quinta-feira, 28 de abril de 2011

DIFICULDADE NO CAMINHO DE CRER


Por Charles H. Spurgeon


É POSSÍVEL que o leitor sinta alguma dificuldade em crer. Deixemo-lo ele considerar. Não podemos crer por um ato imediato. O estado da mente que descrevemos como crer é um resultado, seguindo-se a certos estados formais da mente. Chegamos à fé por degraus. Pode até haver algo como a fé à primeira vista; mas usualmente chegamos à fé por estágios: ficamos interessados, consideramos, ouvimos evidências, somos convencidos, e então levados a crer. Se, então, eu quero crer, mas por uma razão ou outra eu não consigo obter fé, o que eu devo fazer? Devo ficar parado como uma vaca contemplando uma nova porteira; ou devo eu, como um ser inteligente, usar os meios próprios? Se eu quero crer em qualquer coisa, o que devo fazer? Vamos responder de acordo com as regras do senso comum.

Se me dissessem que o Sultão de Zanzibar fosse um bom homem, e se fosse algo de interesse para mim, eu não suponho que sentiria qualquer dificuldade em crer. Mas por alguma razão eu duvido disso, e ainda assim desejaria acreditar na notícia, como deveria agir? Não deveria caçar toda a informação ao meu alcance sobre sua Majestade, e tentar, pelo estudo dos jornais e outros documentos, chegar à verdade? Melhor ainda, se acontecesse de estar neste país, e pudesse vê-lo, e pudesse mesmo conversar com membros da sua corte, e cidadãos do seu país, eu seria grandemente ajudado a chegar a uma decisão por usar essas fontes de informação. Evidência comparada e conhecimentos obtidos levam à fé.

É verdade que a fé em Jesus é presente de Deus; mas ainda assim Ele usualmente a dá de acordo com as leis da própria mente, e daí nos é dito que “o crer vem pela pregação; e a pregação, pela palavra de Deus”. Se você quer crer em Jesus, ouça sobre Ele, leia sobre Ele, pense nEle, conheça a Ele, e então você achará fé brotando em seu coração, tal qual o trigo que surge através da umidade e do calor operando na semente que foi semeada. Se eu desejasse ter fé em certo médico, eu perguntaria às testemunhas de suas curas, eu desejaria ver seus diplomas que certificam do seu conhecimento profissional, e eu ainda gostaria de ouvir o que ele diz acerca de certos casos complicados. De fato, eu usaria meios para saber, a fim de que cresse.

Ouçam bastante sobre Jesus. Almas aos milhares vêm à fé em Jesus pelo ministro que lhe apresenta clara e constantemente.
Poucos permanecem sem crer ouvindo um pregador cujo grande assunto é o Cristo crucificado. Não ouçam nenhum outro tipo de ministro. Há outros. Eu ouvi falar de um que achou em sua Bíblia do púlpito um papel contendo este texto, “Senhor, queremos ver Jesus”. Vá ao local de adoração para ver Jesus; e se você não pode nem ouvir a menção do Seu Nome, vá para outro lugar aonde se pensa mais sobre Ele, e é mais comumente apresentado.


Leiam bastante sobre Jesus. A Bíblia é a janela pela qual podemos olhar e ver nosso Senhor. Leia sobre a história de Seus sofrimentos e morte com devotada atenção, e depois de muito o Senhor fará fé secretamente entrar na sua alma. A cruz de Cristo não só recompensa a fé, mas faz - lá começar. Muitos crentes podem dizer:

“Quando vi a ti, ferido, sofrendo,
Sem respirar na maldita árvore,
Logo vi meu coração crer
Tu sofreste ali por mim”

Se ouvir e ler não forem suficientes, então deliberadamente determina à sua mente trabalho de revisar a matéria, e a tenha. Ou você crerá, ou saberá a razão de não crer. Veja o assunto todo até o limite de suas capacidades, e ore a Deus para que lhe ajude a fazer uma investigação completa, e chegar a uma decisão honesta de uma forma ou outra. Considere quem Jesus era, e se a constituição de Sua pessoa não lhe garante total confiança. Considere o que Ele fez, e se isso não é outro bom motivo para confiança.

Considere-O morrendo, levantando dos mortos, ascendendo aos céus, e vivendo eternamente para interceder pelos transgressores; e veja se isso não Lhe capacita a ser alguém de quem você pode depender. Então clame a Ele, e veja se Ele não lhe ouve. Quando Usher queria saber se Rutherford era de fato um homem tão santo quando se dizia ser, ele foi à sua casa como pedinte, e ganhou um quarto, e ouviu o homem de Deus derramando seu coração diante do Senhor pela noite. Se você puder conhecer a Jesus, chegue tão perto dEle quanto puder ao estudar Seu caráter, e correspondendo ao Seu amor.

