”.

Realizar a obra de Deus sem oração é presunção. Novos métodos, planos e organizações para levar a igreja ao crescimento saudável, sem oração, não são os métodos de Deus. “A igreja está buscando melhores métodos; Deus está buscando melhores homens”. E. M. Bounds corretamente comenta:

“O que a igreja precisa hoje não é de mais ou melhores mecanismos, nem de nova organização ou mais e novos métodos. A igreja precisa de homens a quem o Espírito possa usar, homens de oração, homens poderosos em oração. O Espírito Santo não flui através de métodos, mas através de homens. Ele não vem sobre mecanismos, mas sobre homens. Ele não unge planos, mas homens. Homens de oração!”

Quando a igreja cessa de orar, deixa de crescer. O diabo trabalha continuamente para impedir a igreja de orar. Ele tem muitas estratégias. O diabo usou três estratégias para neutralizar o crescimento da igreja apostólica em Jerusalém: perseguição (Atos 4), infiltração (Atos 5) e distração (Atos 6). Mas os apóstolos enfrentaram todos esses ataques com oração. Eles entenderam que a oração e a Palavra de Deus devem caminhar juntos. “A oração e o ministério da Palavra permanecerão de pé ou cairão juntos”. Os apóstolos decidiram, “quanto a nós, nos consagraremos á oração e ao ministério da Palavra” (At 6.4). Sobre este texto Charles Bridges afirmou: “Oração é a metade do nosso ministério; e ela dá á outra metade todo o seu poder e sucesso”. Oração e palavra são os maiores princípios do crescimento da igreja no livro de Atos. Oração e pregação são os instrumentos providenciados por Deus para conduzir sua própria igreja ao crescimento. David Eby interpreta muito bem quando diz que, “O manual de Deus sobre o crescimento da igreja vincula pregação e oração como aliados inseparáveis”. Entrementes, oração vem primeiro, porque pregação sem oração não tem vida nem pode produzir vida. A pregação poderosa requer oração. A pregação ungida e o crescimento da igreja requerem oração.

“Pastor, você deve orar. Orar muito. Orar intensamente e seriamente, zelosamente e entusiasticamente, com propósito e com determinação. Orar pelo ministério da Palavra entre o seu rebanho e em sua comunidade. Orar pela sua própria pregação. Mobilize e recrute seu povo para orar pela sua pregação. Pregação poderosa não acontecerá à parte da sua própria oração. Oração freqüente, objetiva, intensa e abundante é requerida. A pregação torna-se poderosa quando um povo fraco ora humildemente. Esta é a grande mensagem do livro de Atos. O tipo de pregação que produz o crescimento da igreja vem pela oração. Pastor, dedique-se à oração. Continue em oração. Persista em oração por amor da glória de Deus no crescimento da igreja” David Eby.


Continua... (Retirado do livro: "Piedade e Paixão")

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SÉRIE: AMOR SEM MEDIDAS - PARTE 2


Por Charles H. Spurgeon

Recordem que nosso Senhor Jesus Cristo morreu uma morte que seus concidadãos consideravam como uma morte maldita. Para os romanos, era a morte de um escravo condenado, que continha todos os elementos de dor, desonra e escárnio, mesclados ao limite máximo. “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Oh, que maravilhoso o alcance desse amor, que Jesus Cristo necessitasse morrer!

II. Em segundo lugar, observemos neste momento, e penso que posso dizer que o fazemos com igual admiração, o amor de Deus NO PLANO DE SALVAÇÃO. Ele o expressou assim: “para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna.” O caminho da salvação é extremamente simples de entender, e extremamente fácil de praticar, tão logo o coração seja levado a querer e a obedecer. O método do pacto da graça dista tanto do método do pacto de obras como a luz dista das trevas.

Não se diz que Deus deu Seu Filho a todos aqueles que guardam Sua lei, pois não podemos guardá-la e, portanto, o dom não estaria disponível para nenhum de nós. Nem tampouco se diz que Ele deu Seu Filho a todos aqueles que experimentam um desespero terrível e um remorso amargo, porque isso não é sentido por muitos que, no entanto formam o próprio povo do Senhor. Mas o grandioso Deus deu a Seu Filho para que “todo aquele que nele crê” não pereça. A fé, sem importar quão fraca seja, salva a alma. A confiança em Cristo é o caminho seguro da felicidade eterna.

Agora, que significa crer em Jesus? É simplesmente isto: que vocês se confiem a Ele. Se seus corações estão prontos, ainda que nunca antes tenham crido em Jesus, eu espero que vocês creiam nEle agora. Oh Espírito Santo, por Tua graça concede-nos isto. É, em primeiro lugar, que vocês concordem firmemente e de coração com esta verdade: que Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, para que se pusesse no lugar dos homens culpados, e que Deus derramou nEle todas as nossas iniquidades, para que Ele recebesse o castigo merecido por nossas transgressões, havendo sido feito maldição por nossa causa. Devemos crer de todo coração na Escritura que diz: “o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e por suas pisaduras fomos sarados.”

