sexta-feira, 10 de junho de 2011

FOME E SEDE DE JUSTIÇA


Por J. Wight Pentecost

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Mateus 5:6

Por que é que alguns cristãos continuam bebês espirituais enquanto outros avançam na direção da maturidade? Às vezes pensamos que se deve a diferenças de personalidade, pois alguns parecem mais religiosos do que outros e mais desejosos das coisas do espírito. Às vezes achamos que a diferença reside na salvação do homem ou em sua experiência com Cristo, pois alguns se chafurdaram no pecado e foram retirados de suas profundezas, e alcançaram maturidade espiritual devido a essa grande transformação. Pensam outros que por causa de treinamento cedo ― criados num lar cristão e aprendendo de Cristo desde os primeiros anos ― os homens se tornam mais espirituais.

Voltando-nos, porém, para a Bem-aventurança de Mateus 5:6 entendemos o segredo do gigante espiritual. Nosso Senhor disse: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos." Ele declarou que o segredo do crescimento espiritual está no apetite espiritual. Os que comem pouco, pouco crescerão; os que comem muito, muito crescerão. Os que têm apetite voraz pela Palavra de Deus e pela Pessoa de Jesus Cristo; que satisfazem esse apetite alimentando-se da Palavra e comungando com o Senhor, esses crescerão em maturidade espiritual; tornam-se gigantes espirituais.

Um médico pode dizer muito sobre o progresso de seus pacientes conhecendo quanto e o que comem. O desenvolvimento físico relaciona-se com o apetite físico. Não é menos verdadeiro no campo espiritual. O crescimento, o desenvolvimento e a saúde espirituais estão inseparavelmente unidos ao apetite espiritual.

Este princípio acha-se exemplificado no testemunho de alguns gigantes espirituais cuja vida está registrada na Palavra de Deus; eles nos contam os segredos de seus corações. Examinemos primeiro a experiência de Moisés. Ele fora chamado ao monte Sinai onde Deus lhe fez a maior revelação de si mesmo; a nenhum homem, desde a queda de Adão, o Senhor se revelara assim. Deus revelou sua santidade a Moisés para que ele a comunicasse aos filhos de Israel. Depois de algum tempo passado no monte, onde ele havia contemplado a glória de Deus, em obediência à ordem divina Moisés erigiu o tabernáculo. Terminada a obra, Moisés entrou no tabernáculo, e na presença de Deus. Ali ele fez um pedido que revela o profundo anseio de seu coração: "Agora, pois, se achei graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça" (Êxodo 33:13).

E mais adiante: "Rogo-te que me mostres a tua glória" (v. 18). Tudo o que Deus havia revelado de si mesmo a Moisés, em vez de satisfazer-lhe, criou nele uma profunda fome de conhecer mais da Pessoa que o levara a tal relacionamento. Ele não proferiu uma oração de ações de graça: "Louvo-te e te dou graças pelo que me revelaste"; sua oração expressava o anseio do coração: "Rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça ... Rogo-te que me mostres a tua glória." Em resposta ao pedido de Moisés, Deus o coloca numa fenda da penha. Para que Moisés não fosse consumido pelo brilho da glória divina, o Senhor interpôs sua mão entre sua glória e Moisés. Protegido pela mão de Deus, o anseio de Moisés foi satisfeito: a glória de Deus foi-lhe revelada. Essa revelação veio em resposta à fome, ao anseio do coração de Moisés de saber mais. "Rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça... Rogo-te que me mostres a tua glória."

Davi andou em tão íntima comunhão com Deus que pôde escrever os salmos que têm servido de consolo aos santos sofredores através dos séculos, e os têm guiado em sua adoração até aos nossos dias. Ele se havia aprofundado nas coisas do coração de Deus, de sorte que podia dizer: "O Senhor é o meu pastor: nada me faltará" (Salmo 23:1). Ele testificou da proximidade de Deus enquanto percorria os caminhos da vida. Entretanto, no Salmo 42, Davi falou do anseio de seu coração: "Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" (vv. 1, 2). Como a corça, perseguida por inimigos naturais, levada ao ponto da exaustão, sente em cada fibra de seu organismo a necessidade de água refrescante, assim, disse Davi, "A minha alma tem sede de Deus". De novo, no salmo 63, ele declarou a mesma verdade: "Ó Deus, tu és o meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, numa terra árida, exausta, sem água. Assim eu te contemplo no santuário, para ver a tua força e a tua glória" (vv. 1 -2). O salmista aprofundou-se no coração de Deus, não porque fosse naturalmente religioso, nem por causa de alguma circunstância em sua vida. Ele aprofundou-se no conhecimento de Deus, e na experiência com ele, porque o Senhor lhe satisfazia a fome do coração.