Houve um tempo em que eu precisei de evidências para crer no Senhor Jesus; mas agora eu O conheço tão bem, por experimentá-lO, que eu precisaria de muita evidência para que eu duvidasse. É agora mais natural para mim confiar que descrer: isso é a nova natureza triunfando; não era assim no começo. A história da fé é. No começo, uma fonte de fraquezas; mas ação após ação de confiança tornam a fé num hábito. Experiência traz à fé forte confirmação.

Eu não estou perplexo pela dúvida, porque a verdade em que eu acredito fez um milagre em mim. Por seus meios eu recebi e ainda tenho uma nova vida, para a qual eu fui estranho antes: e isso é confirmação das mais fortes.
Eu sou como o bom homem e sua mulher que mantiveram um farol por anos. Um visitante, que veio ver o farol, olhando para fora da janela a ira das águas, perguntou à boa mulher, “Você não fica com medo de noite, quando a tempestade está lá fora, e as grandes ondas passam logo em volta da lanterna? Você não teme que o farol, e tudo que há nele, serão carregados? Eu estou certo que teria medo de confiar em uma torre fina no meio das grandes ondas”. A mulher comentou que a ideia nunca lhe ocorrera. Ela havia vivido lá por tanto tempo que se sentia tão segura na rocha solitária quanto ela sempre se sentiu vivendo na terra firme. E acerca de seu marido, quando perguntado se ele não se sentia ansioso quando o vento provocava um furacão, ele respondeu, “Sim, eu fico ansioso para manter as lâmpadas bem seguras, e a luz queimando, a fim de que nenhum barco naufrague”. E sobre a ansiedade da segurança do farol, ou a sua própria segurança nele, ele havia ultrapassado isso tudo. Assim é também com o crente crescido e maduro. Ele pode dizer humildemente, “Eu sei em quem tenho crido, e estou bem certo que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia”.

Dito isto que nenhum homem tente me inquietar com dúvidas e questionamentos; eu carrego na minha alma as provas da verdade e do poder do Espírito, e não terei nenhum de seus raciocínios astutos. O evangelho para mim é verdade: eu me contentarei em perecer se não for. Eu arrisco o destino eterno da minha alma sobre a verdade do evangelho, e sei que não há nenhum risco nisso. Minha única preocupação é manter a luz acesa, para que eu possa beneficiar outros. Que apenas o Senhor me dê óleo suficiente para alimentar minha chama, e eu estarei bem contente.

Agora, caçador incomodado, se é assim, que seu ministro, e muitos outros em quem você confia, encontraram perfeita paz e descanso no evangelho, porque você não encontraria? Está o Espírito do Senhor em dificuldades? As palavras dEle não fazem bem aos que andam na retidão? Você não tentará também a virtude que os salva?

Todo verdadeiro é o evangelho, pois Deus é o seu Autor. Creia nele. Totalmente capaz é o Salvador, pois Ele é Filho de Deus. Confie nEle. Todo-poderoso é Seu precioso sangue. Busque Seu perdão. Totalmente amoroso é seu coração gracioso. Corra a ele agora.

Assim eu insistiria que o leitor buscasse a fé; mas se ele não deseja, o que mais posso fazer? Eu trouxe o cavalo à água, mas não posso fazê-lo beber. Isso, no entanto, seja lembrado – incredulidade é intencional quando a evidência é apresentada no caminho do homem, e ele se recusa a examiná-la cuidadosamente. Aquele que não deseja saber, e aceitar a verdade, deve-se culpar a si mesmo, se morrer carregando uma mentira. É verdade que “quem crer e for batizado será salvo”: é igualmente verdade que “quem não crer já está condenado”.


Retirado do livro "Diante da Porta Estreita"

segunda-feira, 25 de abril de 2011

ESSE É O EVANGELHO



SÉRIE: O NOVO NASCIMENTO - PARTE 3


Por John Piper


O Novo Nascimento e a Certeza da Salvação


Deus nos chama à plena segurança

1 João 5,13: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus”.

Este livro foi escrito, disse João, para ajudar os crentes a terem segurança plena de que nasceram de novo — ou seja, de que têm dentro de si uma nova vida espiritual que nunca desaparecerá.


As ações dos cristãos confirmam a sua nova natureza


João insiste que o ser espiritual deve ser validado pela ação física; do contrário, o ser espiritual simplesmente não é real.

1 João 3.7: “Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo”.

Os regenerados não são impecáveis

1 João 1.8: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós”.

Não há cristão que não peque.

1 João 2.1: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”.

João não supõe que, se você pecar, não nasceu de novo, Ele supõe que, se você pecar, tem um Advogado (Jesus).


Lidando com nosso pecado recorrente

Como as pessoas que experimentaram o milagre do novo nascimento lidam com sua própria pecaminosidade, enquanto tentam viver na plena certeza de sua própria salvação?

Fugindo da presunção, correndo para o Advogado

É comum os crentes se deixarem levar pela presunção pecaminosa (indiferença quanto pecaminosidade). Quando a pessoa nascida de novo experimenta esse tipo de afastamento, a verdade de 1 João 3.9 (“Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado”) tem, mediante o Espírito Santo, o efeito de despertá-la quanto ao perigo de sua condição, para que ela corra para seu Advogado e Propiciação em busca de misericórdia, perdão e justiça.