Peço-lhes que concordem com a grandiosa doutrina da substituição, que é a medula do Evangelho. Oh, que o Espírito Santo os leve a entender de todo coração essa doutrina de imediato; pois sendo tão maravilhosa, é um fato que Deus estava reconciliando o mundo Consigo mesmo em Cristo, não lhes imputando seus pecados. Oh, desejo que vocês possam sentir a alegria de que isto é verdade, e possam estar agradecidos que um fato tão bendito seja revelado pelo próprio Deus. Creiam que o sacrifício substitutivo do Filho de Deus é certo; não coloquem objeções ao plano, não questionem sua validade ou sua eficácia, como muitas pessoas fazem. Ai, eles pisoteiam o grandioso sacrifício de Deus, e o consideram um triste invento.

Quanto a mim, posto que Deus ordenou salvar o homem por meio de um sacrifício substitutivo, alegremente estou de acordo com Seu método, e não vejo nenhuma necessidade de fazer algo mais, a não ser admirar esse plano e adorar o Seu Autor. Eu me regozijo e me alegro que se tenha pensado em um plano assim, pelo qual a justiça de Deus é reivindicada, e Sua misericórdia fica em liberdade de fazer tudo o que Ele deseja. O pecado é castigado na pessoa de Cristo, e a misericórdia é outorgada ao culpado. Em Cristo a misericórdia é sustentada pela justiça, e a justiça é satisfeita por um ato de misericórdia.

O sábio segundo o mundo diz coisas duras acerca deste plano da sabedoria infinita; porém quanto a mim, amo o simples nome da cruz, e o considero como o centro da sabedoria, o ponto central do amor, o coração da justiça. Este é o ponto central da fé: concordar de coração com o fato de que Jesus foi entregue para que sofresse em nosso lugar, estar de acordo com toda nossa alma com esta forma de salvação.

O ponto seguinte é que tu aceites isto para ti mesmo. No pecado de Adão, tu não pecaste pessoalmente, porque ainda não existias; contudo tu caíste; e não podes te queixar disso agora, pois voluntariamente endossaste e adotaste o pecado de Adão, ao cometer transgressões pessoais. Puseste tuas mãos, por assim dizer, sobre o pecado de Adão, e te apropriaste dele, ao cometer pecados pessoais e reais. Assim, pereceste pelo pecado de outro, que tu adotaste e endossaste; e da mesma maneira deves ser salvo pela justiça de outro, justiça esta que deves aceitar e apropriar-te dela. Jesus ofereceu uma expiação, e a expiação se converte em tua quando a aceitas e põe tua confiança nEle. Quero que agora digas:

Minha fé agora põe sua mão

Em Tua amada cabeça,

Entretanto, como penitente me levanto,

E aqui confesso meu pecado.”

Certamente este não é um assunto muito difícil. Dizer que Cristo que foi pendurado na cruz será meu Cristo, minha garantia, não necessita nenhum esforço intelectual nem caráter sólido; contudo é o ato que traz a salvação da alma. Uma coisa mais é necessária: a confiança pessoal. Primeiro vem o estar de acordo com a verdade, e em seguida a aceitação dessa verdade aplicada a cada um; e logo um simples confiar-se inteiramente a Cristo, como um substituto. A essência da fé é a confiança, a dependência, a segurança. Joguem longe qualquer outra confiança de qualquer tipo, exceto a confiança Jesus. Não permitam nem a menor sombra de confiança em qualquer coisa que vocês possam fazer ou ser. Olhem unicamente para Ele, que Deus estabeleceu como a propiciação pelo pecado. Estou fazendo isto neste momento; vocês não farão o mesmo? Oh, que o doce Espírito de Deus os guie agora a confiar em Jesus!

Vejam então o amor de Deus ao colocar isto em termos tão simples e tão facéis. Oh, tu, pecador, que estás quebrantado, esmagado e sem esperança, tu não podes fazer nada, porem, por acaso não pode crer nisso que é verdade? Não pode suspirar; não pode gritar; não pode derreter seu coração de pedra; porem, não podes crer que Jesus morreu por ti, e que Ele pode mudar teu coração e converter-te em uma nova criatura? Se tu podes crer nisto, então confia que Jesus o fará, e serás salvo; pois quem crê nEle é justificado. “para que todo aquele que nele crê tenha vida eterna.” És um homem salvo. Seus pecados te são perdoados. Podes ir-te em paz, e não pecar mais.


Continua...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SÉRIE: AMOR SEM MEDIDAS - PARTE 1

Por Charles C. Spurgeon


“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna.” João 3:16.(ACF)

Hoje temos que falar acerca do amor de Deus: “Deus amou o mundo de tal maneira”. Esse amor de Deus é uma coisa muito maravilhosa, especialmente quando o vemos derramado sobre um mundo perdido, arruinado, culpado. O que havia no mundo para que Deus o amasse dessa maneira? Não havia nada amável nele. Nenhuma flor perfumada crescia neste árido deserto. Inimizade contra Ele, ódio pela Sua verdade, desprezo pela Sua lei, rebelião contra Seus mandamentos; esses eram os espinhos e sarças que cobriam a terra baldia; nenhuma coisa desejável florescia ali.