No capítulo 3 da carta aos Filipenses, Paulo relembra as grandes bênçãos que encontrou ao conhecer a Jesus, bênçãos que suplantavam tudo o que se podia conhecer no judaísmo. Muito embora Paulo se lembrasse de um ministério no qual levou a luz de Cristo ao império romano, ele
clamou: "Para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos" (v. 10). Para o conhecer. Paulo não estava satisfeito com o resultado de seu ministério, e o fruto dos seus esforços não lhe dava satisfação. Seu coração não se satisfazia com a atividade; sua felicidade
estava na comunhão com uma Pessoa. Uma das tragédias de nosso tempo é que os homens se perdem em atividades e se satisfazem mantendo-se ocupados. Paulo disse que não era a atividade do ministério que o satisfazia, mas a comunhão com uma Pessoa. O anseio de seu coração era que ele pudesse aprofundar-se mais e mais nas coisas de Deus.

Era esta a preocupação de Pedro, ao escrever às ovelhas do seu rebanho espiritual: "Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento" (1 Pedro 2:2). Em sua segunda carta, ele ordenou; "Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (3:18).. Pedro colocou sobre os filhos de Deus a responsabilidade de passar da infância e imaturidade espiritual para a maturidade e vida adulta. Mas Pedro disse que o crescimento depende do apetite. "Desejai ardentemente ... o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento." A Palavra de Deus devia ser para a alma o que o alimento é para o corpo. Como a perda de apetite indica um grave problema físico, assim a perda do apetite espiritual indica um sério problema no campo espiritual.

O autor da carta aos Hebreus escreveu a um grupo de crentes salvos havia muito tempo. Tinham enfrentado sofrimentos por amor a Cristo e estavam fundamentados na Palavra de Deus ao ponto de se qualificarem como mestres. Mas, segundo Hebreus 5:11-14, negligenciaram a Palavra e o conhecimento da verdade de Cristo que outrora possuíram, e regrediram à infância ou, como preferem alguns, à senilidade espiritual. Qualquer filho de Deus que negligencia a Palavra divina defronta-se com esse perigo. Nenhuma situação preocupa tanto o coração do pastor como verificar o desenvolvimento do retrocesso espiritual na vida de alguém. Penso nos que vieram a conhecer a Jesus Cristo como Salvador pessoal mediante o ministério da Palavra, os quais demonstraram a autenticidade de sua salvação por meio daquilo que parecia uma fome insaciável da Palavra de Deus. O desejo de alimentar-se deste Pão vivo trazia-os com fidelidade e expectação a todos os cultos. Pediam ao pastor que lhes recomendasse livros para estudo. Com freqüência o telefone do pastor tocava cedo de manhã ou tarde da noite, porque alguém encontrara na Palavra algo que não conseguira entender; e o recurso era telefonar ao pastor pedindo que lhes explicasse o texto. Davam prova de que estavam crescendo nas coisas do Senhor.

Algum tempo depois os telefonemas começaram a diminuir; as reuniões de oração já não se realizavam. Oh, sim, estavam na igreja domingo de manhã e de noite, mas o apetite perdera o vigor. Logo mais, um só culto por semana lhes dá tudo aquilo que sentem necessitar; mais tarde se satisfazem com um comparecimento esporádico. Têm apetites que necessitam ser satisfeitos, mas não o estão sendo pela Palavra. Abrem os ouvidos e os olhos ao que não é alimento e permitem que isto lhes entre na vida. Dão a si mesmos aquilo que nunca pode satisfazer. Enterram-se em tantas atividades e deixam fora Jesus Cristo e a Palavra de Deus. Estabelece-se o retrocesso espiritual. A perda do apetite espiritual é sintoma da gravíssima situação que um filho de Deus pode enfrentar.

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos." Se o Espírito o convenceu, diante de Deus, de que seu apetite perdeu a força, ou, possivelmente, o apetite se foi, com base na autoridade da Palavra dizemos-lhe que não pode haver e não haverá crescimento espiritual, desenvolvimento, alegria em sua experiência cristã, poder em sua vida enquanto você não voltar à Palavra de Deus e à Pessoa de Jesus Cristo, e cultivar de novo aquele apetite que se embotou ou perdeu. Ouça de novo o grito do coração dos gigantes: "Rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça." "Como a corça suspira pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma." "Para o conhecer." "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos."


Retirado do livro "O Sermão da Montanha".

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