Fugindo do desespero, correndo para o Advogado

Também é comum os crentes se deixarem levar ao desespero (sua consciência o condena, e seus próprios atos lhe parecem tão imperfeitos que nunca poderiam provar que você nasceu de novo). Quando a pessoa que nasceu de novo experimenta isso, a verdade de 1 João 2.1 tem, por intermédio do Espírito Santo, o efeito de resgatá-la do desespero: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar temos Advogado, junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”.


Embora haja muitos cristãos que realmente nasceram de novo e lutam pela segurança que vem da certeza da salvação, há muitos que se acham cristãos, vão à igreja, onde alguém disse que eles são nova criatura, mas, na verdade, não o são. Fuja da presunção e do desespero e corra para Jesus.


O Novo Nascimento e a Evangelização


Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a Palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada. (1 Pedro 1:22-25)

Esta é a verdade (imensamente importante, se você ama alguém ou alguns milhares de pessoas e deseja vê-las nascer de novo para uma viva esperança): se pessoas têm de nascer de novo, isso acontecerá pelo ouvir a Palavra de Deus, centrada no evangelho de Jesus Cristo. Elas serão regeneradas “mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente…”a palavra que vos foi evangelizada”. A obra de Deus e a obra que você realiza andam juntas deste modo:

- Deus produz o novo nascimento mediante a semente da Palavra, o evangelho.

- Deus realiza o novo nascimento por meio da sua pregação do evangelho às pessoas.

- Deus regenera as pessoas mediante as notícias a respeito de quem Cristo é e do que Ele fez na cruz e na ressurreição.

- Deus concede vida nova a corações mortos por meio das palavras que você transmite, quando fala o evangelho.

As pessoas nascem de novo depois de ouvir essas notícias, jamais nascem de novo sem ouvi-las. “A fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Então, quando perguntamos: o que devemos fazer para ajudar as pessoas a nascer de novo? A resposta bíblica é clara: fale às pessoas as boas-novas, com um coração amoroso e uma vida dedicada a servir.

Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo.


Retirado de "voltemosaoevangelho.com" com alterações, trechos do livro "Finalmente Vivos" de John Piper

quarta-feira, 20 de abril de 2011

SÉRIE: O NOVO NASCIMENTO - PARTE 2


Por John Piper


Como Deus opera o novo nascimento?

Resgatado, Ressuscitado e Chamado

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos [...] Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver;. [...] sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais. (1 Pedro 1:3,15,18)


1) Ele nos resgatou do pecado e da ira por meio do sangue de Cristo, pagando o débito, para que pecadores tivessem vida eterna.

2) Ele ressuscitou a Jesus dentre os mortos, para que a união com Jesus concedesse vida eterna, vida que nunca passa.

3) Ele nos chamou das trevas para a luz e da morte para a vida, por meio do evangelho, e nos deu olhos para ver e ouvidos para ouvir. Ele fez a luz da glória de Deus na face de Cristo brilhar em nosso coração, mediante o evangelho, e nós cremos. Aceitamos a Cristo como o tesouro que Ele realmente é.


Por Meio do Lavar Regenerador

Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador; para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna. (Tito 3:3-7)


O ser nascido de novo dá origem às suas melhores obras e motivações. A bondade de Deus, o seu amor, a sua misericórdia absolutamente gratuita esses são os fatores que explicam o nosso novo nascimento. Não é a circuncisão, nem o batismo, nem obra alguma de justiça praticada por nós. O novo nascimento surge e traz consigo os atos de justiça, e não o contrário.


Qual é a nossa participação no novo nascimento?


Você pode ter pensado que eu diria que não temos participação na regeneração, porque somos espiritualmente mortos. Mas os mortos participam e muito de sua ressurreição – afinal de contas, eles ressuscitam! Eis um exemplo do que quero dizer: quando Jesus se aproximou da sepultura de Lázaro, que estava morto havia quatro dias, Lázaro não teve participação alguma na concessão de sua nova vida. Cristo causou a ressurreição. E Lázaro ressuscitou. No instante em que Deus nos dá nova vida, vivemos. No instante em que o Espírito produz fé, cremos.

A sua participação consiste em exercitar fé — fé no Filho de Deus crucificado e ressurreto, Jesus Cristo, como o Salvador, o Senhor e o Tesouro de sua vida.

A resposta continua assim: a sua ação de crer e a ação de Deus em fazer acontecer são simultâneas. Ele faz acontecer, e você crê no mesmo instante. E — isto é muito importante — a ação dEle é a causa decisiva da sua ação.

Se é difícil para você pensar numa coisa originando outra quando elas são simultâneas, pense no fogo e no calor ou no fogo e na luz. No momento em que há fogo, há calor. No momento em que há fogo, há luz. Entretanto, não diríamos que o calor provocou o fogo ou que a luz causou o fogo. Dizemos que o fogo causou o calor e a luz.


Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; (1 João 5:1)


A combinação do tempo presente (crê) com o particípio (é nascido) é importante. Ela mostra claramente que a fé é a conseqüência, e não a causa, do novo nascimento. Nossa atividade contínua de crer é o resultado e, portanto; a evidência de nossa experiência passada do novo nascimento, pela qual nos tornamos e permanecemos filhos de Deus. (John Stott)


Então, o que isso significa para nós? Significa quatro coisas, e oro para que você as receba com alegria.

1. Significa que devemos crer para sermos salvos, “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (At 16.31). O novo nascimento não assume o lugar da fé, ele envolve fé, é o nascimento da fé.

2. Significa que, entregues a nós mesmos, não cremos. Um morto não pode dar respiração a si mesmo.

3. Significa que Deus, sendo rico em misericórdia, grande em amor e graça soberana, é a causa decisiva da fé.

4. De acordo com 1 Pedro 1.22, o amor é o fruto do coração que foi regenerado. Isso quer dizer que nenhum aspecto da vida deixa de ser afetado pelo novo nascimento.


11 Evidências em 1 João


1. Aqueles que nasceram de Deus guardam os seus mandamentos.

1 João 2.3-4: “Sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade”.

1 João 3,24: “Aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus, nele”.

2. Aqueles que nasceram de Deus andam como Cristo andou.

1 João 2.5-6: “Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”.

3. Aqueles que nasceram de Deus não odeiam as outras pessoas, mas as amam.

1 João 2.9: “Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas”.

1 João 3.14: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte”.

1 João 4.7-8: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor”.

1 João 4.20: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso”.

4. Aqueles que nasceram de Deus não amam o mundo.

1 João 2.15: “Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele”.

5. Aqueles que nasceram de Deus confessam o Filho e O recebem (têm).

1 João 2.23: “Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai”.

1 João 4.15: “Aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele, em Deus”.

1 João 5.12: “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida”.

6. Aqueles que nasceram de Deus praticam a justiça.

1 João 2.29: “Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele”.

7. Aqueles que nasceram de Deus não vivem na prática do pecado.

1 João 3.6: “Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu”,

1 João 3,9-10: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus. Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão”.

1 João 5.18: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca”.

8. Aqueles que nasceram de Deus possuem o Espírito de Deus.

1 João 3.24: “Nisto conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu”.

1 João 4.13: “Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito”.

9. Aqueles que nasceram de Deus ouvem submissamente a palavra apostólica.

1 João 4.6: “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro”.

10. Aqueles que nasceram de Deus crêem que Jesus é o Cristo.

1 João 5.1: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus”.

11. Aqueles que nasceram de Deus vencem o mundo.

1 João 5,4: “Todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”)


Retirado de "voltemosaoevangelho.com" com alterações, trechos do livro "Finalmente Vivos" de John Piper

segunda-feira, 18 de abril de 2011

SÉRIE: O NOVO NASCIMENTO - PARTE 1


Por John Piper

E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.

Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.

Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.

O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.

O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

João 3: 1-8


O que é o novo nascimento?

1. O que acontece no novo nascimento não é a obtenção de uma nova religião, e sim de uma nova vida.

Nicodemos não precisava de religião, precisava de vida – vida espiritual. O que acontece no novo nascimento é que surge uma vida que não existia antes. Uma nova vida começa no momento do novo nascimento. Não se trata de uma atividade religiosa, de disciplina ou de decisão. Trata-se do surgimento de uma vida.

2. O que acontece no novo nascimento não é meramente uma afirmação do caráter sobrenatural de Jesus, e sim o experimentarmos o sobrenatural em nós mesmos.

Ninguém é salvo por ver sinais e maravilhas e encantar-se com eles, nem por dar crédito àquele que fez os milagres, afirmando que ele veio de Deus. Esse é um dos grandes perigos de sinais e maravilhas: não preciso de um coração novo para ficar encantado com eles. [...] Em outras palavras, o que importa não é a mera afirmação do caráter sobrenatural de Jesus, e sim experimentar em si mesmo o sobrenatural. [...] Então, Nicodemos, disse Jesus, o que acontece no novo nascimento não é meramente uma afirmação do meu caráter sobrenatural, e sim o experimentar o sobrenatural em você mesmo. [...] No novo nascimento, o Espírito Santo nos dá, sobrenaturalmente, uma nova vida espiritual por unir-nos a Jesus Cristo, mediante a fé, pois Jesus é a vida.

3. O que acontece no novo nascimento não é uma melhoria da velha natureza humana, e sim a criação de uma nova natureza humana – uma natureza que é realmente você, uma natureza perdoada, purificada, realmente nova, que está sendo formada pelo Espírito de Deus, que habita em você.