Entretanto, o texto nos diz que: “Deus amou o mundo.” O amou “de tal maneira” que nem mesmo o escritor do livro de João poderia quantificá-lo; mas o amou de uma maneira tão grande, tão divina, que deu o Seu Filho, Seu único Filho, para que redimisse o mundo de perecer, e para que juntasse do mundo um povo para Seu louvor.

De onde veio esse amor? Não de nada externo ao próprio Deus. O amor de Deus surge dEle mesmo. Ele ama porque fazê-lo é a Sua natureza. “Deus é amor”. Conforme mencionei, nada sobre a face da terra pode ter merecido o Seu amor. Ao contrário, havia muito que merecia Seu desagrado. Esta corrente de amor flui de Sua própria fonte secreta na Deidade eterna, e não deve nada a nenhuma chuva procedente da terra, nem a nenhum riacho; brota de debaixo do trono eterno, e se abastece das fontes do infinito. Deus amou porque Ele quis amar. Quando nos perguntamos por que Deus amou esse ou aquele homem, temos que regressar à resposta de nosso Salvador a essa pergunta: “Sim, Pai, porque assim lhe agradou” Deus tem tal amor em Sua natureza que precisa deixá-lo fluir em direção a um mundo que está perecendo por causa de seu próprio pecado voluntário. E quando fluiu era tão profundo, tão largo, tão forte, que nem sequer a inspiração podia calcular sua medida e, portanto, o Espírito Santo nos deu essas grandiosas palavras, DE TAL MANEIRA, deixando que intentemos medi-lo, conforme vamos percebendo mais e mais esse amor divino.

Agora, houve uma ocasião na qual o grandioso Deus quis manifestar Seu amor sem medida. O mundo tristemente havia se extraviado, havia perdido a si mesmo; o mundo foi julgado e condenado; foi entregue a perecer, por causa de suas ofensas; e tinha necessidade de ajuda. A queda de Adão e a destruição da humanidade abriram um amplo espaço, assim como suficiente margem para o amor Todo Poderoso. Em meio às ruínas da humanidade, tinha espaço para mostrar quanto Jeová amava os filhos dos homens; pois o alcance do Seu amor abarcava o mundo, o objeto desse amor era precisamente resgatar os homens para que não caíssem no abismo, e o resultado desse amor foi encontrar um resgate para eles.

O propósito específico desse amor era tanto negativo quanto positivo; era que, crendo em Jesus, os homens não perecessem, mas que alcançassem a vida eterna. A desesperada enfermidade do homem foi o motivo da introdução desse remédio divino que unicamente Deus poderia ter planejado e ministrado. Por meio do plano de misericórdia, e do grandioso dom que se requeria para levar a cabo esse plano, o Senhor encontrou o meio para manifestar seu amor sem limite aos homens culpados.

Se não houvesse existido nenhuma queda, e nenhuma morte, Deus poderia nos mostrar o Seu amor da mesma maneira que faz com os espíritos puros e perfeitos que rodeiam Seu trono.

Entretanto, jamais poderia mostrar Seu amor a nós de tal maneira especial como agora o faz. Na dádiva de Seu Filho unigênito, Deus revela Seu amor para conosco, na medida em que, sendo nós ainda pecadores, a seu tempo morreu Cristo pelos ímpios.

O fundo negro do pecado faz ressaltar muito mais claramente o fulgor da linha do amor. Quando o relâmpago escreve com dedos de fogo o nome do Senhor na amplidão da escura face da tempestade, nos achamos forçados a vê-Lo; assim também o quando o amor inscreve a cruz sobre as negras tábuas de nosso pecado, ainda os olhos que não podem ver estão obrigados a ver que “Nisto consiste o amor.”

I. A primeira consideração é o DOM: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito.” Os homens que amam muito estão prontos a dar muito, e usualmente podem medir a verdade deste amor através de seus sacrifícios e renúncias. Esse amor que não guarda nada para si, mas se esgota em ajudar e abençoar o seu objeto, e o verdadeiro amor, e não apenas um amor de nome. O pouco amor se esquece de trazer água para lavar os pés, mas o grande amor quebra o vaso de alabastro e derrama seu valioso perfume.

Então considerem qual foi o dom que Deus deu. Não poderia encontrar a expressão correta se tentasse explicar completamente o que é esta bênção que não tem preço; e não vou arriscar-me a fracassar ao tentar o impossível. Unicamente vou convidá-los a pensar na sagrada Pessoa que foi dada pelo Pai para demonstrar Seu amor para com os homens. Tratava-se do Seu unigênito Filho: Seu Filho amado, em quem tinha Sua complacência.

Nenhum de nós teve um filho assim para dá-lo. Nossos filhos são filhos de homens; o dEle era Filho de Deus. O Pai deu parte de Si mesmo, Ele que era Um com Ele. Quando o grandioso Deus deu a Seu Filho estava dando a Si próprio, pois Jesus, em sua natureza eterna não é menos que Deus. Quando Deus deu a Deus por nossa causa, estava se dando a Si mesmo. Quem pode medir este amor?

