quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SÉRIE: AMOR SEM MEDIDAS - PARTE 1

Por Charles C. Spurgeon


“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna.” João 3:16.(ACF)

Hoje temos que falar acerca do amor de Deus: “Deus amou o mundo de tal maneira”. Esse amor de Deus é uma coisa muito maravilhosa, especialmente quando o vemos derramado sobre um mundo perdido, arruinado, culpado. O que havia no mundo para que Deus o amasse dessa maneira? Não havia nada amável nele. Nenhuma flor perfumada crescia neste árido deserto. Inimizade contra Ele, ódio pela Sua verdade, desprezo pela Sua lei, rebelião contra Seus mandamentos; esses eram os espinhos e sarças que cobriam a terra baldia; nenhuma coisa desejável florescia ali.

Entretanto, o texto nos diz que: “Deus amou o mundo.” O amou “de tal maneira” que nem mesmo o escritor do livro de João poderia quantificá-lo; mas o amou de uma maneira tão grande, tão divina, que deu o Seu Filho, Seu único Filho, para que redimisse o mundo de perecer, e para que juntasse do mundo um povo para Seu louvor.

De onde veio esse amor? Não de nada externo ao próprio Deus. O amor de Deus surge dEle mesmo. Ele ama porque fazê-lo é a Sua natureza. “Deus é amor”. Conforme mencionei, nada sobre a face da terra pode ter merecido o Seu amor. Ao contrário, havia muito que merecia Seu desagrado. Esta corrente de amor flui de Sua própria fonte secreta na Deidade eterna, e não deve nada a nenhuma chuva procedente da terra, nem a nenhum riacho; brota de debaixo do trono eterno, e se abastece das fontes do infinito. Deus amou porque Ele quis amar. Quando nos perguntamos por que Deus amou esse ou aquele homem, temos que regressar à resposta de nosso Salvador a essa pergunta: “Sim, Pai, porque assim lhe agradou” Deus tem tal amor em Sua natureza que precisa deixá-lo fluir em direção a um mundo que está perecendo por causa de seu próprio pecado voluntário. E quando fluiu era tão profundo, tão largo, tão forte, que nem sequer a inspiração podia calcular sua medida e, portanto, o Espírito Santo nos deu essas grandiosas palavras, DE TAL MANEIRA, deixando que intentemos medi-lo, conforme vamos percebendo mais e mais esse amor divino.

Agora, houve uma ocasião na qual o grandioso Deus quis manifestar Seu amor sem medida. O mundo tristemente havia se extraviado, havia perdido a si mesmo; o mundo foi julgado e condenado; foi entregue a perecer, por causa de suas ofensas; e tinha necessidade de ajuda. A queda de Adão e a destruição da humanidade abriram um amplo espaço, assim como suficiente margem para o amor Todo Poderoso. Em meio às ruínas da humanidade, tinha espaço para mostrar quanto Jeová amava os filhos dos homens; pois o alcance do Seu amor abarcava o mundo, o objeto desse amor era precisamente resgatar os homens para que não caíssem no abismo, e o resultado desse amor foi encontrar um resgate para eles.

O propósito específico desse amor era tanto negativo quanto positivo; era que, crendo em Jesus, os homens não perecessem, mas que alcançassem a vida eterna. A desesperada enfermidade do homem foi o motivo da introdução desse remédio divino que unicamente Deus poderia ter planejado e ministrado. Por meio do plano de misericórdia, e do grandioso dom que se requeria para levar a cabo esse plano, o Senhor encontrou o meio para manifestar seu amor sem limite aos homens culpados.

Se não houvesse existido nenhuma queda, e nenhuma morte, Deus poderia nos mostrar o Seu amor da mesma maneira que faz com os espíritos puros e perfeitos que rodeiam Seu trono.

Entretanto, jamais poderia mostrar Seu amor a nós de tal maneira especial como agora o faz. Na dádiva de Seu Filho unigênito, Deus revela Seu amor para conosco, na medida em que, sendo nós ainda pecadores, a seu tempo morreu Cristo pelos ímpios.

O fundo negro do pecado faz ressaltar muito mais claramente o fulgor da linha do amor. Quando o relâmpago escreve com dedos de fogo o nome do Senhor na amplidão da escura face da tempestade, nos achamos forçados a vê-Lo; assim também o quando o amor inscreve a cruz sobre as negras tábuas de nosso pecado, ainda os olhos que não podem ver estão obrigados a ver que “Nisto consiste o amor.”

I. A primeira consideração é o DOM: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito.” Os homens que amam muito estão prontos a dar muito, e usualmente podem medir a verdade deste amor através de seus sacrifícios e renúncias. Esse amor que não guarda nada para si, mas se esgota em ajudar e abençoar o seu objeto, e o verdadeiro amor, e não apenas um amor de nome. O pouco amor se esquece de trazer água para lavar os pés, mas o grande amor quebra o vaso de alabastro e derrama seu valioso perfume.