No novo nascimento, o Espírito Santo nos dá, sobrenaturalmente, uma nova vida espiritual por unir-nos a Jesus Cristo, mediante a fé. Em outras palavras, o Espírito nos une a Cristo em quem há purificação para os nossos pecados (ilustrada pela água) e substitui nosso coração empedernido e indiferente por um coração brando que valoriza Jesus acima de todas as coisas e está sendo transformado, pela presença do Espírito, num coração que ama fazer a vontade de Deus (Ez 36.27).


Características homem que não experimentou o novo nascimento


1. Estamos mortos em delitos e pecados (Ef 2.1-2).

Estamos mortos no sentido de que não podemos ver a glória de Cristo e experimentá-la. Estamos espiritualmente mortos.

2. Somos, por natureza, filhos da ira (Ef 2.3).

Não são as minhas ações, nem as circunstâncias, nem as pessoas em minha vida. A minha natureza é o meu problema pessoal mais profundo. A verdade não é que no começo eu tinha uma boa natureza, depois fiz coisas ruins e consegui uma natureza má. “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Nossa natureza é tão rebelde, tão egoísta e tão insensível à majestade de Deus, que a sua santa ira é uma reação natural e correta para nós.

3. Amamos as trevas e odiamos a luz (Jo 3.19-20).

Não somos neutros quando a luz espiritual se aproxima. Nós lhe resistimos. E não somos neutros quando as trevas espirituais nos envolvem. Nós as abraçamos.

4. Nosso coração é duro como pedra (Ez 36.26; Ef 4.18).

Nossa ignorância é uma ignorância culpada, não é uma ignorância inocente. Está arraigada em corações endurecidos e resistentes.

5. Somos incapazes de nos submeter a Deus ou de agradar-Lhe (Rm 8.7-8).

Nossa mente é tão resistente à autoridade de Deus, que não nos submetemos, nem podemos nos submeter a Ele. E, se não podemos nos submeter a Ele, não podemos agradar-Lhe.

6. Somos incapazes de aceitar o evangelho (Ef 4.18; 1 Co 2.14).

O problema não é que as coisas de Deus estão acima da compreensão do homem natural. O problema é que ele as vê como loucura. Perceba que esse “não pode” é moral, e não físico. A pessoa não-regenerada não pode porque não quer. Sua preferência pelo pecado é tão forte, que ela não pode escolher o bem. É uma escravidão verdadeira e terrível, mas não inocente.

7. Somos incapazes de buscar a Cristo ou de aceitá-lo como Senhor (Jo 6.44, 65; 1 Co 12.3).

É moralmente impossível ao coração morto, obscurecido, mau e resistente celebrar o domínio de Jesus sobre sua vida sem que tenha nascido de novo.

8. Sem o novo nascimento, somos escravos do pecado. (Rm. 6.17)

Amávamos tanto o pecado que não podíamos abandoná-lo ou mortificá-lo.

9. Sem o novo nascimento, somos escravos de Satanás. (Ef. 2.1-2; 2 Tm. 2.24-26)

A característica peculiar de pessoas não-regeneradas é que seus desejos e escolhas estão em harmonia com o príncipe da potestade do ar.

10. Sem o novo nascimento, não habita bem nenhum em nós. (Rm. 7.18)

Quando as pessoas usam tudo que Deus fez sem confiar em sua graça e sem o objetivo de glorificá-Lo, elas desonram a criação de Deus. Fazem da criação um instrumento de incredulidade e destroem-na.

Essas são as dez características de nossa condição sem o novo nascimento. Essa é a razão por que temos de ser nascidos de novo. Sem o novo nascimento, nossa condição é desesperadora, e não podemos mudá-la com melhoria moral. Pessoas mortas não melhoram. Antes de acontecer-lhes qualquer outra coisa, pessoas mortas precisam receber vida, precisam nascer de novo.


O que acontece se nascermos de novo?

1. Com o novo nascimento, teremos a fé salvífica, não a incredulidade (Jo 1.11-13; 1 Jo 5.1; Ef 2.8-9; Fp 1.29; 1 Tm 1.14; 2 Tm 1.3).

Quando Deus nos faz nascer de novo, a fé salvífica é despertada, e somos unidos a Cristo. “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus” (1 Jo 5.1). O versículo não diz: será nascido de Deus. Antes, diz: é nascido de Deus. Nossa primeira fé é a centelha de vida que vem por meio do novo nascimento.

2. Com o novo nascimento, seremos justificados, e não condenados (Rm 8.1; 2 Co 5.21; Gl 2.17; Fp 3.9).

Quando o novo nascimento desperta a fé e nos une a Cristo, somos justificados – ou seja, somos tornados justos – por meio da fé. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). O novo nascimento desperta a fé, que olha para Cristo a fim de obter justiça, e Deus nos imputa a justiça fundamentado apenas em Cristo, tão-somente por meio da fé.