Vocês que são pais, julguem o quanto amam a seus filhos: poderiam entregá-los à morte por causa de seus inimigos? Vocês que têm um filho único, julguem quão entrelaçados estão seus corações ao seu primogênito, ao seu unigênito filho. Não houve uma maior prova do amor de Abraão a Deus do que quando não vacilou em entregar-Lhe seu filho, seu único filho, seu Isaque amado; e certamente não pode haver uma maior manifestação de amor que a do Eterno Pai, ao entregar o Seu unigênito Filho à morte por nós.

Nenhum ser vivente está disposto a perder a sua prole; o homem sofre uma dor muito aguda quando perde um filho. Acaso Deus não o sofre ainda mais? Há uma história muito popular relativa ao carinho de uns certos pais para com seus filhos. A história relata que houve fome na terra, no Leste, e que um pai e uma mãe se viram sem absolutamente nada para comer, e a única possibilidade de preservar a vida da família seria vender um dos filhos para que fosse escravo. Então os pais consideraram o assunto. O tormento de fome se tornou intolerável, e as súplicas de seus filhos pedindo pão puxavam dolorosamente as cordas de seus corações de tal maneira, que tiveram que retomar seriamente a idéia de vender a um deles, para salvar a vida de todos os demais. Tinham quatro filhos. Qual deles deveria ser vendido? Certamente não devia ser o maior: como poderiam desfazer-se de seu primogênito? O segundo, era tão parecido com seu pai que parecia uma miniatura dele, e a mãe disse que ela nunca se separaria dele. O terceiro era tão singularmente como sua mãe que o pai disse que preferiria morrer antes que este querido filho se convertesse em um escravo; e com relação ao quarto filho, ele era o Benjamim, seu caçula, seu amado filho, e não podiam separar-se dele. Finalmente concluíram que seria melhor morrerem todos juntos para não terem que separar-se voluntariamente de algum de seus filhos.

Vocês não simpatizam com esses pais? Vejo que simpatizam sim. Contudo, Deus nos amou de tal maneira que, para dizê-lo com muita ênfase, pareceria que nos amou mais que a Seu único Filho e não livrou a Ele, para perdoar-nos. Deus permitiu que entre todos os homens, Seu filho perecesse “para que todo aquele que nEle crê, não pereça, mas tenha vida eterna.”

Se desejarem ver o amor de Deus neste grande procedimento, devem considerar como Ele deu a Seu Filho. Ele não entregou a Seu Filho, como tu poderias fazer, a alguma profissão que teria como consequência desfrutar de sua companhia; senão que mandou o Seu Filho ao exílio entre os homens. O enviou à terra naquele presépio, unido em uma perfeita humanidade, que no princípio estava contida na forma de uma criança. Ali dormia, onde se alimentava um boi com longos chifres! O Senhor Deus enviou o herdeiro de todas as coisas para que trabalhasse na oficina de um carpinteiro: martelando pregos, usando o serrote, empunhando o pincel. O enviou no meio de escribas e fariseus, cujos olhos astutos O vigiavam e cujas línguas ferinas O açoitavam com calúnias vis. O enviou para a terra a fim de que passasse fome e sede, em meio a uma pobreza tão terrível que não tinha um lugar onde apoiar Sua cabeça. O enviou à terra para que O açoitassem e O coroassem de espinhos, e batessem nEle e O esbofeteassem. No fim, O entregou à morte: a morte de um criminoso, a morte do crucificado.

Continua...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SÉRIE: A IRRACIONALIDADE DA PREOCUPAÇÃO - PARTE 2


Por J. Dwight Pentecost


Em segundo lugar o Senhor apontou para as aves do céu. "Observai as aves do céu; não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não vaieis vós muito mais do que ás aves?" (Mateus 6:26). Ele chamou a atenção para o cuidado que Deus dispensa àquilo que criou. Quando Deus criou, ele assumiu a responsabilidade de prover o sustento de suas criaturas. Podemos confiar em que ele é fiel à sua obrigação.

Nossa ansiedade (v. 27) com relação às necessidades materiais não pode alongar nossos dias, porque Deus determinou o quinhão de nosso tempo.

O homem pode começar com previsão prudente a prover para o futuro, e a Palavra de Deus certamente não o proíbe. Muitos, porém, logo se excedem na previsão prudente, e fazem do dinheiro um fim em si mesmo, um deus a quem passam a servir. O Senhor não era contrário à provisão prudente para os dias futuros, mas proibiu-nos confiar naquilo que acumulamos como se esses bens pudessem alongar ou distribuir a duração de nossa vida. O homem pode abreviar seus dias pela preocupação, mas certamente não pode aumentá-los.

Em terceiro lugar, nosso Senhor demonstrou o cuidado de Deus revelado na natureza. "E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?" (vv. 28-30).