Então considerem qual foi o dom que Deus deu. Não poderia encontrar a expressão correta se tentasse explicar completamente o que é esta bênção que não tem preço; e não vou arriscar-me a fracassar ao tentar o impossível. Unicamente vou convidá-los a pensar na sagrada Pessoa que foi dada pelo Pai para demonstrar Seu amor para com os homens. Tratava-se do Seu unigênito Filho: Seu Filho amado, em quem tinha Sua complacência.

Nenhum de nós teve um filho assim para dá-lo. Nossos filhos são filhos de homens; o dEle era Filho de Deus. O Pai deu parte de Si mesmo, Ele que era Um com Ele. Quando o grandioso Deus deu a Seu Filho estava dando a Si próprio, pois Jesus, em sua natureza eterna não é menos que Deus. Quando Deus deu a Deus por nossa causa, estava se dando a Si mesmo. Quem pode medir este amor?

Vocês que são pais, julguem o quanto amam a seus filhos: poderiam entregá-los à morte por causa de seus inimigos? Vocês que têm um filho único, julguem quão entrelaçados estão seus corações ao seu primogênito, ao seu unigênito filho. Não houve uma maior prova do amor de Abraão a Deus do que quando não vacilou em entregar-Lhe seu filho, seu único filho, seu Isaque amado; e certamente não pode haver uma maior manifestação de amor que a do Eterno Pai, ao entregar o Seu unigênito Filho à morte por nós.

Nenhum ser vivente está disposto a perder a sua prole; o homem sofre uma dor muito aguda quando perde um filho. Acaso Deus não o sofre ainda mais? Há uma história muito popular relativa ao carinho de uns certos pais para com seus filhos. A história relata que houve fome na terra, no Leste, e que um pai e uma mãe se viram sem absolutamente nada para comer, e a única possibilidade de preservar a vida da família seria vender um dos filhos para que fosse escravo. Então os pais consideraram o assunto. O tormento de fome se tornou intolerável, e as súplicas de seus filhos pedindo pão puxavam dolorosamente as cordas de seus corações de tal maneira, que tiveram que retomar seriamente a idéia de vender a um deles, para salvar a vida de todos os demais. Tinham quatro filhos. Qual deles deveria ser vendido? Certamente não devia ser o maior: como poderiam desfazer-se de seu primogênito? O segundo, era tão parecido com seu pai que parecia uma miniatura dele, e a mãe disse que ela nunca se separaria dele. O terceiro era tão singularmente como sua mãe que o pai disse que preferiria morrer antes que este querido filho se convertesse em um escravo; e com relação ao quarto filho, ele era o Benjamim, seu caçula, seu amado filho, e não podiam separar-se dele. Finalmente concluíram que seria melhor morrerem todos juntos para não terem que separar-se voluntariamente de algum de seus filhos.

Vocês não simpatizam com esses pais? Vejo que simpatizam sim. Contudo, Deus nos amou de tal maneira que, para dizê-lo com muita ênfase, pareceria que nos amou mais que a Seu único Filho e não livrou a Ele, para perdoar-nos. Deus permitiu que entre todos os homens, Seu filho perecesse “para que todo aquele que nEle crê, não pereça, mas tenha vida eterna.”

Se desejarem ver o amor de Deus neste grande procedimento, devem considerar como Ele deu a Seu Filho. Ele não entregou a Seu Filho, como tu poderias fazer, a alguma profissão que teria como consequência desfrutar de sua companhia; senão que mandou o Seu Filho ao exílio entre os homens. O enviou à terra naquele presépio, unido em uma perfeita humanidade, que no princípio estava contida na forma de uma criança. Ali dormia, onde se alimentava um boi com longos chifres! O Senhor Deus enviou o herdeiro de todas as coisas para que trabalhasse na oficina de um carpinteiro: martelando pregos, usando o serrote, empunhando o pincel. O enviou no meio de escribas e fariseus, cujos olhos astutos O vigiavam e cujas línguas ferinas O açoitavam com calúnias vis. O enviou para a terra a fim de que passasse fome e sede, em meio a uma pobreza tão terrível que não tinha um lugar onde apoiar Sua cabeça. O enviou à terra para que O açoitassem e O coroassem de espinhos, e batessem nEle e O esbofeteassem. No fim, O entregou à morte: a morte de um criminoso, a morte do crucificado.

Continua...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SÉRIE: A IRRACIONALIDADE DA PREOCUPAÇÃO - PARTE 2


Por J. Dwight Pentecost


Em segundo lugar o Senhor apontou para as aves do céu. "Observai as aves do céu; não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não vaieis vós muito mais do que ás aves?" (Mateus 6:26). Ele chamou a atenção para o cuidado que Deus dispensa àquilo que criou. Quando Deus criou, ele assumiu a responsabilidade de prover o sustento de suas criaturas. Podemos confiar em que ele é fiel à sua obrigação.