3. Com o novo nascimento, seremos filhos de Deus, e não filhos do diabo (1 Jo 3.9-10).

Quando o novo nascimento desperta a fé e nos une a Cristo, todos os obstáculos legais que nos impediam de ser aceitos por Deus são removidos por meio da justificação. Assim, Deus nos adota em sua família e nos conforma à imagem de seu Filho. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.12-13). Nascemos de novo, da parte de Deus, não da vontade do homem. Cremos em Cristo, e O recebemos, e Deus nos torna seus herdeiros legais e seus filhos espirituais.

4. Com o novo nascimento, produziremos frutos de amor por meio do Espírito Santo, e não produziremos frutos de morte (Rm 6.20–21; 7.4–6; 15.16; 1 Co 1.2; 2 Co 5.17; Ef 2.10; Gl 5.6; 2 Ts 2.13; 1 Pe 1.2; 1 Jo 3.14).

Quando o novo nascimento desperta a fé e somos unidos a Cristo, e toda a condenação é substituída pela justificação, e o Espírito de adoção entra em nossa vida, Ele produz o fruto do amor. Considere Gálatas 5.6: “Em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor”; e 1 João 3.14: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos”. Onde existe novo nascimento, existe amor.

5. Com o novo nascimento, teremos a alegria eterna na comunhão com Deus; ao invés de termos miséria eterna, juntamente com o diabo e seus anjos (Mt 25.41; Jo 3.3; Rm 6.23; Ap 2.11; 20.15).

Finalmente, quando o novo nascimento desperta a fé, nos une a Cristo (que é a nossa justiça) e outorga o poder santificador do Espírito Santo, estamos no caminho estreito que conduz ao céu. E o auge das alegrias celestes será a eterna comunhão com Deus. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). O clímax da alegria de nossa nova vida é o próprio Deus.

Tudo isso é o que ganharemos se nascermos de novo. A razão por que temos de nascer de novo não é somente que sem o novo nascimento estamos mortos, mas também que sem ele perdemos para sempre tudo que é bom. Foi por isso que Jesus disse: “Importa-vos nascer de novo” (Jo 3.3, 7).

Extraído do site: www.voltemosaoevangelho.com , com alterações. Trechos do livro "Finalmente Vivos".


quinta-feira, 14 de abril de 2011

SÉRIE: OS ATRIBUTOS DE DEUS - A SANTIDADE DE DEUS

Por A. W. Pink


"Quem te não temerá, ó Senhor e não magnificará o teu nome? Porque só tu és santo..." (Apocalipse 15:4). Somente Ele é independente, infinita e imutavelmente santo. Muitas vezes Ele é intitulado "O Santo" nas Escrituras. Sim, porque se acha nEle a soma total de todas as excelências morais, Ele é pureza absoluta, que nem mesmo a sombra do pecado mancha. "... Deus é luz...” (1 João 1:5). A santidade é a excelência propriamente dita da natureza divina: o grande Deus é "... glorificado em santidade ...” (Êxodo 15:11). Daí lermos: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a vexação não podes contemplar..." (Habacuque 1:15). Como o poder de Deus é o oposto da fraqueza inata da criatura, como a Sua sabedoria está em contraste com o menor defeito de entendimento ou com a menor insensatez, assim a Sua santidade é a própria antítese de toda mancha ou corrupção moral. No passado Deus designou cantores em Israel para "que louvassem a Majestade santa", ou, na versão utilizada pelo autor, "que louvassem a beleza da santidade" (2 Crônicas 20:21). "O poder á a mão ou o braço de, Jesus, a onisciência os Seus olhos, a misericórdia as Suas entranhas, a eternidade a Sua duração, mas a santidade é a Sua beleza" (S. Charnock). É isto Que, acima de tudo. torna-O amorável aos que foram libertos do domínio do pecador.

Grande ênfase é dada a esta perfeição de Deus. "Deus é com mais freqüência intitulado Santo do que Onipotente, e é mais exposto por esta parte da Sua dignidade do que por qualquer outra. É fixada ao Seu nome como um (epitéto) mais do que qualquer outra, Você jamais o vê expresso,"Seu poderoso nome" ou "Seu sábio nome", mas Seu grande nome e, acima de tudo, Seu santo nome. Este é o maior título de honrar neste último transparecem a majestade e a venerabilidade do Seu nome"; (S. Charnock). Como nenhuma outra, esta perfeição é celebrada diante do trono do céu, bradando os serafins: "... Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos..." (Isaías 6:3), Deus mesmo coloca em distinção esta perfeição: "Uma vez jurei por minha santidade que não mentirei a Davi" (Salmo 89:35). Deus jura por Sua "santidade porque esta é uma expressão do Seu ser, expressão mais completa que qualquer outra coisa. Eis porque somos exortados: "Cantai ao Senhor, vós que sois seus santos, e celebrai a memória da sua santidade" (Salmo 30:4). "Pode-se dizer que este atributo é transcendental e que, por assim dizer, permeia os demais e lhes dá brilho, É o atributo dos atributos" (J. Howe, 1670). Assim, lemos sobre "... a formosura do Senhor. ,." (Salmo 27:4), que não é outra que "... a beleza da santidade.. ." (Salmo 110:3).