A flor do campo desabrocha exibindo sua beleza durante umas poucas horas, e desaparece. A flor é passageira, entretanto Deus prove para ela na criação. Se Deus prove para o que é passageiro, não provera para o que é eterno? Deus lhe deu vida e promete sustentá-lo enquanto você viver. Quando Deus trouxe você ao seio da família de Cristo como nova criatura, ele deu-lhe vida eterna. Deus se obrigou a sustentá-lo na vida eterna. Se Deus não abandona o lírio do campo que vive umas poucas horas, abandonará ele os que desejam habitar com ele para sempre?

Em quarto lugar, o Senhor mostrou que a ansiedade não convém ao filho de Deus. "Porque os gentios é que procuram todas estas coisas" (v. 32). O amor das coisas materiais é característica dos pagãos. A pessoa sem Deus deseja acumular porque as posses são a sua única segurança. Ela não tem nenhum deus a prover para si, nenhum deus em quem possa confiar. Portanto, o pagão sábio deve acumular tudo o que puder. O Senhor disse que quando a pessoa faz da busca dos bens materiais o alvo de sua vida e neles encontra segurança, se coloca no mesmo nível do pagão sem Deus. Mas aquilo que pode ser bom para o pagão, não serve para o filho de Deus.

Assim, "buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (v. 33). O que o Senhor disse é que o centro da vida para o filho de Deus, jamais devem ser as coisas materiais. O centro não são as coisas, mas uma Pessoa. "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça." "Para em todas as coisas ter [Jesus Cristo] a primazia" (Colossenses 1:18). Quando o filho de Deus faz da busca das coisas materiais o alvo de sua vida, ao ponto de ser por elas escravizado, sua vida está fora de centro. O que chegou a ter primazia em sua vida não a tem na mente de Deus. O filho de Deus deve fixar como alvo de sua vida buscar a justiça de Deus e não os bens materiais.

Finalmente o Senhor ressaltou que a preocupação com o futuro e com os bens materiais é inútil porque Deus nos dá um dia por vez. "Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã" (v. 34). Ele não nos proibiu fazer planos, mas disse que não temos necessidade hoje do alimento de amanhã. Portanto, não necessitamos de reserva suficiente hoje para comprar o alimento de amanhã, e pagar o aluguel de amanhã e as obrigações do próximo mês, porque Deus nos concede um dia por vez. "O amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal." Os homens medem as riquezas segundo o que temos hoje para muitos dias à frente. Essa perspectiva não é bíblica. A vida da fé não é confiar em que Deus nos dê hoje o de que iremos necessitar para o resto da vida. A vida da fé confia em que Deus nos dá hoje o de que precisamos hoje. Se temos tudo o de que precisamos hoje, somos ricos.

Ora, quando nosso Senhor apresentou esses motivos por que não devemos andar ansiosos pelas coisas materiais, mas buscar o reino de Deus e a sua justiça, ele chegou a uma conclusão: "Portanto [uma vez que esses motivos são verdadeiros], não vos inquieteis [não deis lugar à ansiedade], dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos?... pois vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas elas" (vv. 31-32). Você é filho dele, e ele assume a obrigação de cuidar não só de sua alma mas também de seu corpo. Ele lhe pede que confie, em vez de preocupar-se. O antídoto de Deus para a preocupação, ansiedade, amor às coisas materiais, é muito simples ― confiar num Deus fiel. Deus ainda não falhou com seus filhos. Portanto, não se escravize aos bens materiais de tal maneira que o amor a eles produza ansiedade em sua vida. Antes, confie em que o Pai amoroso cumprirá o que prometeu. "Meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Filipenses 4:19).

Não podemos servir ao senhor errado e experimentar a paz de Deus em nossa vida. Quando buscarmos a justiça de Cristo e confiarmos em que ele realize a sua perfeita vontade em nós, então estaremos livres da escravidão às coisas e livres de preocupar-nos com elas. Dê-nos Deus tal confiança nele que não andemos ansiosos.


Retirado do livro "O Sermão da Montanha".

terça-feira, 30 de agosto de 2011

SÉRIE: A IRRACIONALIDADE DA PREOCUPAÇÃO - PARTE 1

Por J. Dwight Pentecost

  • Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?
  • Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
  • E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
  • E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;
  • E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
  • Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?
  • Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
  • (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;
  • Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
  • Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Mateus 6:25-34


E fácil ao homem fazer das coisas materiais um deus, mas ao devotar-se a esse deus, ele se vê escravizado ao mais tirânico senhor. Nesta parte do Sermão da Montanha o Senhor trata da preocupação com coisas materiais. A marca da pessoa justa é sua preocupação com Deus. Quando o indivíduo deixa de lado o Deus de Justiça e aceita o deus dos bens materiais, logo ele se conforma aos padroes materialistas. Torna-se ganancioso, avarento e totalmente preocupado com as posses materiais. Se a pessoa se preocupa com tais coisas e elas se tornam o alvo de sua vida, logo estara ansiosa acerca de suas necessidades fisicas. Preocupa-se com o que ira comer, beber, vestir, e onde morar. Este cuidado ansioso provem da falta de confiança em Deus. Quando a pessoa deixa de confiar que Deus pode satisfazer suas necessidades, se escraviza nas coisas materiais. Nosso Senhor ensinou aos que estavam interessados na justica, que nao se pode ao mesmo tempo servir a Deus e as riquezas.