Nossa ansiedade (v. 27) com relação às necessidades materiais não pode alongar nossos dias, porque Deus determinou o quinhão de nosso tempo.

O homem pode começar com previsão prudente a prover para o futuro, e a Palavra de Deus certamente não o proíbe. Muitos, porém, logo se excedem na previsão prudente, e fazem do dinheiro um fim em si mesmo, um deus a quem passam a servir. O Senhor não era contrário à provisão prudente para os dias futuros, mas proibiu-nos confiar naquilo que acumulamos como se esses bens pudessem alongar ou distribuir a duração de nossa vida. O homem pode abreviar seus dias pela preocupação, mas certamente não pode aumentá-los.

Em terceiro lugar, nosso Senhor demonstrou o cuidado de Deus revelado na natureza. "E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?" (vv. 28-30).

A flor do campo desabrocha exibindo sua beleza durante umas poucas horas, e desaparece. A flor é passageira, entretanto Deus prove para ela na criação. Se Deus prove para o que é passageiro, não provera para o que é eterno? Deus lhe deu vida e promete sustentá-lo enquanto você viver. Quando Deus trouxe você ao seio da família de Cristo como nova criatura, ele deu-lhe vida eterna. Deus se obrigou a sustentá-lo na vida eterna. Se Deus não abandona o lírio do campo que vive umas poucas horas, abandonará ele os que desejam habitar com ele para sempre?

Em quarto lugar, o Senhor mostrou que a ansiedade não convém ao filho de Deus. "Porque os gentios é que procuram todas estas coisas" (v. 32). O amor das coisas materiais é característica dos pagãos. A pessoa sem Deus deseja acumular porque as posses são a sua única segurança. Ela não tem nenhum deus a prover para si, nenhum deus em quem possa confiar. Portanto, o pagão sábio deve acumular tudo o que puder. O Senhor disse que quando a pessoa faz da busca dos bens materiais o alvo de sua vida e neles encontra segurança, se coloca no mesmo nível do pagão sem Deus. Mas aquilo que pode ser bom para o pagão, não serve para o filho de Deus.

Assim, "buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (v. 33). O que o Senhor disse é que o centro da vida para o filho de Deus, jamais devem ser as coisas materiais. O centro não são as coisas, mas uma Pessoa. "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça." "Para em todas as coisas ter [Jesus Cristo] a primazia" (Colossenses 1:18). Quando o filho de Deus faz da busca das coisas materiais o alvo de sua vida, ao ponto de ser por elas escravizado, sua vida está fora de centro. O que chegou a ter primazia em sua vida não a tem na mente de Deus. O filho de Deus deve fixar como alvo de sua vida buscar a justiça de Deus e não os bens materiais.

Finalmente o Senhor ressaltou que a preocupação com o futuro e com os bens materiais é inútil porque Deus nos dá um dia por vez. "Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã" (v. 34). Ele não nos proibiu fazer planos, mas disse que não temos necessidade hoje do alimento de amanhã. Portanto, não necessitamos de reserva suficiente hoje para comprar o alimento de amanhã, e pagar o aluguel de amanhã e as obrigações do próximo mês, porque Deus nos concede um dia por vez. "O amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal." Os homens medem as riquezas segundo o que temos hoje para muitos dias à frente. Essa perspectiva não é bíblica. A vida da fé não é confiar em que Deus nos dê hoje o de que iremos necessitar para o resto da vida. A vida da fé confia em que Deus nos dá hoje o de que precisamos hoje. Se temos tudo o de que precisamos hoje, somos ricos.

Ora, quando nosso Senhor apresentou esses motivos por que não devemos andar ansiosos pelas coisas materiais, mas buscar o reino de Deus e a sua justiça, ele chegou a uma conclusão: "Portanto [uma vez que esses motivos são verdadeiros], não vos inquieteis [não deis lugar à ansiedade], dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos?... pois vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas elas" (vv. 31-32). Você é filho dele, e ele assume a obrigação de cuidar não só de sua alma mas também de seu corpo. Ele lhe pede que confie, em vez de preocupar-se. O antídoto de Deus para a preocupação, ansiedade, amor às coisas materiais, é muito simples ― confiar num Deus fiel. Deus ainda não falhou com seus filhos. Portanto, não se escravize aos bens materiais de tal maneira que o amor a eles produza ansiedade em sua vida. Antes, confie em que o Pai amoroso cumprirá o que prometeu. "Meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Filipenses 4:19).

Não podemos servir ao senhor errado e experimentar a paz de Deus em nossa vida. Quando buscarmos a justiça de Cristo e confiarmos em que ele realize a sua perfeita vontade em nós, então estaremos livres da escravidão às coisas e livres de preocupar-nos com elas. Dê-nos Deus tal confiança nele que não andemos ansiosos.


Retirado do livro "O Sermão da Montanha".