"Visto que esta excelência parece se colocar acima dê todas as outras perfeições de Deus, assim ela constitui a glória destas; como é a glória da Deidade, assim é a glória de cada uma das perfeições da Deidade; como o poder de Deus é a energia das Suas perfeições, a Sua santidade é a beleza delas: como todas seriam fracas sem a onipotência divina para sustentá-las, seriam todas desgraciosas sem a santidade para adorná-las. Se esta se maculasse, todas as demais perderiam a sua honra; seria como se o sol perdesse a sua luz — no mesmo instante perderia seu calor, seu poder, sua virtude geradora e vivificante. Como no cristão a sinceridade é o brilho de todas as graças, em Deus a pureza é o esplendor de todos os Seus atributos, Sua justiça é santa. Sua sabedoria é santa. Seu braço poderoso é um "braço santo" (Salmo 98:1), Sua verdade ou palavra é uma "santa palavra" (Salmo 105:42). Seu nome, que expressa todos os Seus atributos juntos, é "santo" (Salmo 103:1)" (S. Charnock).

A santidade de Deus se manifesta em Suas obras. "Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras" (Salmo 145:17), Nada senão o que é excelente pode proceder dEle. A santidade é o padrão de todas as Suas ações. No princípio Ele declarou que tudo o que tinha feito '"era muito bom" (Gênesis 1:31), e não poderia ter feito o que fez se nisso houvesse algo imperfeito ou impuro. O homem foi feito "reto" (Eclesiastes 7:29), à imagem e semelhança do seu Criador. Os anjos que caíram foram criados santos, pois se nos diz que "... não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação..." (Judas 6). Sobre Satanás está escrito: "Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em, que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti" (Ezequiel 28:15).

A santidade de Deus se manifesta em Sua lei. Essa lei proíbe o pecado em todas as suas variantes — nas suas modalidades mais refinadas, e nas mais grosseiras, os intentos da mente, como a contaminação do corpo, o desejo secreto como o ato abertamente praticado. Pelo que lemos: "... a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" (Romanos 7:12). Sim, "... o mandamento do Senhor é puro, e alumia os olhos. O temor do Senhor é limpo e permanece eternamente, os juízos do Senhor são verdadeiros e justos juntamente" (Salmo 19:8-9).

A santidade de Deus se manifesta na cruz. De maneira espantosa, e, contudo, a mais solene, a expiação demonstra a santidade infinita de Deus e Seu ódio ao pecado. Quão odioso para Deus "há de ser o pecado, a ponto de castigá-lo até ao limite extremo do seu merecimento, quando o imputou ao Seu Filho! "Nem todos os vasos do juízo já derramados ou por derramar sobre o mundo ímpio, nem a chama ardente da consciência do pecador, e nem a sentença irrevogável pronunciada contra os demônios rebeldes, nem o gemido das criaturas condenadas demonstram o ódio de Deus ao pecado, como o demonstra a ira de Deus derramada sobre o Seu Filho. Nunca a santidade divina parece mais bela e mais amorável do que na hora em que o semblante do Salvador ficou por demais desfigurado em meio aos estertores da Sua agonia mortal. Ele próprio o reconhece no Salmo 22. Quando o Senhor afastou dEle o Seu risonho rosto e Lhe fincou no coração aguda faca, provocando Seu terrível brado, "Deus meu, Deu meu, por que me abandonaste?" (vers. 1). Ele adora esta perfeição — "Tu és santo" (vers. 3) S. Charnock.

Desde que Deus é santo, Ele odeia todo e qualquer pecado. Ele ama tudo quanto está em conformidade com as Suas leis, e detesta tudo que lhes é contrário. Sua Palavra declara expressamente: "... o perverso é abominação para o Senhor...” (Provérbios 3:32), E ainda: "Abomináveis são para o Senhor os pensamentos do mau., .." (Provérbios 15:26). Segue-se, pois, que Ele necessariamente tem que punir o pecado. Do mesmo modo como o pecado requer a punição por Deus, exige também o Seu ódio. Deus perdoa muitas vezes o pecador; nunca, porém, perdoa o pecado; e o pecador só é perdoado com base no fato de que Outro levou sobre Si o castigo que lhe era devido; sim, pois; “... sem derramamento de sangue não há remissão (Hebreus 9:22). Razão pela qual se nos diz: "... o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos" (Naum 1:2). Por um pecado Deus expulsou do Éden os nossos primeiros pais. Por um pecado toda a posteridade de Cão caiu sob maldição que permanece sobre ela até o dia de hoje. Por um pecado Moisés foi impedido de entrar em Canaã, o servo de Eliseu foi castigado com lepra, Ananias e Safira foram eliminados da terra dos viventes.