A pessoa que serve a Deus confia nele; e confia nao apenas quanto a eternidade, mas também quanto a hora que passa. Confia em Deus no que tange a alma e também ao corpo. Tal indivíduo pode entregar-se a muitas coisas. Pode dar-se a gratificação do desejo físico, mas a medida que envelhece, aquilo a que ele serviu como deus pode afrouxar a garra sobre ele e ele pode livrar-se de seu domínio. O indivíduo pode entregar-se a busca do prazer, mas quanto mais envelhece, tanto menos o prazer o seduz. Acha que pode escapar do controle do deus do prazer ao qual serviu. Se, porém, o indivíduo se dá às coisas materiais como seu deus, ele descobre que quanto mais velho fica, tanto mais aperta a garra desse deus sobre ele. Ele se torna mais escravizado. Portanto, nosso Senhor disse: "Por isso vos digo: Nao andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Nao e a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?" (Mateus 6:25).

O Senhor reconhecia que a pessoa, em sua cobiça, pode devotar a vida inteiramente a prover alimento, abrigo e roupa, as quais se tornam o centro de sua vida. Considerando que não podemos servir a Deus e aos bens materiais ao mesmo tempo, nosso Senhor ordena: "Nao se preocupem com essas coisas." Nao permitamos que a ansiedade pelos bens materiais se aninhe em nossos corações.

Paulo tem uma palavra tranquilizadora: "Meu Deus suprira cada uma de vossas necessidades" (Filipenses 4:19). O corpo não pode existir por muito tempo sem alimento ou bebida. Ele precisa de abrigo e vestes, e essas coisas preocupam o injusto. Deus suprira tudo de que o corpo necessita. Esse conceito estava na mente do Senhor quando nos proibiu de preocupar-nos com as coisas materiais. Observe que ele deu aqui um mandamento da parte de Deus como o foram os de Moisés. Embora cuidemos de não violar um sequer dos mandamentos de Moisés, parece que nao hesitamos em violar o mandamento do Senhor Jesus, que disse: "Não se preocupem com as coisas materiais." Preocupamo-nos com elas e a elas nos escravizamos.

Para prevenir essa escravização a ansiedade pelos bens materiais, nosso Senhor deu, em Mateus 6:25-34, os motivos pelos quais nao devemos permitir que as coisas materiais sejam para nos uma obsessão.

Em primeiro lugar, nosso Senhor perguntou: "Não e a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?" (v. 25). Sua pergunta, em outras palavras, foi: "O homem é apenas corpo, ou é mais do que isso?" Se o homem fosse apenas corpo, a principal coisa da vida seria cuidar desse corpo. As coisas mais importantes da vida seriam o alimento, o vestuário, e o abrigo. Se, porém, o homem é mais do que corpo, entao a vida é mais do que comida e bebida.

Voltando ao relato da criação (Genesis 1), verificamos que, depois de Deus haver criado o corpo, assoprou nele uma alma vivente, e o homem viveu. O homem não tinha vida quando o seu corpo foi criado do pó da terra; ele só viveu quando Deus soprou nele a vida e o fez alma vivente. O que nosso Senhor disse é que a vida e muito mais do que aquilo que comemos ou bebemos. Visto que a vida é muito mais do que o corpo fisico e o acumulo de bens materiais, por que não abandonamos o cuidado ansioso? E preferível confiar.

Não tivemos nada que ver com a criação. Foi obra de Deus. Não tivemos nada que ver com o sopro de vida num vaso de barro. Foi obra de Deus. Não tivemos nada que ver com a nova vida em Cristo, recebida dele como dádiva, isso é obra de Deus. Aquele que nos criou e nos fez novas criaturas em Cristo não abandonara seu interesse em nós nem seu cuidado por nós; portanto, nosso Senhor podia dizer: "Nao andeis ansiosos pela vossa vida."


Retirado do livro "O Sermão da Montanha".

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SÉRIE: PERDOA-NOS AS NOSSAS DÍVIDAS - PARTE 2


Por Paul Yonggi Cho

Como Nós Temos Perdoado aos Nossos Devedores

Há uma condição a cumprir se desejamos desfrutar o perdão divino. Ele nos dá a graça do perdão continuamente quando perdoamos a outras pessoas. Se abrigamos ódio em nosso coração e nos recusamos a perdoar a quem nos ofendeu, o perdão que já recebemos não será atingido. Mas a partir desse instante, o perdão de que necessitamos por faltas posteriores será cancelado ."Jesus narrou a parábola de dois devedores. Um devia ao rei 10.000 talentos e o outro devia ao primeiro devedor uma quantia insignificante, cem denários. O rei perdoou a dívida do homem que lhe devia a grande soma. Porém esse homem não teve misericórdia do outro que lhe devia uma pequena quantia. Ao descobrir o rei o que havia acontecido, ficou furioso e castigou o homem mau. Aqui nos ensina Jesus a lição de que devemos perdoar as faltas e os erros de outras pessoas da maneira pela qual fomos perdoados. Disse ele: "Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão" (Mateus 18:35).

Há uma relação direta entre o modo pelo qual perdoamos aos nossos inimigos e o modo pelo qual seremos perdoados. Quando Caim matou seu irmão Abel, o Senhor perguntou: Onde está Abel, teu irmão?" Que foi que Caim respondeu? Acaso sou eu tutor de meu irmão?" (Gênesis 4:9). Mas nós como tutores ou guardadores de nossos irmãos. Deus criou os seres humanos como seres sociais. O livro do Gênesis diz: "Não! é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea... Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (2:18, 24). Desde a criação da mulher, o homem tem vivido com outros seres humanos. Estamos destinados a viver juntos como casais, como pais e filhos, entre os vizinhos. Enquanto alguém vive em comunidade, não pode fazer a pergunta irresponsável: "Acaso sou eu tutor de meu irmão?" Por este motivo Jesus nos ensinou! a orar: "Pai nosso. . ." em vez de "meu Pai". Quando as pessoas vivem juntas, inevitavelmente o pecado entra em seus relacionamentos. Todo o mundo tem personalidade e traços de caráter negativos: ego, orgulho, ciúme, ambição. Onde quer que as pessoas se reúnam, as diferenças de caráter e de personalidade tornam-se evidentes e causam tensão e dor. À medida que o tempo passa, o remorso pelo passado se torna ódio no presente, e foi dessa maneira que este mundo se encheu de inveja, ciúme, calamidade e assassínio. "Mas os perversos são como o mar agitado, que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo. Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz" (Isaías 5720, 21).

Como podemos viver em paz e harmonia com outras pessoas, esquecer os antigos rancores e aceitar a cura de Deus? Com o progresso de conhecimento, temos inventado todos os tipos de comodidades. Há, porém, um campo que não tem, absolutamente, visto nenhum progresso. A despeito de nosso destino comunitário, o homem parece decidido a fabricar armas que firam e matem os outros.

Não há ninguém que possa resolver este problema de inimizade e ódio senão Jesus Cristo. Ele nos perdoou e insiste em que oremos: "Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós temos perdoado aos nossos devedores." É interessante que imediatamente depois de haver terminado esta oração ensinada aos discípulos, Jesus volte ao assunto do perdão. Mateus 6:14, prossegue, dizendo: "Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas."

Certo dia João Wesley encontrou-se na rua com um de seus amigos. Fazia algum tempo que não se encontravam, e Wesley disse: "Ouvi dizer que você e o Sr. Fulano de Tal se tomaram inimigos. Você já chegou a um acordo com ele?" - Não, não cheguei — respondeu o homem. — Por que deveria eu fazê-lo? Ele é que deve levar a culpa. Nunca lhe perdoarei, porque fui eu quem saiu ferido. Olhando direto para o rosto do homem, Wesley disse: - Então você nunca deve mais cometer pecados. Não creio que você possa dizer que nunca pecou. Você tem pecado até aqui porque alguém perdoou as suas faltas. Mas se diz que não deseja perdoar a alguém que o ofendeu, de agora em diante não espere ser perdoado por ninguém mais também.

Diante disto, o homem curvou a cabeça e se arrependeu amargamente de suas faltas. Se não desejamos perdoar as faltas do próximo, não deveríamos pecar. O marido que não deseja perdoar as faltas da esposa não deveria também cometer faltas. A esposa que não deseja perdoar as faltas do marido não deveria igualmente cometer faltas. Se não se perdoam mutuamente, suas próprias faltas não podem ser perdoadas. Todas as pessoas se curam mutuamente perdoando umas às outras. Ninguém é tão justo que não necessite de perdão. As afetuosas mãos estendidas do perdão começam a curar as feridas quase imediatamente. Jamais deveríamos esquecer que devemos nossa justiça ao perdão divino. Nossas dívidas são pagas quando perdoamos aos outros as suas dívidas. Recebemos o perdão divino quando perdoamos as ofensas dos outros contra nós.

Visto que Deus nos perdoou, devemos aos outros a dívida do perdão. O apóstolo Paulo disse: "Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes" (Romanos 1:14). Se um homem como o apóstolo Paulo era devedor, então as pessoas comuns como você e eu somos devedores muito maiores. Tanto quanto sou perdoado, devo também perdoar aos outros dia a dia. Devemos fazer o melhor para pagar a dívida O perdão em nossa existência.

O Custo do Perdão

O Perdão traz belos resultados. Onde há perdão, há céu — Pois o Deus do perdão ali está por intermédio do Espírito Santo. É fácil perdoar por pura força de vontade? Os que sinceramente perdoaram as faltas e os erros alheios certamente responderiam com um não. Como é que se perdoa? O perdão sempre demanda um preço — sofrimento — uma cruz. Jamais creia que o perdão de Deus a você e a mim nadai custou para ele. Custou-lhe o sofrimento sacrificial de seu único Filho. Embora fôssemos nós os pecadores, Jesus teve de levar sobre si os nossos pecados.