Temos aqui prova da divina inspiração das Escrituras. Os não regenerados não crêem realmente na santidade de Deus. O conceito que eles têm do caráter de Deus é inteiramente unilateral. Eles esperam de coração que a Sua misericórdia sobrepuje tudo mais. "... pensavas que era como tu..."
(Salmo 50:21) é a acusação que Deus lhes faz. Eles pensam somente num "deus" segundo o padrão dos seus corações maus. Daí permanecerem eles no caminho de uma exacerbada insensatez. A santidade atribuída pelas Escrituras à natureza e ao caráter de Deus é tal, que demonstra com clareza a sua origem super-humana. O caráter atribuído aos deuses dos antigos e do, paganismo moderno é justamente o inverso daquela imaculada pureza que pertence ao Deus verdadeiro. Um Deus inefavelmente santo, que tem a mais intensa aversão a todo pecado, jamais foi inventado por um dos decaídos descendentes de Adão. O fato é que nada torna mais manifesta a terrível depravação do coração do homem e a sua inimizade contra o Deus vivo, do que expor diante dele Aquele Ser único que é infinita e imutavelmente santo. A ideia que o homem faz de pecado limita-se praticamente ao que o mundo chama de "crime''. Tudo que fica aquém disso pode ser abrandado como "defeitos", "'enganos", "'fraquezas” etc. E mesmo quando se admite a existência do pecado apresentam-se escusas e atenuantes.

"O "deus" que a imensa maioria dos cristãos professos "ama" é visto como alguém muito parecido com um ancião indulgente, que pessoalmente não tem prazer nas loucuras, mas tolerantemente fecha os olhos para as "indiscrições" da mocidade. Mas a Palavra diz: “... aborreces a iodos os que praticam a maldade” (Salmo 5:5). E mais: "Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias" (Salmo 7:11). Mas os homens se recusam a dar crédito a este Deus e rangem os dentes quando o Seu ódio ao pecado lhes é enfática e fielmente apresentado. Não, como o homem preso ao pecado jamais teria criado o lago de fogo no qual seria atormentado para todo o sempre, muito menos haveria a probabilidade dele inventar um Deus santo.

Sendo que Deus é santo, a aceitação da parte dEle, com base nas ações das criaturas, é completamente impossível. Uma criatura caída pode mais facilmente criar um mundo, do que produzir algo capaz de receber aprovação dAquele que é pureza infinita. Podem as trevas morar com a luz? Pode o Ser imaculado sentir prazer com o "trapo da imundícia"? (Isaías 64:6) O melhor que o homem pecador pode produzir vem manchado. Uma árvore contaminada não pode dar bom fruto. Deus se negaria a Si próprio, envileceria as Suas perfeições, se tivesse por justo e santo aquilo que não o é em si mesmo; e nada é santo, desde que tenha a mínima mancha do que seja contrário à natureza de Deus. Mas, bendito seja o Seu nome, pois, aquilo que a Sua santidade exigiu, a Sua graça supriu em Cristo Jesus, nosso Senhor! Todo pobre pecador que correu para Ele em busca de "refúgio, foi e permanece aceito "no Amado" (Efésios 1:6). Aleluia!

Posto que Deus é santo requer-se de nós que nos aproximemos dEle com a máxima reverência. "Deus deve ser em extremo tremendo na assembléia dos santos, e grandemente reverenciado por todos os que o cercam'" (Salmo 89:7), Portanto, "Exaltai ao Senhor nosso Deus, e prostrai-vos diante do escabelo de seus pés, porque ele ê santo" (Salmo 99:5). Sim, “diante do escabelo dos seus pés", na postura da mais profunda humildade, prostrai-vos. Quando Moisés ia aproximar-se da sarça ardente, disse Deus: "... tira os teus sapatos de teus pés ... " (Êxodo 3:5), É preciso servi-lO "com temor" (Salmo 2:11). A exigência que Deus fez a Israel foi: "... serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo...” (Levítico 10:3), Quanto mais tomados de temor ficarmos por Sua inefável santidade, mais aceitável será o nosso acesso a Ele.

Visto que Deus é santo, devemos querer amoldar-nos a Ele. Seu mandamento é: “...sede santos, porque eu sou santo" (1 Pedro 1:16). Não somos obrigados a ser onipotentes ou oniscientes como Deus ê, mas temos que ser santos, e isto em toda a nossa "... maneira de viver" (1 Pedro 1:15). "Esta é a maneira primordial de honrar a Deus. Glorificamos a Deus pelas atitudes de elevada admiração, pelas expressões eloqüentes, pelos pomposos serviços de adoração, mas não tanto como quando aspiramos a conversar com Ele com espírito livre de mácula, e a viver para Ele vivendo como Ele vive" (S. Charnock). Então, como só Deus é a origem e a fonte da santidade, busquemos zelosamente dEIe a santidade; seja a nossa oração diária no sentido de que Ele nos "... santifique em tudo ..." ; e todo o nosso "espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Tessalonicenses 5:23).


Retirado do livro "Os Atributos de Deus"