O perdoador — e não o perdoado— pagou o preço. De igual modo, se devemos perdoar aos outros, esse perdão nos custará sofrimento e cruz. Por quê? Não nos é possível perdoar aos outros enquanto ainda estamos insistindo em nossas opiniões, direitos, intolerância. Quando crucificamos o próprio orgulho, ira e pensamentos, estamos em condições de perdoar plenamente, tanto com o coração quanto com a boca. A fim de perdoarmos aos outros, devemos primeiro morrer para o eu. Até que isso aconteça, ódio, orgulho, maus sentimentos e ressentimentos surgirão de contínuo, bloqueando nossa capacidade de perdoar. Somos libertos do egocentrismo quando perdoamos. E somos libertos de teimosia, arrogância, e auto-afirmação. Entramos na verdadeira liberdade divina.

Corrie ten Boom, famosa reavivalista holandesa, passou os últimos anos de sua vida nos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial ela e sua família foram presas e transportadas para campos de concentração nazistas sob a acusação de ocultarem judeus em seu lar. Seu pai e sua irmã morreram nos campos, e Corrie voltou sozinha à sua casa. Terminada a guerra, enquanto ela estava pregando, ouviu o Espírito Santo dizer: "O povo alemão está sofrendo as profundas cicatrizes do caminho. Vá pregar-lhe o evangelho."

Ouvindo isso, Corrie foi à Alemanha para pregar. Depois de um sermão especial sobre o perdão, muitos choravam à medida que confessavam os pecados. Muitos aguardavam para apertar--lhe as mãos quando ela descia da plataforma. Enquanto ela a todos cumprimentava alegremente, um por um, apareceu um homem na fila, com a mão estendida. Tão logo ela o viu, sentiu como se seu coração parasse. Ele havia sido guarda em Ravensbruck, o campo de concentração onde Corrie e a irmã estiveram encarceradas. Os prisioneiros, quando levados para o campo, tinham de passar nus diante dele, e com freqüência ele cortava o suprimento de comida.

Lembranças dolorosas daqueles terríveis anos desdobraram como um panorama perante Corrie. O homem não a reconheceu como ex-prisioneira, mas ela sabia que jamais esqueceria o rosto dele, ainda que em sonho. Ele disse a ela que, desde quando servia como guarda em Ravensbruck, havia-se tomado cristão. "Sei que Deus me perdoou as coisas cruéis que pratiquei lá, mas gostaria de ouvi-lo de seus lábios também. A senhora me perdoa?" A imagem do cadáver de sua irmã passou-lhe diante dos olhos; a lembrança amarga de seu próprio sofrimento foi revivida. Embora isso levasse apenas uns poucos segundos, parecia-lhe que esteve ali durante anos. Finalmente ela orou: "Senhor, não posso perdoar a este homem. Ajuda-me!"

Ela decidiu que poderia, ao menos, levantar a mão. Enquanto o fazia, a vida de ressurreição de Jesus fluiu para dentro do coração de Corrie e ela perdoou ao ex-guarda. Todos os sentimentos de amargura desapareceram, substituídos pela alegria mediante o poder do Senhor. Mais tarde ela dizia que se sentia como se tivesse rejuvenescido uma década. Durante anos depois desse incidente Corrie viajou por todo o mundo pregando o amor e o perdão de Cristo.

O perdoador sempre tem uma responsabilidade: lançar-se diante da cruz, crucificar a centralidade era si próprio, o orgulho e as auto-afirmativas. Quando a pessoa faz isto, Deus derrama abundantemente a vida de ressurreição de Jesus, sua cura. Os relacionamentos revivem — entre pais e filhos, entre amigos — transformando a velha vida em vida nova. Quando nossas velhas feridas são curadas e somos libertos do ódio, podemos usufruir verdadeira felicidade e alegria.

Grande é o número dos que sofrem desnecessariamente enfermidades físicas causadas por inimizade e ódio. O rancor quebra os relacionamentos da família. Quantos pais estão alienados e seus filhos, e quantas amizades se esfriaram por causa desses sentimentos? O perdão é o nosso único elemento de cura. Orar de acordo com o ensino de Jesus: "Perdoa-nos as nossas dividas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores é o segredo que nos conduzirá à felicidade. A real liberdade acompanha esse tipo de oração e perdão.

O Senhor ensinou que devemos perdoar e reconciliar-nos antes de oferecermos sacrifícios. Mateus 5.23, 24 diz: "Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta." Deus responde à oração daquele que perdoa e se reconcilia. Se temos rancores e ódio no coração, o Pai não pode ouvir nossas orações, por mais fervorosas que sejam. Conforme disse o Senhor, devemos desejar que o perdão de Deus transborde em nós por perdoarmos aos que pecaram contra nós.

"Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores." Quando orarmos este versículo da oração do Senhor dia e noite, nosso espírito, alma e corpo e viver diário serão curados. Então com fé, esperança e amor fluindo abundantemente entre nós, estaremos sempre em condições de marchar avante para um amanhã melhor, mesmo que ainda tenhamos tendências ou deficiências pecaminosas, mesmo que tenhamos choques de personalidade ou diferenças de opiniões.